Scott Olson/Getty Images/AFP
O Brasil não está na lista dos países mais vulneráveis aos eventos extremos causados pelas mudanças climáticas. Esta é a boa notícia... estamos mesmo merecendo alguma... Dados mais recentes, do ano passado, encontrados no relatório anual da empresa global de análise de risco Verisk Maplecroft mostram que 18 dos 20 países que correm grandes riscos, quer seja por conta de seca, tormentas ou elevação dos oceanos, estão na África Subsaariana e Ásia. No Oriente Médio, o Kuwait testemunhou o que poderia ser a maior temperatura já registrada na Terra em julho de 2016 (54 °C), enquanto a região que compreende Israel, Palestina, Jordânia, Líbano e Síria - está sofrendo com a pior seca em 900 anos.
Assim mesmo, sem estar na linha de fogo, tenho certeza de que muitos brasileiros que se sentem mais afetados pela questão das mudanças climáticas, certamente se incomodaram com a “última de Mr. Trump”. O presidente da nação mais rica e poderosa decidiu rever um relatório feito por cientistas antes que fosse publicado, provavelmente para coibir informações que levem as pessoas a perceberem a gravidade da situação que a humanidade está enfrentando. Segundo os cientistas de 13 agências federais, há um grau muito alto de confiança, entre eles, de que a mudança climática está relacionada à atividade humana. Mas, pelo menos até agora (nunca se sabe se um novo posicionamento será divulgado via redes sociais, como é de seu estilo), Trump tem se posicionado como cético do clima.
Não é “apenas” (por favor, atentem para as aspas) para salvar a biodiversidade e tentar livrar os oceanos do processo galopante de acidificação que se acredita serem importantes os relatórios como esse que acaba de ser descoberto pelo “The New York Times”. É também para nortear políticas públicas eficazes que possam diminuir os impactos do aquecimento global às pessoas, sobretudo às mais vulneráveis. Segundo a Verisk Maplecroft descobriu, depois de muitas pesquisas, há ainda um incômodo link entre mudanças climáticas, insegurança alimentar e a amplificação de riscos de conflitos civis em 32 países, “incluindo os mercados emergentes de Bangladesh, Etiópia, Índia, Nigéria e Filipinas”. São dados publicados na sétima edição do Atlas de Riscos Ambientais e Mudanças Climáticas (CCERA) lançado pela Maplecroft.
O Atlas fornece dados de risco comparáveis para 198 países em 26 questões distintas, incluindo vulnerabilidade às mudanças climáticas e segurança alimentar. Assim também as emissões, os serviços ecossistêmicos, desastres naturais e regulação refletem as descobertas dos cientistas que identificaram as mudanças do clima como um "multiplicador de ameaças, o que aumenta o risco de conflitos e agitações”.
O relatório avalia a sensibilidade das populações, a exposição física dos países e a capacidade governamental de se adaptar às mudanças climáticas nos próximos 30 anos. Bangladesh é o que está em situação de maior risco, seguido por Serra Leoa, Sudão do Sul, Nigéria, Chade, Haiti, Etiópia, Filipinas, República Centro-Africana e Eritreia. Camboja, Índia, Miamar, Paquistãoe Moçambique também apresentam a categoria "risco extremo".
Uma característica que une essas economias, identificada pelo Atlas, é que todas dependem fortemente da agricultura, com 65% de sua população economicamente ativa empregada no setor. E 28% de sua produção econômica global dependem das receitas agrícolas.
Segundo a Maplecroft, a mudança dos padrões climáticos já está impactando a produção de alimentos, aumentando a pobreza, migração e estabilidade social -- fatores que aumentam significativamente o risco de conflitos e de instabilidade em estados frágeis e emergentes.
Não é outra a conclusão dos cientistas do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC), da ONU. Segundo eles, nos próximos 30 anos os produtores rurais vão perceber declínio em campos de trigo, arroz e milho, o que vai causar insegurança alimentar em regiões que, justamente, precisam mais desses alimentos. É só fazer os links e perceber que este cenário é particularmente significativo para os 32 países mais vulneráveis apontados pela Verisk Maplecroft, onde já são altos os níveis de pobreza, de migração, onde a violência, o conflito já existem, e onde a segurança alimentar já está comprometida também por causa dos eventos climáticos extremos.
Tudo isso, que já está ruim, ainda pode piorar, segundo os estudiosos que se debruçaram em dados para elaborar esse relatório. São dados importantes, recorrentemente desprezados por governantes que não dão nenhuma, ou quase nenhuma, atenção às mudanças climáticas.
Diante do descaso recorrente, a sociedade civil tenta fazer seu papel, que é denunciar, exigir direitos. Aqui no Brasil, onde o governo Temer tem dado sinais inequívocos de desmonte da legislação que tenta proteger a natureza contra impactos mais sérios da industrialização, já há uma convocação, pelas redes sociais, através do Fórum de Mudanças Climáticas e Justiça Social do Rio de Janeiro para a Marcha Popular pelo Clima que vai se realizar em novembro na cidade.
“Queremos o respeito por todos os seres humanos e por todas as demais formas de vida de nosso planeta, nos levantamos contra as atividades econômicas que, em nome de uma suposta ideia de desenvolvimento, estão irresponsavelmente destruindo nossa "casa comum", expropriando a população das periferias das cidades, indígenas, quilombolas, camponeses, caiçaras e demais povos tradicionais de suas terras, de modo cada vez mais acelerado, violento e irreversível. A marcha tem como um dos seus principais objetivos, incluir a questão das mudanças climáticas globais e suas implicações locais como pautas absolutamente prioritárias na agenda pública, bem como a busca por justiça social e ambiental”, diz o texto convocatório.
A quem interessar possa unir-se a pessoas que estão enfrentando o real e dão sugestões para mudanças. Em vez disso, o que se vê é Donald Trump mandando fazer maquiagem em textos científicos para que a verdade não seja divulgada.
Via G1
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