terça-feira, 4 de novembro de 2014

“Cabeça de negro” abandonada

A Basilicata equivale ao “peito do pé da bota” do mapa da Itália. É uma das regiões mais pobres do país. As excelentes rodovias que cortam as montanhas do sul da Itália (Calábria, Basilicata e Puglia), nos faz refletir sobre o fato de que se um país é desenvolvido, tem que ser por um todo. Não vale ser pela metade. O Sul da Itália equivale ao Nordeste do Brasil. É a região mais pobre e discriminada. Os italianos do norte costumam hostilizar os do sul criando uma imagem de que são a escória do país.

Seguimos até Matera, no alto de uma colina. Foi a cidade que Mel Gibson escolheu para servir de cenário para o polêmico “A Paixão de Cristo”. Foi morada troglodita de povos antigos, que escavaram a rocha para criar cavernas. As cavernas foram transformadas em casas ocupadas até hoje. Algumas delas são igrejas e outras viraram museus. Matera parece um presépio. As casas cavernas se amontoam umas sobre as outras e as ruas estreitas passam por cima de tetos que são identificados pelo encontro ocasional com chaminés que brotam do chão.

Até a década de 60 Matera era ocupada por uma turba de miseráveis. O governo interveio, construiu moradia para a população que foi retirada daí. As casas cavernas foram recuperadas e transformadas em hotéis, bares, restaurantes, lojas de artesanato e galerias de arte. Hoje a cidade vive do turismo e atrai visitantes do Mundo inteiro.

As ruas de Matera são de pedras milenares. Charmosas e muito bem assentadas.

A semana passada fui visitar a Casa Cor implantada numa belíssima chácara em pleno Centro Histórico de Salvador, no bairro de Santo Antônio. 

Segui pela Baixa dos Sapateiros e subi a Ladeira do Carmo. Senti uma tristeza profunda. A ladeira está abandonada. O piso de pedra (Cabeça de Negro) está aos frangalhos. Pedras soltas, buracos e um calçamento mal feito e muito irregular. A sensação de abandono é clara.

O Centro Histórico de Salvador é um patrimônio soteropolitanos de valor inestimável. Em qualquer lugar do Mundo mais responsável com o seu patrimônio, estaria bem cuidado e teria uma atenção especial.

As eleições presidenciais no Brasil trouxeram ao debate a insistência do PT e do PSDB em discutir a paternidade dos programas sociais, como se eles tivessem a obrigação de ter donos. Aécio se esforçou em dizer que não era bem assim. Os programas sociais não são do PT, são do Brasil e como tal devem ser aperfeiçoados e continuados. Teve dificuldade de convencer.

O Centro Histórico de Salvador foi prioridade na época em que ACM comandava a Bahia. Houve uma ampla reforma, foram criados estacionamentos, teatros, hotéis, bares, restaurantes, lojas de artesanato e galerias de arte.
Quando o PT chegou ao poder na Bahia, achou que o projeto do Centro Histórico era de ACM e não da Bahia. O Pelourinho ficou abandonado, a economia minguou e os turistas desapareceram.

A reforma do Pelourinho não tem dono. 

É Patrimônio Histórico e Cultural Mundial.

* Joaquim Nery é professor, empresario e autor do blog Um pouquinho de cada lugar no correio24horas.com.br


Fonte: Correio 24 Horas

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