quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Onde há fumaça...

Jornalista que investiga caso dos ferries gregos vendidos à Bahia recebe ameaças

O jornalista Fernando Conceição, professor da Faculdade de Comunicação da UFBA, que está em Portugal em atividades acadêmicas na Universidade de Coimbra, publicou em seu blog novas informações sobre a série de reportagens envolvendo a polêmica compra dos navios gregos pelo Governo da Bahia.


Essa foto do governador Jaques Wagner com um dos sócios da Happy Frontier foi encaminhada pelo advogado da companhia ao jornalista Fernando Conceição. O advogado diz através de e-mail a Fernando que foi Wagner quem visitou o sócio da empresa "para o felicitar pelo excelente trabalho que estão a realizar para o Estado da Bahia e as suas populações”. O português João Carlos Palmeirão de Melo encontrava-se em Salvador para acompanhar os testes dos navios gregos e foi visto circulando com desenvoltura com diretores da Agerba e Seinfra no Terminal de São Joaquim. Circulou muito também nas sedes da Seinfra e da Agerb, no CAB.


REDAÇÃO DO JORNAL DA MÍDIA


O jornalista baiano Fernando Conceição, professor da Faculdade de Comunicação da UFBA, que investigou e descobriu que a empresa Happy Frontier tem como sede as instalações de um salão de beleza em Portugal, está se sentindo ameaçado pelo advogado da companhia. A Happy Frontier é a empresa que vendeu os dois ferries gregos usados ao Governo da Bahia por R$ 56 milhões, negócio considerado pelo conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, Pedro Lino, com "fortes indícios de fraude, estelionato e crime de comércio internacional".

Originalmente, os navios foram vendidos na Grécia por 11,5 milhões de euros, conforme documentos oficiais do Governo da Grécia, divulgados com exclusividade pelo JORNAL DA MÍDIA em 17 de ssetembro. Para o Governo da Bahia, os navios, que têm cinco anos de uso, saíram pela bagatela de 18 milhões de euros, ou R$ 56 milhões.

Em troca de e-mails com o jornalista Fernando Conceição, que está em Portugal em atividades acadêmicas na Universidade de Coimbra, o advogado da Happy Frontier afirmou que iria avaliar o teor da ampla reportagem publicada no último dia 8 de outubro pelo repórter em seu blog e reproduzida na íntegra pelo JORNAL DA MÍDIA. 

"Vou avaliar os procedimentos, judiciais ou outros, a adotar", sustentou o advogado em um dos e-mails. Na reportagem que publicou ontem, Fernando Conceição relata que, em tom menos agressivo, o advogado tinha enviado em anexo a uma mensagem anterior, uma foto considerada por ele (o advogado) como importante para a "matéria, que documenta a visita que o Sr. Governador da Bahia fez ontem a um dos sócios da Happyfrontier, Lda., para o felicitar pelo excelente trabalho que estão a realizar para o Estado da Bahia e as suas populações”.

Fernando Conceição relata também que, antes da troca de e-mails, foi recebido no escritório da Happy Frontier pelo advogado dia 1º de outubro. ''Na ocasião, ao ser instado a levar o repórter à sede da Happyfrontier, o representante da empresa se negou fazê-lo. Dias depois, por telefone, ao ser informado sobre o salão de beleza, reagiu peremptório: “Deve haver algum engano”.

O repórter insistiu, informando que esteve na Rua D. Afonso de Noronha, nº 10, 1º andar à esquerda, dado como sede oficial da Happyfrontier, e que ali funciona o Milu Cabeleireiro de mulheres. O advogado novamente reafirma: 

“Não sei… É um escritório. Deve haver algum engano”.

Suspensão do Pagamento - A propósito ainda das suspeitas de superfaturamento dos dois navios adquirido pelo Governo da Bahia, a promotora Rita Tourinho, do Ministério Público da Bahia, decidiu reabrir o processo para apurar o caso, atendendo pedido do conselheiro Pedro Lino. Segundo o JM apurou, a promotora já solicitou, em caráter administrativo, à Secretaria de Infraestrutura (Seinfra) a suspensão da parcela final de pagamento dos navios, que corresponde a 35% do valor das duas embarcações. O processo do MP-BA foi aberto (e reaberto) após denúncias documentais entregues pelo empresário Marcos Espinheira ao MP e também ao Tribunal de Contas do Estado. Na última sexta-feira Espinheira e a empresária Lenise Ferreira, autora de várias denúncias ao MP, estiveram com a promotora Rita Tourinho na sede da instituição. (Leia outras informações logo mais no JM)

O ADVOGADO DA HAPPYFRONTIER declarou não saber “se vieram cá ou não” [a Lisboa] as autoridades do governo baiano que fecharam negócios de € 18 milhões (aproximadamente R$ 56 milhões) com a empresa portuguesa, cuja sede é um modesto salão de cabeleireiro, para aquisição de dois navios para a travessia Salvador-ilha de Itaparica.

A uma série de novas perguntas enviadas para ele por e-mail, o representante da empresa reagiu nesta segunda-feira (13/10) afirmando que seus clientes “não têm mais esclarecimentos a prestar”, diante da recente publicação feita com exclusividade por este repórter.

O tom de conclusão de sua resposta por e-mail é de ameaça: 

“No que me diz pessoalmente respeito, e ao teor da notícia já publicada, vou avaliar os procedimentos, judiciais ou outros, a adoptar.”

