24/08/2011 - Editorial da edição 443 do Brasil de Fato
Nunca antes na história da humanidade fomos tão manipulados quanto ao que se conhece do mundo, da realidade. É verdade que os avanços científicos e tecnológicos – rádio, TV, internet etc. – propiciaram a integração de todo o planeta. Mas também impulsionaram as disputas ideológicas, que se acirraram no período da chamada Guerra Fria, favorecendo a formação de complexos centros de produção e difusão de conteúdos de informação, realidades e verdades como nunca visto.
Como são regidos pela lógica do capitalismo, esses fenômenos resultaram na formação de verdadeiros cartéis e monopólios da produção e difusão de informação. Ou seja, são os “especialistas” na produção e venda de notícias. Essas empresas são responsáveis por praticamente tudo o que se lê, ouve e se vê da “realidade”.
Esse cenário reafirma – de Maquiavel, passando pelos iluministas, chegando a Marx, Engels, Gramsci, Lenin e tantos outros – que o desafio de disputar a sociedade teria sua dimensão econômica, política, militar e cultural-ideológica. E as forças de direita, no Brasil e no mundo, aprenderam isso bem. Nesse sentido, o Brasil de Fato faz um enorme esforço para seguir se contrapondo aos chamados grandes meios brasileiros, controlados por cerca de dez famílias. Muitos são os exemplos que demonstram o comportamento da mídia burguesa, mas ficamos apenas com três fatos recentes.
Rebeldia via redes sociais
Mobilizações gigantescas se espalham pela Espanha, conquistando a solidariedade em todo o mundo. No entanto, a mídia capitalista repercute dizendo que estava em curso mais um experimento estilo Woodstock. Nada mais pedagógico. Quando não puderam mais sustentar que as mobilizações nada mais eram que atos de jovens em pleno estado de êxtase ou curtição, passaram a outro estágio: os manifestantes, de aventureiros, tornaram-se novos agentes da luta anti-algo a mais do que as bandeiras de Woodstock.
Ou seja, passaram a dar ênfase ao que se chamou de novos atores – a juventude – que, por meio de novas formas de organização, superando os partidos políticos, sindicatos e movimentos, utilizavam como ferramenta principal de luta as redes sociais. Os meios pegaram carona em teorias que exaltam as multidões e o fim das organizações populares para montar seu ponto de vista. Tudo sem pautar o aspecto central: o porquê desse povo se mobilizar nas praças e ruas em torno da Porta do Sol.
O caso inglês
Esse tem muito mais semelhança conosco. De um lado, os meios de comunicação já partiram para a criminalização do povo em luta, que organizou atos massivos (prontamente reprimidos) durante os quais alguns oportunistas aproveitaram para promover saques. Bastou para resumir todos os manifestantes como baderneiros e saqueadores. Por outro lado, a grande mídia blindou o governo inglês, o mesmo que ameaçou bloquear o uso da internet, cortar o acesso às tais “demoníacas” redes sociais, sem uma única reação dos defensores da liberdade de imprensa. Já imaginou se isso ocorresse no Brasil às vésperas de uma Olimpíada? Certamente nossa imprensa faria um estardalhaço. Pediria, inclusive, a intervenção da Otan, da ONU etc. Assim funciona a nossa mídia colonizada.
As lutas no Brasil
Nas últimas semanas, foram diversas as manifestações da classe trabalhadora. Mais recentemente, vêm ocorrendo grandes protestos em Brasília e em quase todos os estados brasileiros. São centenas de milhares de pessoas mobilizadas, em defesa da redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais, pela aplicação de 10% do PIB para a educação pública e pela realização da reforma agrária.
Os movimentos sociais da Via Campesina e diversos movimentos do campo, em conjunto com os movimentos urbanos e a Assembleia Popular, estão mobilizados em todo o país para debater com a sociedade e com os governos, municipal, estadual e federal, mudanças no modelo agrícola e apresentar propostas para a agricultura brasileira.
Também recentemente, o Coletivo Intervozes divulgou um estudo que comprova o que já era sabido: a mídia brasileira trata o MST tendenciosamente, e descaradamente defende os inimigos da reforma agrária, da agricultura camponesa, atingidos por barragens e quilombolas, entre outros. E uma prática comum da grande mídia é a de silenciar as lutas e as mobilizações da classe trabalhadora.
Ou, quando não é possível mais silenciar, criminalizar e apontar problemas, como, por exemplo, as consequências dos atos para o trânsito, para colocar o povo contra quem se mobiliza. Portanto, não se iludam!
Nesse sentido, apesar desse implacável controle da mídia sobre a sociedade brasileira, a classe trabalhadora vem construindo lutas e formas de furar esse latifúndio da informação. A organização de coletivos de blogueiros em vários estados, a ampliação das páginas da chamada mídia alternativa,
a circulação de jornais impressos com grandes tiragens – como o Brasil de Fato especial para a jornada da Via Campesina –, que estão sendo distribuídos em todo o Brasil, são esforços importantes para romper e superar esse quadro de domínio midiático.
Mas ainda é pouco. Pautar a democratização da informação e dos meios de comunicação é uma bandeira fundamental. Isso vai desde o controle social sobre a produção e difusão midiática, até a ampliação das concessões de rádio e TV para organizações populares e comunitárias e a expansão do programa de acesso a banda larga para de fato alcançar a quem se destina.
Esperamos que nos próximos meses possamos avançar em lutas unitárias para que a comunicação deixe der ser monopólio de poucas famílias e grupos econômicos e sirva, de fato, aos interesses da imensa maioria do povo brasileiro, cumprindo, assim, sua função social.
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