quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Conventos históricos padecem no Nordeste

Sem turismo e subutilizadas, as construções franciscanas com mais de 400 anos não têm verba para restauro 

Iphan quer tombamento do conjunto como patrimônio mundial pela Unesco para atrair investimentos


Convento de São Francisco/ Salvador - BA
 Foto: Divulgação
MARCELO BORTOLOTI
ENVIADO ESPECIAL A BAHIA E PERNAMBUCO 

Os 15 conventos franciscanos da região Nordeste do país compõem o que o historiador francês Germain Bazin definiu como "uma das criações mais originais da arquitetura religiosa no Brasil".
Ao contrário das outras ordens, que construíam seus prédios seguindo o modelo europeu, os franciscanos da região desenvolveram soluções inéditas de arquitetura.
As igrejas geralmente têm uma torre única que fica recuada da fachada. Os pátios internos possuem um segundo andar avarandado e alguns deles trazem esculturas com motivos tropicais.
São construções com mais de 400 anos e um acabamento riquíssimo. O Convento de São Francisco, em Salvador, tem o segundo maior conjunto de azulejos portugueses do mundo e tem a sua igreja coberta de ouro.
Todos os 15 conventos são tombados individualmente pelo Iphan. Agora, o instituto pleiteia um tombamento do conjunto como patrimônio mundial pela Unesco.
Segundo o órgão, isso poderia chamar a atenção para o valor artístico e histórico dos monumentos, atrair investimentos e remediar uma crise delineada nas últimas décadas.
Boa parte dos conventos está em situação precária de conservação. Na Bahia, o de São Francisco do Conde tem áreas que ameaçam ruir. O de Cachoeira está em ruínas.
A subutilização destes prédios é uma regra. Os franciscanos não conseguem preenchê-los já que a ordem, que não é a mesma do Sudeste, tem apenas 161 missionários.
A visitação turística na maioria deles é pequena. As obras de restauro são sempre bancadas pelo governo.
O convento de Salvador tem 70 quartos e 22 frades. Em 2006, seus painéis de azulejo foram cobertos com gaze porque a parte vitrificada ameaçava despregar. Na época, o técnico do Iphan pediu obras emergenciais em 90 dias. Nada foi feito.
Além do restauro ser caro - neste caso, cerca de R$ 5 milhões só para os azulejos- é difícil conciliar os interesses do Iphan e dos religiosos.
O instituto quer que os frades estimulem a ocupação turística dos templos, tornando-os autossustentáveis.
"Os franciscanos têm de viver para os pobres. Não podem viver em função dos conventos", diz o frei Hugo Fragoso, historiador que pertence à ordem.
O Convento de Cairu, a 300 km de Salvador, está passando por um restauro que vai recuperar pintura, azulejos e douramento original. O custo da obra é de R$ 10 milhões.
O Iphan queria fazer dali uma pousada, gerida pelos franciscanos, já que a falta de uso acelera a degradação do prédio. Mas a ideia não vingou. Hoje moram dois frades no convento com 12 quartos.
Na semana passada, eles receberam 20 turistas. O ingresso custa R$ 2. Os frades complementam sua renda criando galinhas.



Convento de Santo Antônio do Paraguaçu - BA
Foto: Divulgação
Conjunto em ruínas teve peças vendidas 

DO ENVIADO ESPECIAL

O único convento que chegou ao estado de ruína foi o de Santo Antônio do Paraguaçu, em Cachoeira, 110 km de Salvador. Apenas a igreja, a fachada principal e as paredes estão preservadas.
No início do século 20, sem dinheiro nem frades para mantê-lo, os franciscanos passaram sua administração à arquidiocese local. Nessa época, os padres começaram a vender os objetos do interior da igreja e do claustro.
Os painéis de azulejo português foram comprados pelo colecionador José Mariano Filho, que os transportou para seu casarão no Rio.
Em 1974, quando o colecionador já havia morrido, seus herdeiros demoliram a casa para evitar que fosse tombada; os azulejos foram destruídos. Mariano também levou para o Rio um lavabo de mármore português.
Outra relíquia do convento, um arcaz de madeira do século 18, ficou com Ricardo Brennand. A peça está no instituto que leva o nome do colecionador, em Recife.

Fonte: Conteúdo livre -

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