segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Parque dos sonhos - Uma grande ideia

Arquiteto transforma extensa área degradada em Santo Antônio do Pinhal, SP, em oito belíssimos jardins temáticos, semelhantes aos que ele conheceu em suas viagens pelo mundo
Texto: Suely Gonçalves

Parte da trilha que corta o parque, margeada de floresSão onze horas da manhã. Sol a pino. Sem aviso, a neblina atravessa os pinheirais e o que parecia verão vira inverno. Essa estranha, mas bem-vinda, mudança repentina no tempo acontece todos os dias no Jardim dos Pinhais, um parque ecológico que fica na cidadezinha de Santo Antonio do Pinhal, a meio caminho de Campos do Jordão, SP. A névoa põe ainda mais magia nas árvores, arbustos, flores, fontes e riachos dos oito jardins que compõem o parque. Eles estão distribuídos pelos 1.200 metros de trilhas cuidadosamente pavimentadas. O traçado percorre os jardins. Com rampas suaves, a caminhada não exige do visitante nada além do senso de observação e sensibilidade para reconhecer que ali se pisa sobre uma terra onde a natureza é senhora absoluta. Se tiver o mínimo de curiosidade, haverá de querer saber como uma área de pastagem foi transformada em canteiros e bosques onde a flora brasileira está representada em toda sua exuberância.A resposta está no sonho e na tenacidade de um arquiteto chamado Manoel Carlos de Carvalho. 'Loucura', dirão alguns. 'Eu diria que é obsessão', rebate Manoel. Loucura ou obsessão, o certo é que o Parque Ecológico Jardim dos Pinhais se espalha por 14 hectares e 82 mil metros de jardins. E não são apenas canteiros enfileirados cobertos por grama e flores como possa supor o senso comum. Manoel plantou ali oito jardins inspirados na vegetação da Serra da Mantiqueira e nos inúmeros que viu pelo mundo afora. São eles: Jardim Montanhês, Canadense, Japonês, Desértico, Das Fontes, Beija-Flores, Tropical, Das Orquídeas, além de um espaço chamado Fonte das Hortênsias. Logo na entrada do parque uma cascata construída com pedras de até 80 toneladas, vindas da cidade de São Tomé das Letras, MG, termina em um tanque onde nadam tartarugas típicas da fauna da Amazônia. O reflorestamento da área degradada foi feito com espécies em extinção. Por precaução, Manoel mantém um viveiro delas. Na área que adquiriu existe hoje 50% a mais de mata do que quando ele ali chegou. Dotado de um temperamento que o impulsiona a realizar tudo o que planeja, levou apenas cinco anos para transformar pasto em jardins. Dito assim pode parecer que foi fácil. Puro engano...Quiosque para descanso. A arquitetura busca a harmonia com o meio ambienteFontes e arbustos cuidadosamente podados se misturam à exuberante confusão da mata nativa
Detalhe do jardim japonêsManoel tinha um hobby: plantar e visitar jardins. Quando ia à Europa o roteiro incluía, prioritariamente, longas horas passadas em magníficos parques que ele já conhecia por meio da literatura, fotos ou viagens imaginárias. Pode soar esquisito, mas a ideia de construir um grande parque no alto da Serra da Mantiqueira começou a tomar forma quando ele visitou o Front Village, na Califórnia, Estados Unidos, em pleno deserto da cidade de São José: 'Fiquei impressionado com a criatividade com que eles exploravam aquele monte de areia e pedra', relembra. A histórica beleza do Parque Tivoli, na Itália, com suas fontes e chafarizes da época dos imperadores, também colaborou para a decisão do arquiteto. E, acima de tudo, havia as lembranças da infância no sítio do pai, em Paraibuna, SP, em meio a árvores e banhos de riacho.Receoso da reação familiar (ele tem quatro filhos), guardava só para si o projeto que desenhava na cabeça, como se estivesse diante de sua prancheta de arquiteto. Mas, um dia, no final de uma visita ao Butchart Gardens, jardim canadense considerado um dos mais belos do mundo, não aguentou e disparou: 'Quando chegar ao Brasil vou fazer um parque parecido com esse'. 'Tá louco?', disse Leda, a mulher, que quase morreu de susto. Dito e feito.

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