sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Política e comunicação no Brasil de hoje por João Silva

Artigo publicado no Jornal A Tarde, edição de 22 de agosto de 2013

Algo de novo está acontecendo. Em muitos países do Ocidente jovens e cidadãos de todas as idades se mobilizam via redes sociais para exigir melhores condições de vida. O mundo moderno está exigindo melhor aplicação do dinheiro público, mais respeito com quem paga a conta e comunicação franca e verdadeira. 
É engano acreditar que ser de direita ou ser de esquerda, católico ou evangélico, gay ou hétero, preto ou branco, homem ou mulher fará diferença nas próximas eleições. O que o povo vai querer saber é qual o melhor candidato para gerir os seus impostos, quem tem melhor visão de suas necessidades, quem fala a verdade, tem seriedade, e capacidade para lidar com recursos públicos e devolvê-los como benefícios à população, não a seus partidos e aliados políticos. 
O povo brasileiro está cada vez mais de olho e ouvidos abertos para saber identificar quem tem vocação para a coisa pública, quem realmente pode representá-lo de forma digna e séria. Nem direita nem esquerda, o povo quer coerência e competência. É isso o que as ruas estão a nos dizer a todo instante, como vem acontecendo em muitos lugares do planeta.
A democracia amadureceu. E o nosso País inegavelmente avançou em muitos aspectos: domesticou a inflação, conquistou certa estabilidade monetária e incluiu milhares de brasileiros, econômica e socialmente. Mas, por outro lado, muitos equívocos vêm sendo cometidos, especialmente no campo da política, comunicação e de gestão da coisa pública. A baixa qualidade dos serviços públicos em todas as esferas de governo, já anunciava a explosão que se iniciou em junho. 
O brasileiro está exigindo ética na política e respeito a sua inteligência como cidadão e consumidor.
Os nossos governantes passaram a ver na propaganda uma panaceia. Projetando-a bem diferentemente do que acontece com a área comercial - onde empresas lançam mão de novas ferramentas de pesquisa para buscar se aproximar dos anseios e percepções do cliente, de modo a ampliar sua inserção e presença no mercado. Se os governantes brasileiros estivessem realizando consultas com o propósito de ouvir, entender e realmente dar retorno à sociedade brasileira, eles conseguiriam saber antecipadamente não apenas se a população quer mais saúde, mais médicos ou mais transporte, mas também se o atendimento que o cidadão/cliente recebeu no posto de saúde foi satisfatório ou não. Se o transporte utilizado diariamente está dentro de suas expectativas ou não. 
Não se combate falhas de gestão com propaganda. Isso tem ficado cada vez mais claro no mundo inteiro. Continuam se equivocando aqueles que pensam que a eficácia das ferramentas, indiscutivelmente necessárias durante a campanha eleitoral, seja a mesma no momento de governar, quando se exige mais ênfase na comunicação social e não no marketing político. Isso beira a ingenuidade. Especialmente em momentos de crise. Por coisas como esta a credibilidade dos políticos brasileiros e a competência de grandes profissionais do marketing eleitoral estão sendo colocadas em xeque. 
Estão caçando votos na hora errada, no momento inadequado. É como se escalássemos Neymar Jr. na defesa da seleção brasileira ou do Barcelona, ele não conseguiria evitar que seu time levasse gols, ao mesmo tempo perderíamos um excelente goleador. Quem investir na competência e tratar com respeito e seriedade as questões sociais será mais bem avaliado no ano eleitoral. Aí sim, poderá lançar mão dos craques do marketing eleitoral com maior assertividade.
A má qualidade dos serviços prestados, a falta de seriedade e compromisso, aliadas a uma overdose de propaganda sem nenhuma utilidade pública é a combinação perfeita para tirar votos de candidatos e de partidos em 2014. São esses três pontos que estão distanciando nossos políticos do coração e da alma do povo brasileiro. O cidadão/cliente está cansado de ser maltratado e enganado. É só isso!
A postura arrogante e a debilidade das respostas apresentadas às manifestações, aliadas a uma comunicação inadequada, podem, indiscutivelmente, agravar em muito a atual situação. 


João Silva – publicitário baiano, especialista em comunicação social é autor do número Record de mais de 1.000 marcas, dentre elas Collor e Olodum, e é um dos publicitários baianos mais premiados do Pais. joaosilva@uol.com.br

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