quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

COMER CORRETAMENTE PARA VIVER SAUDAVELMENTE


Os conselhos do médico baiano Fernando Hoisel para a população comer mais e melhor, manter a forma e reforçar o sistema imunológico, garantindo bem-estar e boa saúde.

Por Aleksandra Pinheiro

Nascido em Ilhéus e formado pela escola de medicina da UFBA, em 1974, combatia, desde a época da faculdade, a indústria farmacêutica. Teve sua saúde mental questionada por um professor, rompeu com muitos e, ao concluir os estudos, informou à família que tinha a clareza sobre tudo o que não queria fazer. Seu interesse pela medicina natural deu-se através das leituras sobre a medicina do império Inca, a existência do Kallawayas – os responsáveis pela saúde no império – e o profundo conhecimento destes sobre o uso medicinal das plantas, frutas, verduras, raízes, ervas e árvores. Ao longo da entrevista cita, por diversas vezes, Lezaeta Charan e o livro Medicina Natural ao Alcance de Todos, obra facilmente encontrada no Brasil, como referência ao seu trabalho. 

Inicialmente Fernando Hoisel foi para a Argentina e depois para a Bolívia. Mais tarde a Cuzcu, visitou o império sagrado, no Peru, e depois para Santiago, no Chile, em busca do escritor Charan. Quando chegou foi informado que Lezaeta havera morrido desde 1961. Conheceu o filho deste, Rafael, e a Vila de Vida Natural, onde morou por um ano, estudou plantas medicinais, formas de banhos, uso de argila e dietoterapia. Hoje, depois de 30 anos do seu retorno ao Brasil, aplica o resultado destes estudos nos pacientes que o procuram. Alguns são colegas de ofício, buscando correções para seus males, mas, no geral, pessoas que fogem da alopatia e desejam terapêutica alternativa ou complementar para as diversas doenças. 

No primeiro instante da entrevista, Dr Hoisel explica que a medicina é uma só e o que muda é a terapêutica aplicada: “Sou formado pela escola de medicina tradicional e afirmo que a terapia alopática (uso de drogas sintéticas) é insubstituível e fundamental nas emergências hospitalares ou necessidades cirúrgicas. A terapêutica natural se complementa à homeopatia e a alopatia deve ser usada apenas para situações graves, visto a toxidade destes medicamentos. A alopatia pode levar o organismo a um colapso, gerar doenças degenerativas, agravar as pré-existentes, levando até à necessidade de transplantes dos órgãos. Mas, ainda assim, jamais devemos afirmar que terapia natural é boa e alopata é ruim, pois as duas são tão importantes quanto complementares”. 

Ele é enfático ao informar que, atualmente, o AVC (acidente vascular cerebral) e as doenças relacionadas ao coração matam 47% da população: “É quase como dizer que, a cada 2 pessoas, 1 morre de enfarte ou derrame”, diz. Não existia descrição destas patologias na literatura médica até o fim do século XIX. Há 130 anos encontrou-se o primeiro registro descritivo de uma angina péctoris (dor forte que as pessoas têm no coração). São as doenças da nova civilização e a outra é o câncer. “Na Alemanha, país onde as pesquisas não são financiadas pela indústria de medicamentos e suas estatísticas são confiáveis”, diz ele, as pesquisas mostram que há 100 anos, num grupo de 30 pessoas, 1 morria de câncer. Hoje, num grupo de 3 pessoas, 1 morre do mesmo mal. Nos EUA a cada 2 pessoas, há 1 óbito pela mesma razão. A realidade é que, em quarenta anos, os hábitos alimentares da humanidade mudou mais do que no últimos milênio, devido à revolução industrial.

Se no início do século XX gordura e obesidade eram atrações circenses, aberrações, nos EUA de hoje, a cada 10 pessoas, 6 são obesas. É comum vermos pessoas andando de cadeiras de rodas porque não mais sustentam o peso do próprio corpo. Este é o retrato de uma sociedade de péssimos hábitos alimentares, que não almoça em família, come hambúrguer, cachorro-quente, pizza acompanhados de refrigerante ou milk-shake e assim faz sem nenhum critério de horário. 

Trigo, Açúcar e Sal Refinados – os três assassinos brancos

Com o advento do moinho de aço passou-se a processar o trigo integral, transformando-o neste pó branco refinado que ele é hoje. Sobre o açúcar refinado, uma pesquisa realizada na Inglaterra, em 1817, mostrava que cada inglês consumia, em média, 4Kg de açúcar por ano. Hoje, no Brasil, as pessoas consomem 75Kg anualmente. O outro vilão branco, o sal refinado, foi o terceiro ítem a conduzir a humanidade à explosão dos problemas cardiovasculares. Na dietoterapia a carne, mesmo a vermelha, não é abolida, pois não é vista como nociva, embora erroneamente responsabilizada pelas doenças do coração. 

