segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Para 9 entre 10 torcedores, Copa deixará imagem negativa



Desde que entrou no Comitê Organizador Local (COL) da Copa do Mundo, há pouco mais de dois anos, o ex-craque Ronaldo foi um pregador incansável do otimismo em relação ao evento — gravou campanha do governo federal, promoveu o torneio no exterior e até apareceu numa célebre propaganda da Brahma, vestido como um Tio Sam verde e amarelo, num cartaz que provocava quem duvida do sucesso do Mundial. Na última terça, porém, Ronaldo mudou de tom e lamentou publicamente o aperto para concluir os estádios a tempo. "Acho uma pena.
É o nome do nosso país lá fora. Não é bom passar essa imagem para o mundo", disse, num evento da própria Brahma no Maracanã, o palco da final da Copa. Escalado pela presidente Dilma Rousseff para ser o homem forte do governo no Mundial, o ministro Aldo Rebelo é outro que se abateu com os problemas desta reta final. Se antes zombava das preocupações com os prazos (chegou a dizer, no Senado, que os atrasos eram só "impressão" da população), o ministro agora se mostra alarmado com enroscos como o de Curitiba, que escapou de ser cortada pela Fifa na última terça. "Devemos confiar desconfiando. É preciso trabalhar duro", alertou. Até Jérôme Valcke, o irritadiço francês que serviu de xerifão da Fifa nos preparativos para o evento, tentou levantar a bola do Brasil num passado recente. "É muito difícil entender por que, em um país que vive e respira futebol, algumas poucas pessoas continuam a enxergar apenas aspectos negativos, mesmo que não haja nada de negativo", escreveu, há um ano, num texto divulgado no site da Fifa. Ao anunciar a manutenção de Curitiba entre as doze sedes, na semana passada, num seminário em Florianópolis, Valcke era a personificação do mau humor, destilando azedume a cada declaração sobre os compromissos assumidos — e descumpridos — pelos brasileiros. 

Os sinais de apreensão revelados por Ronaldo, Aldo Rebelo e Valcke, as personalidades mais emblemáticas da contagem regressiva para a Copa no Brasil, se refletem também na opinião pública. Faltando menos de quatro meses para a abertura, o retorno da grande festa do futebol ao país, mais de seis décadas depois do primeiro Mundial realizado por aqui, desperta sentimentos ruins no torcedor. Para mensurar esse clima de pessimismo, o site de VEJA reeditou uma pesquisa feita originalmente em julho de 2011, convidando os leitores a opinar outra vez sobre a Copa e o país-sede. O novo levantamento, realizado pelo Departamento de Pesquisa e Inteligência de Mercado da Editora Abril, registrou as impressões de 4.381 pessoas de todas as regiões brasileiras, que responderam a quinze questões ligadas ao evento entre os dias 17 e 19 de fevereiro. Se os resultados da sondagem de três anos atrás já eram ruins, o quadro que se desenha na nova pesquisa é extremamente preocupante para o governo e a Fifa. A visão dos entrevistados sobre a organização do Mundial piorou em todas as perguntas repetidas do levantamento anterior. Em 2011, 79% diziam que o país deixará uma imagem negativa na Copa; agora, nove em dez acham que o saldo será ruim para o país. Se antes 88% achavam que nem todas as obras ficarão prontas a tempo, agora 94% têm essa convicção. E se 32% pensavam que o evento deixará coisas boas ao país (excluindo-se os estádios), hoje esse contingente é de apenas 13%. Questionados sobre o que sentem quando pensam na Copa do Mundo, os entrevistados trocaram a "preocupação", resposta mais citada em 2011, com 58%, pela "vergonha", com 55%. No total, 87% afirmam que não estão satisfeitos com a realização do torneio no país (antes eram 73%) e 85% garantem que não estão ansiosos pelo início do evento (há três anos eram 75%).

Pesquisa VEJA: o brasileiro e a Copa-2014










Fonte: Veja

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