terça-feira, 10 de novembro de 2009

Todo mundo e ninguém por Marina Silva

TERMINOU sem acordo, na sexta,em Barcelona, a última etapa oficial de negociação para a Cúpula doClima. Embora essa expressão já tenha se transformado quase em chavão,faltou vontade política para chegar a um consenso antes do encontro deCopenhague, daqui a quatro semanas.
Com raras exceções, os países se recusam a apresentar metassubstanciais de cortes nas emissões de gases-estufa, o que não écondizente com a gravidade do problema.
Permanecem, no jogo diplomático, as cobranças mútuas de metas entre ospaíses em desenvolvimento e os desenvolvidos. Ao cabo, sobram apenasdeclarações de intenções, sem resultado prático.
O Brasil, lamentavelmente, parece seguir o mesmo caminho. Resiste aapresentar meta de redução de gases de efeito estufa que vá além dapromessa de diminuição do desmatamento da Amazônia, que, se espera,possa ser revertido pela pressão dos setores mais lúcidos do governo eda sociedade.
Autoridades brasileiras chegaram a declarar, na semana passada, que oBrasil não apresentaria meta em Copenhague para não criarconstrangimentos aos demais países em desenvolvimento. O governo parecetemer uma "saia justa" com importantes parceiros comerciais, como Índiae China.
Diante desse quadro, lembro de um antigo dito popular que conta ahistória de Todo Mundo, Alguém, Qualquer Um e Ninguém, encarregados deuma tarefa importante. A história termina assim: Todo Mundo culpouAlguém quando Ninguém fez o que Qualquer Um, agindo comresponsabilidade, poderia ter feito.
Enquanto isso, a ciência moderna afirma, majoritária e categoricamente,que caminhamos para um colapso climático. A maioria da populaçãomundial se mostra preocupada e demonstra apoio a decisões mais ousadas,para que se evite o pior. Mas os governos dos países ricos, que maispodem contribuir para uma solução satisfatória, dividem-se entreaqueles que querem fazer pouco e os que não querem fazer praticamentenada.
Poucos países têm quebrado essa regra. Um bom exemplo é o da Noruega,que se comprometeu a reduzir em 40% as emissões até 2020 e criou um dosmaiores programas voluntários de proteção das florestas tropicais domundo. Porém, parece ter sido totalmente ignorado.
Apesar da necessidade de um regramento jurídico internacional para aredução das emissões de gases-estufa, até agora só se veem intençõespolíticas genéricas. Os governantes não querem sair da condição de"sujeitos indeterminados" na luta contra as mudanças do clima. Amaioria tem se abrigado na inaceitável sombra da irresponsabilidadecomum e indiferenciada.
Até quando?

contatomarinasilva@uol.com.br

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