segunda-feira, 7 de maio de 2012

Olumello - Afrografismos - Dia 8/5, às 19h, no mezanino do Museu Nacional Honestino Guimarães será realizada a abertura da exposição Olumello - Afrografismos. A mostra reúne 50 obras do artista plástico Willy Bezerra de Mello e fica aberta ao público até 31/5.

A mostra antológica das obras de Olumello possui profunda relação com a Brasília, pois foi aqui que o artista se desenvolveu profissionalmente. Além do mais, Olu pertenceu à primeira geração de artistas plásticos do Distrito Federal. Embora seu trabalho não faça alusão direta à cidade sua poética está visceralmente ligada a tudo o que aprendeu com o nascer do traçado da nova capital. A curadoria da exposição é de Nelson Fernando Inocêncio da Silva.
Os trabalhos apresentados representam 40 anos da vida produtiva de Olumello e três fases de seu percurso criativo com desenhos em guache, nanquim, lápis aquarelado e outras técnicas utilizadas pelo artista. A primeira fase retrata o processo de formação arquitetônica das favelas. Já a segunda, mais figurativa, o cotidiano dos trabalhadores e mulheres negras. Na terceira fase, as abstrações de Olumello predominam.
O teor de sua produção, conforme ele mesmo argumentava, é baseado em um desenho que expressa o conhecimento adquirido durante anos de experiência, resultante do convívio com arquitetos, relação que se intensificou no período em que ele compôs a equipe de Oscar Niemeyer em Brasília. A este conhecimento, ele agregava signos recorrentes da africanidade, a exemplo dos seus grafismos e cores que remetem ao imaginário negro.
"Se disséssemos que a sociedade brasileira possui um débito com os negros, estaríamos reforçando uma percepção crítica que felizmente vem se tornando mais aguda, graças ao processo histórico e cultural de afirmação de uma identidade há muito preterida em nosso país", afirma o curador Nelson Fernando Inocêncio da Silva.
"Quando buscamos entender a produção artística contemporânea no Brasil o débito não é menos relevante", acrescenta o curador. Talvez pelo fato de se estabelecer em nível de senso comum que, a criação artística de matriz africana, invariavelmente, mereça ser classificada como popular, naïf, em contraposição óbvia ao que se entende como erudito. "Para além dos estereótipos, o que encontramos na arte afro-brasileira de Olumello é a demonstração de que a linguagem visual, comprometida com a transformação, pode superar muitos limites", diz Nelson.
O rigor técnico aliado ao conteúdo de sua produção artística divergem radicalmente de uma História da Arte mainstream que enxerga como obra de arte apenas as produções que se encaixam em seus cânones. Olu refutava a ideia de que o pensamento estético deva estar restrito ao mundo ocidental, posto que tal conduta vem a anular as possibilidades de compreensão da diversidade cultural.

A obra deste artista transcende o olhar que se encontra aquém de uma cognição estética mais plural. Ver a obra de Olumello deve fazer bem para os olhos daqueles indivíduos, ávidos por compreender, com franqueza, parte de nossa cultura, sem a qual não encontramos esteio e tampouco explicação para o que somos.

Olumello - Filho único da Sra. Carmem Bezerra de Mello e do Sr. Antônio Bezerra de Mello, Willy Bezerra de Mello nasceu em 22 de janeiro 1935 no Rio de Janeiro e faleceu dia 8 de março de 2012. Quando rapaz, uma de suas aspirações era a de se tornar boxeador. Chegou até mesmo a treinar escondido da família. Todavia, aquele desejo logo fora frustrado, pois o pai que havia praticado boxe o demoveu da idéia ao se dar conta de que o biotipo do filho não era compatível com o padrão necessário para encarar no ringue.