Em tom menos agressivo, no dia 5 de outubro o advogado já havia enviado uma mensagem por e-mail para este repórter, que tentara contatar diretamente dois dos três sócios da Happyfrontier. Ali ele afirmava que “todos os contactos que entenda fazer, deverão ser feitos através do meu escritório e de mim próprio”.

Na mensagem o advogado diz aproveitar a oportunidade, e porque pode ser do interesse para a “matéria” [aspas dele] em que está a trabalhar, para enviar uma fotografia “que documenta a visita que o Sr. Governador da Bahia fez ontem a um dos sócios da Happyfrontier, Lda., para o felicitar pelo excelente trabalho que estão a realizar para o Estado da Bahia e as suas populações”.

Sede da Happy frontier é um salão de beleza



“DEVE HAVER ALGUM ENGANO” - O advogado, que na tarde de 29 de setembro, depois de saber da apuração, fez por telefone o primeiro contato com a reportagem, recebeu nessa condição este repórter, que assim se identificou, apresentando credenciais de jornalista, em seu escritório na tarde de 1º de outubro para falar sobre o assunto.


Na ocasião, ao ser instado a levar o repórter à sede da Happyfrontier, o representante da empresa se negou fazê-lo. Dias depois, por telefone, ao ser informado sobre o salão de beleza, reagiu peremptório: “Deve haver algum engano”.

O repórter insistiu, informando que esteve na Rua D. Afonso de Noronha, nº 10, 1º andar à esquerda, dado como sede oficial da Happyfrontier, e que ali funciona o Milu Cabeleireiro de mulheres. O advogado novamente reafirma: 

“Não sei… É um escritório. Deve haver algum engano”.

Novamente confrontado com a informação de que a reportagem havia estado com a dona do salão, e ser esta sogra de João Carlos Palmeirão de Melo, o advogado passa a considerar ser possível uma empresa “ter o escritório em um sítio e a sede no outro lado, não é?”.


A sede da empresa em Portugal que assinou 
contrato de R$ 56 milhões com o governo baiano
EMPRESA DE PORTE NÃO PRECISA DE PORTE - O repórter disse estranhar ser considerado normal uma empresa de grande porte que, apenas no Brasil, faz negócio de €18 milhões, funcione em salão de beleza. Sem funcionários, sem placas indicativas. Indagou ao advogado em “qual outro lado” a Happyfrontier funcionaria. Ele preferiu não responder.


“Olha, eu quero te dizer isto”, prosseguiu o representante da Happyfrontier. “Quando se fala em empresas de porte, não têm que ter esse porte (sic!). As empresas vivem sem precisar de estrutura. Aliás, cada vez menos tem estrutura. Até podia ter um daqueles escritórios virtuais que tantas empresas têm.”

Mesmo para fazer negócios multinacionais com governos como o da Bahia, o advogado entende que empresas como a sua “não tem que ter” espaço físico. E revelou: “Eles não recebem clientes”.

Então, indagou o repórter, o governo baiano fechou a compra virtualmente?

O advogado responde que foram “verificar os navios [na Grécia], mas, atenção!, eu não sei se vieram cá ou não” [na sede da empresa em Lisboa].

TCE VÊ INDÍCIOS DE CRIME E PEDE INVESTIGAÇÃO - Este repórter, que é contribuinte no Estado da Bahia, deu com exclusividade a informação de que a Happyfrontier funciona em apartamento de um conjunto residencial de classe média baixa, propriedade da sogra de um dos sócios-gerentes que fez o negócio com o governo de Jacques Wagner (PT) em novembro de 2013.

Todo o processo foi coordenado pelo vice-governador Otto Alencar (PSD), que acaba de ser eleito senador, até março de 2014 titular da Secretaria de Infraestrutura. De acordo com o governo, foi tomado um empréstimo junto ao Banco do Brasil para a aquisição dos ferries para a travessia Salvador-ilha de Itaparica.

Um dos conselheiros do Tribunal de Contas do Estado, Pedro Lino, viu “fortíssimos indícios de crimes” na licitação e denunciou o fato ao Ministério Público da Bahia. Como a transação envolve moedas internacionais e empréstimo do Banco do Brasil, há a possibilidade de ser investigada por autoridades federais.

ADVOGADO NEGA ALTERAÇÃO DE CONVENIÊNCIA - Por estar residindo em Portugal para atividades de investigação acadêmica relacionadas ao seu campo de estudos nas áreas de comunicação, cultura, poder e relações institucionais, este repórter resolveu apurar o negócio. De posse do endereço oficial da Happyfrontier, constatou tratar-se de um salão de cabeleireiro.

Depois, telefonou para o número da empresa. Ninguém atendeu. Resolveu telefonar para o número do salão e ao ser atendido, perguntou pelo sócio-gerente da Happyfrontier.

Foi informado pela sogra, também cabeleireira e que disse fazer a faxina do escritório, que o mesmo se encontrava “em viagem, pelo Brasil”. Deixou seu número de contato. Horas a seguir, o advogado marcou a entrevista em seu escritório.

O advogado sustenta que a alteração feita em abril de 2014 do objeto da Happyfrontier, fundada em 2008 para comércio de vídeos e materiais domésticos, conforme revelado na matéria anterior por este repórter, não se relaciona à adequação ao resultado da licitação da Seinfra ganha em novembro de 2013.


Fonte: Jornal da Fonte

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