sexta-feira, 7 de junho de 2013

Exposição do chinês Cai Guo-Qiang usa pólvora para criar arte pacifista e lúdica

Artista que fez a pirotécnia em cerimônia das Olimpíadas de Pequim chega a SP com a mostra com robôs pintores e instalações colaborativas


No universo artístico criado pelo chinês Cai Guo-Qiang, há muito espaço para a brincadeira e, a partir disso, chega-se à reflexão. Telas feitas da inusitada mistura de pólvora sobre papel, reproduções com material reciclável de aviões, discos voadores e submarinos, instalações que homenageiam artistas como Yves Klein e robôs pintores fazem parte da mostra "Da Vincis do Povo", que chega a São Paulo a partir deste sábado (20).

"A visão lúdica de ver o mundo e lidar com uma linguagem popular cria pontos de encontro com culturas e aproxima a viagem para a arte e a infância", conta o curador da mostra Marcello Dantas durante visita pelas instalações.

As obras podem ser vistas gratuitamente no prédio histórico dos Correios e no Centro Cultural Banco do Brasil, na região central da capital paulista. "Aqui trago as pessoas para um sonho", vislumbra o artista. Algumas peças ainda podem ser apreciadas nas próprias ruas ao redor do CCBB. Um dos objetivos de Cai Guo-Qiang é interferir com o dia a dia da metrópole e provocar as pessoas que circulam pelo centro da cidade. "Aprendi com os brasileiros que o carnaval é na rua. Vocês gostam de expor a arte e eu quis fazer das ruas um salão."

Cai Guo-Qiang ganhou um Leão de Ouro na Bienal de Veneza, em 1999, além de ter desenhado os efeitos pirotécnicos das cerimônias de abertura e encerramento das Olimpíadas de Pequim, em 2008. Formado em cenografia pela Academia de Teatro de Xangai, o artista explora bastante o espaço, aproveitando-se dos artefatos tecnológicos para encorpar as ideias e levar o público ao "estado de sonho" que deseja.

Um exemplo é a instalação "Pipas", na qual 49 pipas artesanais de papel e bambu recebem o vento provocado por pequenos ventiladores enquanto são iluminadas por projeções de diversos artistas chineses. Outras instalações mostram flores que são ninadas em berços e robôs que "pintam telas" em uma bem-humorada homenagem a artistas como o expressionista norte-americano Jackson Pollock. "As pinturas de robôs são diferentes das feitas por humanos, que são caras (risos). Faço uma brincadeira com os artistas e uma sátira com o mercado de arte da atualidade", diverte-se.

Veja abaixo como funciona a instalação "Pincel Vivo de Yves Klein", que homenageia o artista conhecido pela tonalidade "azul Klein":

Um fato interessante é que Cai Guo-Qiang teve a ajuda de camponeses chineses para fabricar os robôs e outras peças da mostra, que remetem a ambientes futuristas como naves espaciais e civilizações extraterrestres. "Os camponeses são que nem os artistas, tem os mesmos sonhos. Eu ví a minha sombra neles e a deles em mim e me considero um deles".


Da Vinci

O artista nasceu em Quanzhou, no sudeste da China, morou no Japão e atualmente vive em Nova York. Ainda que não more mais no país de origem, ele continua a buscar seu povo - e as pessoas dos lugares por onde a exposição passa - para que participem das instalações e se tornem "Da Vincis", uma referência ao pintor renascentista Leonardo Da Vinci. "Eu queria ser um pintor como ele. Comecei a pensar em como ver a arte, eu e o universo. Por isso passei a inserir os extraterrestres", explicou. Segundo a arte dele, a participação dos camponeses e dos voluntários deixa todos "um pouco Da Vinci" e iguala o poder criativo.

Pólvora

O artista também se destaca pelas telas feitas de pólvora sobre papel, uma matéria-prima que, segundo ele, ajuda a quebrar a própria rigidez. "A maior sátira do uso da pólvora é para mim mesmo, porque sou uma pessoa muito cuidadosa. Eu uso a pólvora para me descontrolar", justifica, negando que o elemento faça alguma crítica política em relação a armas de fogo.

Depois que a pólvora é colocada sobre o papel, ateia-se fogo e a queima pode surpreender. "Você não prevê o resultado, é como se a pólvora tivesse vida". Em Brasília, onde a exposição foi trazida antes de São Paulo, ele teve a ajuda de voluntários locais para a criação de telas com pólvora sobre temas brasileiros, como o carnaval, paisagens e o aviador Santos Dumont. Crianças participaram de workshops e fizeram peças futuristas de material reciclável, em sincronia com o universo lúdico do artista. Em São Paulo, ele espera que as crianças também façam as oficinas, cujas obras serão expostas no CCBB e nos Correios.


"Cai Guo-Qiang: Da Vincis do Povo" 
CCBB (r. Álvares Penteado, 112, São Paulo) 
Quando: 20/4 a 23/6, de terça a domingo 
Horário: das 9h às 21h 
Entrada gratuita

"Cai Guo-Qiang: Da Vincis do Povo" 
prédio histórico dos Correios (av. São João, s/nº, SP) 
Quando: de sábado (dia 20) a 23/6 
Horário: de segunda a sexta das 9h às 18h; sábados, domingos e feriados das 9h às 17h 
Entrada gratuita

Workshops "UFOcinas" Crianças Da Vinci, no CCBB 
Quando: até 23/6, aos sábados e domingos 
Horário: das 10h às 11h e das 13h às 14h 
Gratuito (comparecer com 1h de antecedência para solicitar senha) 

Palestra com Cai Guo-Qiang no CCBB 
Quando: sábado (20/4), às 15h 
Vagas limitadas (comparecer com 1h de antecedência)

Fonte da redação: http://ultimosegundo.ig.com.br

Nenhum comentário:

AS MAIS ACESSADAS

Da onde estão acessando a Maria Preta