sexta-feira, 14 de março de 2014

‘Abdias Nascimento foi um despertador de consciências’

Embaixador do Benin junto à Unesco de 1999 a 2013, Olabiyi Yai está no Rio para homenagear o centenário de Abdias Nascimento e compara o ativista brasileiro a Malcolm X, Martin Luther King Jr. e Mandela

Olabiyi Yai foi embaixador permanente do Benin junto à Unesco de 1999 a 2013 Divulgação
Filho de um sapateiro com uma costureira, Abdias Nascimento foi pintor autodidata, escritor, jornalista, poeta, ator, deputado, senador e, acima de tudo, um ativista pioneiro na defesa das causas antirracistas na esfera da arte e da política. Na comemoração do centenário de seu nascimento, líderes negros de todo o mundo se reúnem num local emblemático para reverenciar sua memória: o Cais do Valongo, na Zona Portuária. É o local onde desembarcaram cerca de 500 mil africanos escravizados entre 1811 e 1843, em sua maioria vindos do Congo e de Angola. Na avaliação do professor Olabiyi Yai, que foi embaixador permanente do Benin junto à Unesco de 1999 a 2013, passados cem anos, o povo brasileiro ainda não entendeu a importância de Abdias na luta pela igualdade de direitos entre as raças. Olabiyi fala sobre o legado do ativista para o país.

Que legado Abdias Nascimento deixou para o país?

Ele foi um precursor corajoso, que lutou contra o mito da democracia racial no Brasil. Um mito que todos os governos brasileiros impuseram ao resto do mundo, desde a Independência do Brasil. Abdias Nascimento foi também um despertador de consciências. Os avanços no domínio da igualdade entre as raças no Brasil se devem a suas ideias e à sua luta. Abdias harmoniosamente combina um pouco de Malcolm X, Martin Luther King Jr. e Nelson Mandela, no contexto específico do Brasil.

O senhor acredita que esse legado ultrapassa o universo de lutas pelo povo afrodescendente no Brasil?

Acho que ele próprio não se pensava apenas como um afro-brasileiro. E o fato de os governos racistas do Brasil o forçarem a viver no exílio deu uma dimensão internacional e até universal ao seu legado. Ele é simplesmente um combatente pela justiça e pela igualdade universal entre humanos.

O senhor acha que os brasileiros reconhecem essa importância?

Com o tempo e com mais educação e mais justiça na sociedade em geral, ele vai subir ao nível que lhe é devido: o de um herói que lutou pela igualdade e pela paz no Brasil e no mundo. Não esqueçamos que o Brasil, depois da Nigéria, é o país com a maior população de negros.


Fonte: O Globo

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