sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Documentário “Tropicália” debate e ilustra o movimento liderado por Gil e Caetano

O que foi a Tropicália?
A música de Caetano Veloso e Gilberto Gil? Gal como porta voz dos baianos? Um disco coletivo que convidou Tom Zé e Nara Leão? Mutantes e sua influência roqueira? O iê-iê-iê de Roberto Carlos e sua turma? Chacrinha e suas fantasias? Glauber Rocha e o Cinema Novo? As instalações de Helio Oiticica? O teatro de José Celso Martinez Corrêa?
Muitas perguntas. Todas respondidas pelo documentário Tropicália, que chega aos cinemas no próximo dia 14 de setembro. Com direção de Marcelo Machado, o filme relata, através de depoimentos (de arquivos ou atuais), as influências do movimento, seus desdobramentos e seu sufocamento. O foco, claro, está em Gil e Caetano, os dois artistas nos quais a Tropicália alcançou a sua consagração popular e, segundo depoimento do próprio Gil, transformou-se em “Tropicalismo”.

“Tropicália era uma ilha, uma utopia. Tropicalismo foi um grupo, um movimento”, diz Gil. A diferença fica mais clara ao longo das declarações de nomes como Tom Zé, Gal Costa, Rita Lee, Arnaldo e Sergio Baptista, Guilherme Araújo, Rogério Duprat, e principalmente de Helio Oiticica, Glauber Rocha e do artista gráfico Rogério Duarte. Este último com excelentes pontuações e uma lucidez capaz de fazer qualquer ‘ficha cair’.
Além da (deliciosa) discussão ‘cabeça’ do que era de fato a Tropicália, o documentário traz um farto material em fotos e imagens. Muitas delas inéditas ou desconhecidas do grande público, como uma apresentação de Gil e Caetano em uma TV portuguesa em 1970.
Outra imagem que deve chamar a atenção do público é a que mostra a participação de Gil e Caetano no festival da Ilha de Wight, na costa sul inglesa. O vídeo foi cedido pelo documentarista inglês Murray Lerner. Nem o próprio Caetano sabia da existência das imagens. Nelas, o baiano, em ‘puro êxtase’, estado parecido com o de Gil, canta “Shoot Me Dead”.

Gil cantando acompanhado pelo grupo "Os Mutantes"
E, nesse momento, dá vontade de abrir um buraco no chão do cinema. Não pela atuação dos músicos brasileiros, claro. Dá é vergonha de constatar algo: enquanto o governo (militar) brasileiro queria jogar Gil e Caetano para o esquecimento, o mundo estava a fim de ouvir o que os baianos tinham para dizer. Neste festival de Wight, um locutor declara: “Esse grupo do Brasil está aqui porque não pode fazer música em seu país. Mas aqui eles podem”.
Algo semelhante acontece em um programa na TV francesa no qual Caetano é convidado para se apresentar. Ela faz uma linda versão de “Asa Branca”, clássico do repertório de Luiz Gonzaga.
Mas, como bem diz Tom Zé no filme: “eles estavam presos, exilados, mas as canções deles estavam por aí”.
As canções deles estavam e estão por aí. E Tropicália relata um momento em que o caldeirão estava fervendo. Gil com a ideia de misturar rock e ritmos nordestinos, Caetano e sua poesia vibrante, a MPB de Elis e Edu Lobo protestando contra as guitarras elétricas, os festivais de música, a televisão dando espaço para o novo.
Vale pela história, pelos artistas, pela música, pelas imagens.  Como disse o próprio Caetano, em recente composição feita para Gal Costa: “Coisas sagradas permanecem /Nem o Demo as pode abalar”.
Fonte:http://colunas.revistaepoca.globo.com
(Danilo Casaletti)

Nenhum comentário:

AS MAIS ACESSADAS

Da onde estão acessando a Maria Preta