sábado, 23 de janeiro de 2010

Preconceitos - Artigo de Luiz Garcia

Não há qualquer dúvida de que os cidadãos da etnia negra ainda são cidadãos de segunda classe no Brasil.
A forma irresponsável e mesmo cruel com que foi abolida a escravidão, tirando quase toda a população negra das senzalas e jogando praticamente todos os ex-escravos na miséria, com toda a liberdade para morrerem de fome, criou o problema social que existe até hoje. A maioria dos cidadãos negros - não seria exagero algum falar em grande maioria - continua na base da pirâmide social. E o preconceito que existe, se existe, parece ser muito mais social do que racial.
Isso é apenas uma constatação, não um argumento contrário à necessidade de políticas públicas que enfrentem mais o problema social, que é real e sério, e menos o fantasma do preconceito - que certamente ainda existe, mas a cada dia menos assustador.
A cor da pele não impede o acesso aos mais altos cargos da administração pública e do Judiciário - mas a pobreza histórica, não o preconceito, limita o número dos beneficiados.
Essa constatação óbvia não impede que, com a bênção e o estímulo de áreas oficiais, proliferem propostas e pressões no sentido de combater um suposto, pelo menos exagerado, racismo na sociedade. É o caso das conclusões de iniciativas governamentais recentes, como a II Conferência Nacional de Cultura e a Conferência de Política de Igualdade Racial, de junho passado.
Nada há de errado, por exemplo, em pedir, se existirem casos documentados, a punição de empresas de comunicação por divulgação de material de cunho deliberadamente racista ou involuntariamente preconceituoso.
Mas é simplesmente absurdo, por outro lado, fixar em 20%, e isso já foi proposto, a presença de negros, índios e cidadãos de outras etnias em programas de rádio e TV. Como se fosse natural e democrática essa intromissão, por exemplo, no roteiro de uma novela. E o que justifica a porcentagem? Falando sério, alguém nota qualquer sombra de preconceito na formação dos elencos de uma novela de TV? Por outro lado, o que diriam os donos dessa ideia se alguém defendesse uma percentagem fixa de brancos no desfile de uma escola de samba? É razoável pedir punição para jornais ou TVs que deliberadamente abriguem matérias ou programas de cunho racista. Mas essa proposta ganharia mais validade se fosse acompanhada de alguns exemplos. Seria interessante conhecermos quais são as empresas de mídia capazes de semelhante burrice.

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