quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Ala do PT propõe que Dilma reconheça erros na Petrobras

VALDO CRUZ
NATUZA NERY

A cúpula da campanha da presidente Dilma Rousseff está dividida sobre a melhor estratégia para enfrentar o escândalo da Petrobras, que arranha a imagem do PT na reta final da disputa pelo Planalto.

Um grupo avalia que a tática mais eficaz seria reconhecer que houve erros na gestão da estatal, insistir que os culpados devem pagar por eles e que a Justiça Federal dará a palavra final sobre a responsabilidade de cada um, buscando virar a página do escândalo.

Segundo a Folha apurou, são favoráveis a esta posição o marqueteiro da campanha João Santana, Miguel Rossetto, um dos coordenadores da campanha, Jaques Wagner, atual governador da Bahia, e Fernando Pimentel, governador eleito de Minas Gerais.

Outro grupo, integrado por Rui Falcão, presidente do PT, Aloizio Mercadante, ministro da Casa Civil, e Franklin Martins, da coordenação da campanha, acredita que Dilma deveria seguir na linha atual, defendendo a reforma política como escudo contra desvios e questionando as acusações feitas pelo ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef.

O tema foi debatido nesta semana em reunião da cúpula de campanha petista. Por enquanto, prevalece a tese do segundo grupo. O PT já anunciou que vai processar Paulo Roberto Costa por difamação.

A presidente Dilma, segundo interlocutores, até gostaria de optar pela estratégia de admitir que houve erros na estatal e tentar se descolar do escândalo da Petrobras. Mas resiste, ainda, por acreditar que compraria briga com o PT na reta final da campanha.

Nos dois grupos, há dúvidas, porém, se o reconhecimento de erros na agenda ética não alimentaria ainda mais a ofensiva do PSDB na propaganda eleitoral no rádio e na TV.

Os defensores da tese de que a candidata petista deveria admitir desvios dizem que Dilma poderia adotar o lema de que a Justiça deve cuidar dos criminosos, sejam eles quem forem, e que cabe à presidente da República cuidar do Brasil.

Segundo auxiliares da petista, o desgaste do governo só aumentará se o PT e o Palácio do Planalto optarem apenas por uma postura reativa. Como na semana passada, em que negaram as irregularidades e atacaram a divulgação dos depoimentos do ex-diretor da Petrobras e do doleiro Youssef à Justiça.

Um interlocutor de Dilma disse que será um erro o PT ficar insistindo na tecla de que as declarações do ex-diretor e do doleiro são caluniosas. Segundo ele, os áudios divulgados e a informação de que Paulo Roberto Costa vai devolver R$ 70 milhões frutos de corrupção dão credibilidade a, no mínimo, parte importante das acusações contra o partido.

Em depoimento à Justiça, o ex-diretor afirmou que o esquema de corrupção na estatal irrigou campanhas de três partidos nas eleições de 2010: PT, PMDB e PP.

DIVERGÊNCIA

O receio é que, nos próximos dias, surjam mais novidades do escândalo, com citação de envolvimento de assessores do governo e de aliados, o que deixaria a presidente em situação ainda mais difícil.

Pesquisas qualitativas mostram que já se cristalizou na opinião pública a visão de que existia, de fato, um esquema de corrupção dentro da Petrobras.

A cúpula petista, porém, não concorda com essa visão. Diz que o partido e o governo não podem ficar acuados diante das denúncias e que precisam se defender. O PT acredita ser vítima de uma armação política para tentar derrotar Dilma na eleição.

Enquanto a divergência dá sinais de que tanto o partido quanto o governo ainda não encontraram a fórmula ideal para blindar a presidente no debate sobre corrupção, petistas afirmam que a saída para a vitória em 26 de outubro é reconquistar parte do eleitorado de classes mais pobres que votou com Aécio Neves (PSDB) ou Marina Silva (PSB) no primeiro turno.


Fonte: Folha de S. Paulo

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