Como antes as pessoas morriam de doenças carenciais e ligadas à falta de higiene - tuberculose, pneumonia, e outras relacionadas à carência de nutrientes necessários à alimentação -, a medicina não conhecia as bactérias e não calculava, por exemplo, as transmissões, pois não existia o conhecimento de hoje. Mas, na mesma proporção em que as doenças carenciais diminuíram, o número de doenças degenerativas aumentou. 

Perguntado sobre o envelhecimento atual da população, ele afirma que a ciência calcula tudo por média e que antes existiam inúmeros casos de pessoas vivendo além dos 100 anos, o que demonstra uma falácia da estatística. E cita o exemplo: “se eu comer uma maça e você não comer nada, para a estatística nós 2 comemos ½ maçã. Se antes 9 pessoas morriam nos primeiros anos de vida e 1 pessoa viveu 100 anos, para a estatística, todos morreram com 20 anos”. Nos mostra o quanto as análises estatísticas precisam de muito cuidado.

Os maus carboidratos

O açúcar refinado, encontrado nos refrigerantes, sorvetes, picolés, doces, chocolates, bolos, tortas, pudins, geleias, cremes, musses etc; o trigo refinado, presente no pão branco, biscoitos, macarrão branco, bolos, pizzas, pastéis, torta, panquecas, crepes e arroz parafinado, mesmo consumidos em pequenas quantidades, engordam muito. “Ninguém é gordo porque come gordura. As pessoas são gordas porque comem muito os maus carboidratos, embora as gorduras e frituras sejam inimigas do bom funcionamento cardíaco também, mas deveriam comer carbidratos apenas integrais.”, ensina.

“O que nos dá saúde não é tomarmos remédios todos os dias. O que nos dá saúde é identificar o que está no deixando mal e deixar de fazer ou consumir o que está causando a doença. Se o paciente não fizer essa mudança, mesmo com remédios e ervas, não ficará bem. Precisa identificar, parar de fazer o que está errado e depois tomar as medicações e ervas corretas”, salienta Dr Hoisel. 

Prêt-a-manger

Copiar o modelo estadunidense de se alimentar nos leva à predominância dos fast-foods. Na Inglaterra e na França existe hoje o prêt-a-manger (em português, pronto para comer), espécie de fast-food de comida natural, onde encontramo somente lanches de pão integral, suco de frutas, iogurtes e muita salada, uma oisa que se tornou comum nas ruas e estações de metrô de Londres e Paris. Os italianos, embora consumam muito pão e pizza, equilibram a alimentação com imensa quantidade de verduras. Dr Hoisel dá cursos frequentes para médicos na Itália, atende pacientes em consultas por lá e os alerta sobre o consumo dos alimentos refinados. Indica que as pessoas assistam ao documentário Super Size Me, no qual o cineasta Morgan Spurlock come, durante 30 dias, apenas alimentos na rede Mc'Donald's e este comportamento o faz engordar 11Kg, gera mudanças de humor, disfunção sexual e danos ao fígado.

Três pilares do emagrecimento

O básico para emagrecer é não consumir os maus carboidratos; se conscientizar do excesso de peso e toxinas, eliminando-os através de 5 a 6 evacuações por dia (isto só mediante consulta e acompanhamento médico) e fazer uma atividade física. O normal é que as pessoas evacuem 1 ou 2 vezes por dia. Evacuar fazendo força é sinal de algo em desequilíbrio e não evacuar diariamente é algo ainda pior. Uma atividade física, mesmo que simples caminhada, a troca do elevador pelas escadas, prática de dança ou esporte de leve impacto é suficiente para se exercitar. E dormir é tão importante quanto: uma pessoa adulta precisa de, no mínimo, 6h30 de sono a cada 24h, enquanto uma criança precisa minimamente de 8h, até porque, quanto mais ela dorme, mais cresce. 

Hoisel aponta a fome como o pior inimigo para quem deseja emagrecer. “A fome é corrupta e impulsiona as pessoas a comerem o que não deve. Aconselho meus pacientes em dieta a não ficarem com o estômago vazio. Deve-se comer muito o que é saudável para não ter desejo de comer o que engorda”, ensina. Explica que algumas frutas facilitam o emagrecimento - a maçã, abacaxi, melão e pera – e, sobre verduras de caloria zero, indica o nabo, pepino e jiló. 

