terça-feira, 25 de setembro de 2012

Bahia - Ogan de terreiro de candomblé é morto a tiros em Vera Cruz


Foi sepultado na manhã desta segunda-feira, 24, no Cemitério da Ordem 3ª de Sâo Francisco, em Salvador, o corpo de Marco Antônio dos Santos Marcelino, 34 anos, ogan de Iansã do terreiro Ilê Axé Oyá Bagan Bàbá Alaefurun e presidente da Associação Beneficente, Cultural e Religiosa, ambos localizados na Estrada do Baiacu, Ilha de Vera Cruz.
Ele foi assassinado com um tiro de espingarda, a queima roupa, no final da tarde do sábado, 22, por Manoel Messias Correia, que havia passado todo o dia bebendo no bar de um homem de pré-nome Domingos e, segundo testemunhas, sendo por ele incentivado a cometer o crime.
Para a yalorixá Rosa Maria Lopes da Silva, 55 anos, companheira de Marquinhos (como era carinhosamente conhecido por amigos e familiares), a morte é resultado da intolerância religiosa e da disputa por uma pequena faixa de terreno, enfrentada pelo casal desde sua chegada à Ilha, em 2007.

“Esse Messias é um pobre coitado; ele trabalhava para Maria do Carmo, nossa vizinha da direita e irmã de Domingos, o vizinho da esquerda”. Segundo ela, a suspeita é que o comerciante tenha premeditado o delito, pois no sábado, às 19 horas, haveria um encontro para apresentar à comunidade os projetos sociais mantidos pela Associação, além de planos futuros.
“Algumas pessoas nos procuraram para perguntar se a reunião estava mantida, pois Domingos andou dizendo que ela não seria realizada”, afirma Rosa, revelando também estar sendo vítima de ameaças, em função de sua opção religiosa e por parte do vizinho que se diz proprietário de áreas contíguas à sua e cuja posse ela garante ter documentação comprobatória.
Motivo fútil
Participaram da cerimônia de sepultamento amigos de Marquinhos e de sua família, como João Jorge, do Olodum, Clarindo Silva (Cantina da Lua) e Leonel Moneiro, presidente da Associação de Preservação da Cultura Afro Ameríndia (Afa). Todos destacaram a personalidade pacífica, alegre e amiga da vítima.
João Jorge mostrou-se indignado com a violência sofrida pelo amigo: “É preciso parar de contar os mortos nas segundas-feiras. Um ponto de luz não pode ser motivo para um crime como esse”.
O pretenso motivo para o assassinato foi a instalação de uma lâmpada, providenciada por Marquinhos, para iluminar a área da reunião. O homicida alegou que o muro, apesar de se encontrar dentro da propriedade do terreiro, pertencia à casa ao lado, conforme a querela sustentada pelo vizinho, e mesmo com a concordência de Rosa em desfazer a ligação, o disparo foi feito, sem chance de defesa.
Marco Antônio, eletricista profissional autônomo, estava muito empolgado com as atividades educativas e recreativas realizadas pela entidade presidida por ele em Vera Cruz. Atualmente, a associação cuida de oito crianças entre 6 a 14 anos (em situação de risco junto às suas famílias) e mais dois jovens, ex-usuários de drogas, com 17 e 24 anos, que têm sido treinados para atuarem como monitores do projeto.
Manifestação
Manoel Messias foi preso por policiais militares, no mesmo dia, em sua própria casa, para onde se dirigiu tranquilamente após o homicídio. Os PMs tiveram que lidar com as tentativas do comerciante Domingos em livrar o criminoso da cadeia, argumentanto seu estado de embriaguês. O flagrante, porém, só foi lavrado nesta segunda-feira, 24, pois no fim de semana não havia delegado de plantão.
Nesta terça-feira a yalorixá Rosa, amigos e entidades de defesa do culto afro brasileiro realizarão uma manifestação em frente à 24ª Delegacia, em Vera Cruz para pedir justiça, fim da intolerância religiosa e o desarmamento da população da Ilha, pois, segundo ela, é comum as pessoas andarem portando espingardas, como a que matou o ogan, sob o pretexto de serem “caçadores”.
Há cerca de um ano atrás, um adolescente de 12 anos atirou e matou, acidentalmente, uma prima de 17 anos, sendo um dos jovens atendidos pela Associação de Vera Cruz.
Foto: LB
Fonte : Bahia Já

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