Posteriormente veio o interesse pela arquitetura e pelas artes plásticas, que naquela época não eram áreas dissociadas. Nesta seara o seu grande desafio veio quando passou a constituir a equipe do já celebrado arquiteto Oscar Niemeyer. Ao se vincular ao processo de desenvolvimento de Brasília, Olumello se deu conta de que naquela vasta imensidão muito havia por ser feito em vários sentidos, inclusive no que se referia à representação positiva de seu povo. Se por um lado Brasília surgia como marco da modernidade brasileira, podemos dizer que o projeto de sociedade em vigor na época infelizmente não abarcava uma visão menos excludente acerca dos grupos humanos que deram forma e conteúdo à nação. A representação jocosa, caricata e exótica do outro era uma constante no intuito de desqualificar a diversidade da qual tanto nos orgulhamos, hipoteticamente.

Ao lado de outros artistas o homenageado foi protagonista dos primeiros Salões de Arte Moderna do Distrito Federal desde 1964. Na condição de diretor técnico, foi responsável pela equipe de montagem do Teatro Nacional Claudio Santoro e concebeu, ao longo de décadas, as expografias de um número significativo de mostras de artes visuais, além de cenografias para espetáculos sob os auspícios da Fundação Cultural do DF.

Percurso artístico de Olumello

1964 - I Salão de Arte Moderna do DF, prêmio “referências especiais” pintura.
1965 - II Salão de Arte Moderna do DF.
1967- IV Salão de Arte Moderna do DF.
1979 - Inclusão do artista como verbete na publicação Artes Plásticas no Centro-Oeste.
1980 - Criação de arte para cartaz alusivo ao Memorial Zumbi. Fundação Pró-Memória. Semana de Arte e Cultura Negra do Distrito Federal.
1981 - I Mostra de Artistas Plásticos, Amigos do Instituto de Arquitetos do Brasil.
I Salão de Artes Plásticas da Aeronáutica.
Cenografia para a peça teatral “Café Concerto”
1982 - I Salão Naval de Artes Plásticas
1983 - Criação de arte para capa da revista Habitação Popular, janeiro/ março Idem, março/maio.
Coordenação e montagem da exposição permanente “Indios: cultura e natureza” Centro de Convenções de Brasília.
1984 - I Semana de Artes Plásticas do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal.
Exposição “Carnaval: hoje e sempre”, Secretaria de Educação e Cultura e Fundação Cultural do DF.
Cenografia do espetáculo “Jacob do Bandolim de Ouro” Sala Villa-Lo- bos, Teatro Nacional Claudio Santoro,
Cenografia do espetáculo “Coisas Nossas” do Grupo Malcolm X, Sala Martins Pena, Teatro Nacional Claudio Santoro Coordenação e montagem cenográfica da peça teatral “O santo e a porca”
1985 - Exposição de desenho e pintura na Galeria A, Fundação Cultural do DF.
Exposição de desenho e pintura, Escola de Música de Brasília.
1990 - Mostra de desenho e pintura “Mulheres, crianças e favelas”, foyer do Auditório da Escola de Musica de Brasília. 1991 - Exposição “Ainda quilombos”, Espaço Cerj. Niterói, RJ.
1994 - Exposição no Espaço Cultural Serpro.
1995 - Mostra Coletiva “Presença Negra” Teatro Nacional Claudio Santoro.
1996 - Participação na mostra de arte e cultura “Semana do Brasil em Angola.
1998 - Exposição no Espaço Cultural Afro N’Zinga-DF.
2001 - Exposição no Espaço Cultural Anatel.
Participação na categoria artes plásticas, 3o. Prêmio Banco Real de Talentos da Maturidade.
2002 - Homenagem ao artista plástico Olumello, Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial, sessão solene, Câmara Legislativa do DF.
2004 - Exposição de desenhos, 4a. Semana de Arquitetura e Urbanismo da FAUPLAC.
2009 - Mostra coletiva "Artistas Brasileiros: Novos Talentos". Salão Branco - Congresso Nacional

Sobre o curador - Nelson Fernando Inocencio da Silva possui graduação em Comunicação pela Universidade de Brasília (1985) e mestrado em Comunicação pela Universidade de Brasília (1993) . Atualmente é professor assistente da UnB. Tem experiência na área de Artes, com ênfase em Artes Plásticas. Atua principalmente nos seguintes temas: consciência negra, ideologia imagética, anti-racismo.
fonte: http://www.brasiliaweb.com.br/

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