Obeso na adolescência, Hoisel sentia reumatismo, dores na coluna devido a um problema congênito e tinha desidrose, o popular ácido úrico que ataca a pele das pessoas. Seu organismo foi seu primeiro paciente, pois onde testou tudo o que aprendeu, mudando radicalmente os hábitos de vida. Resultados: perdeu 35Kg, livrou-seu das dores e nunca mais teve manifestações em sua pele. “Ter ficado doente me ensinou a cuidar de mim e, a partir daí, aprendi a cuidar das pessoas. Hoje como bastante, esclareço que obesidade não é uma questão de quantidade e sim de qualidade ou da ausência desta.”, desabafa.

Reposição hormonal

Certa vez, convidado para dar uma palestra sobre como combater ou amenizar a TPM, elencou os cem sintomas que caracterizam o desequilíbrio e mal-estar, explicou que a mulher, quando no período menstrual, fica mais sensível e que tudo citado como sintoma de TPM é fígado, vesícula, rins ou bexiga intoxicados. Acredita que, se estes órgãos funcionarem normalmente, a mulher menstrua sem sofrer. Para casos de desequilíbrio hormonal, pode-se usar ervas medicinais e corrigí-los. Depois da indústria farmacêutica, este tipo de tratamento quase desapareceu, mas, aos poucos, está voltando”, completa. Doze plantas usadas hoje como fitormônios corrigem os sintomas causados pelo desequilíbrio sem precisar de hormônios sintéticos. Totalmente contra à reposição hormonal, diz que “se um dia tivermos um novo Tribunal de Nuremberg, daquele igual ao que julgou os crimes após a 2ª guerra, estarão sentados neste banco de réus, os produtores e distribuidores de hormônios porque o que estes sintéticos estão fazendo com as mulheres é de enorme brutalidade e horror”, alerta.

Imunologia – o futuro da ciência

As células brancas, os leucócitos e linfócitos são os que defendem o nosso corpo das agressões. Hoisel nos ensina a usar alimentos que dobrem a produção destas, fato já comprovado pela ciência. É sabido que podemos aumentar a quantidade de linfócitos no sangue e destruir bactérias, fungos, vírus e células cancerosas. Comendo determinados alimentos, potencializamos essa capacidade. As frutas e as verduras cruas aumentam a quantidade de linfócitos. O iogurte dobra a potência imunológica, mas deve ser o mais natural possível, não ter adição de açúcares, corantes nem conservantes. "Nosso imunológico está em nossas mãos, quem o estimula ou o deprime somos nós. A civilização atual arrasa seu sistema imunológico com má alimentação e, por isso, a cada 4 mortes hoje, uma é devido a câncer, que é a falência total deste sistema.”, esclarece. 

Algumas plantas medicinais, como a Unha de Gato, estimulam a produção de linfócitos e já recebeu edição inteira do programa Globo Repórter falando sobre seu poder modulador do sistema imunológico, mas não deve ser usada sem acompanhamento médico, pois é um poderoso antiflamatório e pode sobrecarregar o funcionamento renal. A graviola, o Ipê-roxo, também conhecido como Pau-d'Arco, o Cogumelo do Sol, e plantas como a Equinácea são todos estimulantes do sistema imunológico, pesquisados em diversas universidades dos cinco continentes. “Mas isto ainda não está dentro das universidades brasileiras porque o Brasil repete o padrão do sistema estadunidense de saúde, no qual comprar uma planta medicinal só é possível se for como complemento da alimentação, nunca como remédio.”, lamenta Hoisel. 

Depois de quase 2h de conversa e vários alertas sobre a necessidade de mudança nos hábitos diários das pessoas, Hoisel ainda se mantinha disposto a explicar minuciosamente qualquer questionamento lançado, tudo em prol de divulgar as benesses da boa alimentação à população. Tanto defendeu que os seres precisam se cuidar, que preferi deixar as palavras dele encerrando a matéria: “Quanto mais cedo o paciente se livrar de mim como médico, mais satisfeito fico. O meu dever é ensinar as pessoas a terem saúde, a cuidarem delas mesmas. No dia em que o paciente aprende a cuidar de si, se liberta de mim profissionalmente, mas poderá me ter como amigo a vida inteira porque eu o ensinei a ter saúde. É aí que alcanço o que para mim significa o sucesso, além da minha satisfação como médico”, conclui.

Serviço:
Dr Fernando Hoisel.
Dietoterapia e tratamento médico natural - Rua Alberto Serbeto Barros, 241, sala 1105, Itaigara.
Tel.: (71) 3359.2966

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