NÃO PODEMOS PERMITIR QUE, NOS TEMPOS ATUAIS, O PRECONCEITO, A INTOLERÂNCIA E O ÓDIO RELIGIOSO CONTUINUEM SENDO DIFUNDIDOS!!! A Intolerância Religiosa e a Incitação ao Ódio Religioso também viajam de trem Segundo pesquisa recente realizada pela UFBA, intitulada Mapeamento dos Terreiros de Candomblé da cidade de Salvador, o subúrbio ferroviário de Salvador é a região que abriga a maior concentração de terreiros da cidade e conseqüentemente, grifo meu, o maior número de adeptos das religiões de matriz africana, possuindo 280 dos 1165 terreiros identificados pela pesquisa em toda a cidade. A grande maioria dos seus adeptos utilizam diariamente os trens da Companhia de Trens Salvador – CTS, antiga CBTU, que fazem a linha paripe-calçada-paripe, tendo como alguns dos principais destinos a Feira de São Joaquim, o trabalho ou a escola. Devido à presença significativa deste grupo na região, era de se esperar uma postura no mínimo respeitosa por parte dos adeptos de outros seguimentos religiosos, coisa que não tem acontecido. De algumas décadas para cá, com a crescente expansão dos movimentos neo-pentecostais e a ocupação de espaços públicos por meio da prosselitização, sua principal característica, os adeptos das religiões neo-pentecostais e de alguns seguimentos históricos tem direcionado uma série de ataques às religiões de matriz africana e aos seus seguidores e esta atitude tem tomado proporções incalculáveis que podem ser vistas num simples passeio de trem. Os homens e mulheres de Deus, como se auto-denominam, pressupondo que existam aqueles que não o são, ocupam os vagões dos trens diariamente em escalas organizadas que fazem com que eles estejam presentes na totalidade das viagens, que vai das 6 da manhã à cerca das 21 horas, de domingo à domingo, apresentando-se em grupos que reproduzem dentro dos vagões os cultos realizados nas igrejas, ou individualmente, afirmando não temerem a nada nem a ninguém. Tendo como objetivo principal cumprirem o que determina a palavra de Deus: "Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a todas as criaturas" e a combaterem o Diabo, causador de todos os males segundo eles, desde doenças e vícios às injustiças sociais, esses indivíduos estariam exercendo o seu direito à liberdade de expressão religiosa, como defende a Constituição Federal Brasileira em seu artigo 5º, se não fosse por um único motivo: seu discurso eufórico e agressivo tem sido direcionado ao "povo de santo" que, seriam "idólatras, seguidores do demônio e que devem ser combatidos e convertidos para sair da cegueira e do pecado", segundo pregação realizada recentemente. Nos vagões dos trens, diariamente, a transmissão da palavra de Deus, indireta e passiva, passa a tomar um caráter diferenciado ao serem identificados, por sua indumentária, os adeptos das religiões afro-brasileiras. O discurso indireto passa a ser dirigido objetivamente a esses indivíduos e é comum ver o pregador, que costuma andar de um lado para o outro, parar em frente à pessoa proferindo insultos e agressões verbais, desmerecendo as entidades por ela cultuada e afirmando publicamente já ter realizado atos como a invasão de terreiros para impedir a realização de cerimônias. Diante de alguma manifestação de descontentamento por meio dos passageiros, que tem seu direito à paz e ao silêncio violado, estes são acusados de estarem possuídos pelo demônio para impedir que a palavra de Deus seja apresentada. Em episódio recente, uma jovem iniciada no candomblé que viajava no percusso escada-calçada, no horário das 15:40h, no ultimo dia 24 de julho, foi abordada por um destes indivíduos que ao identificá-la como adepta do candomblé passou a proferir insultos à divindades como Yemanjá, denegrir a imagem dos seguidores do candomblé ao chamá-los de porcos, sujos e ignorantes e dizendo-se ser capaz de "pisar na cabeça do diabo" caso ele se apresentasse. Diante da atitude passiva da jovem que não respondeu aos insultos mas passou a gravar por meio de um celular a atitude dele, este, aos berros, dizia que ela estava calada por admitir serem verdade as suas afirmações e que aquele celular seria roubado, quebraria ou as fotos queimariam, pois Deus não permitiria que ela o fotografasse. A jovem, acompanhada de uma testemunha, dirigiu-se à administração da CTS que se propôs a tomar uma atitude cabível no prazo máximo de 15 dias. No entanto, enquanto a jovem estava sendo atendida, o seu acompanhante foi interpelado por uma funcionária que, portando o crachá da companhia com sua identificação pessoal ilegível, justificava a atitude do pregador afirmando que este tinha o direito de agir daquela forma pois tinha sido mandado por Deus e preparado pelo mesmo para isso, tendo os passageiros que aceitar calados, pois muitos deles precisavam escutar aquelas palavras. O que mais espanta é que, além da postura desta funcionária, é comum vermos os funcionários da segurança da CTS, que deveriam garantir a proteção e o bem estar dos passageiros, se manterem indiferentes quando presenciam situações iguais a relatada. Estaria a CTS sendo conivente com a atitude criminosa destes indivíduos ao se mostrar indiferente? Esta é a resposta que os adeptos das Religiões de Matriz Africana do Subúrbio de Salvador querem ver respondida, convidando a CTS à manifestar o seu posicionamento em relação aos fatos citados e, na inexistência de resposta, convocando a sociedade civil organizada e todos os membros das religiões de matriz africana e simpatizantes a reunirem-se em manifestação contra tal ato de desrespeito. Salvador – Ba, 27 de julho de 2009 Eduardo Pereira Odùdúwa Ogan do Terreiro Ilê Axé Odé Yeye Ibomin, Artista Plástico e Músico |
segunda-feira, 27 de julho de 2009
A Intolerância Religiosa e a Incitação ao Ódio Religioso também viajam de trem
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