Vítima de enfarte, morreu em casa o escritor Érico Veríssimo, às vésperas de completar 70 anos de idade. No dia seguinte, numa tarde cinzenta, que escondia o céu que o escritor tanto admirava, o corpo de Veríssimo foi sepultado num cemitério, em Porto Alegre. Em seu último dia de vida, Veríssimo passou na companhia da esposa e do filho, o também escritor Luís Fernando Veríssimo. A morte pegou a todos de surpresa.
“O Brasil perde seu principal romancista e o mundo um dos maiores romancistas contemporâneos. Ele deixa uma obra que viverá enquanto existir a língua portuguesa. Seus personagens enriqueceram a humanidade brasileira”, declarou emocionado o escritor Jorge Amado no funeral do amigo e acrescentou: “Quanto a mim, perdi um irmão, me sinto infinitamente triste”.
Érico nasceu numa família rica em Cruz Alta, na serra gaúcha. Quando era pequeno, seu pai foi à falência, fazendo o pequeno escritor passar por experiências de pobreza que inspirariam grande parte de sua obra. Leitor assíduo quando pequeno, Veríssimo virou um grande escritor ao atingir a maturidade, relatando o cotidiano dos moradores do extremo Sul do país. Sua estréia literária se deu em 1932, com Os Fantoches. Em 1935, conquistou o prêmio Graça Aranha com o romance Caminhos Cruzados. Mas foi com a trilogia O Tempo e o Vento, considerada sua obra-prima, que o escritor se tornou um mito nacional e internacionalmente.
Dividida em O Continente (1949), O Retrato (1951) e O Arquipélago(1962), os três romances contam a história do Rio Grande do Sul, de 1680 até o fim do Estado Novo em 1945, através da saga das famílias Terra e Cambará. A princípio, Veríssimo planejou fazer só um volume com cerca de 800 páginas, que seria escrito em três anos. Mas o assunto rendeu tanto que o escritor acabou ultrapassando as 2.200 páginas, escritas ao longo de 15 anos. A obra virou novela, em 1967, e minissérie adaptada, em 1970.
Na década de 1970, após de publicar O Senhor Embaixador, O Prisioneiro e Incidente em Antares, Veríssimo se tornou um dos autores mais vendidos no país.
“O meu amigo mais íntimo é o sujeito que vejo todas as manhãs no espelho do quarto de banho, à hora onírica em que passo pelo rosto o aparelho de barbear. Estabelecemos diálogos mudos, numa linguagem misteriosa feita de imagens, ecos de vozes, alheias ou nossas, antigas ou recentes, relâmpagos súbitos que iluminam faces e fatos remotos ou próximos, nos corredores do passado - e às vezes, inexplicavelmente, do futuro - enfim, uma conversa que, quando analisamos os sonhos da noite, parece processar-se fora do tempo e do espaço". Érico Veríssimo.
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