segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Para ministra Marta Suplicy, uso da Lei Rouanet em desfiles inicia nova política cultural

Flavia Guerra e Mariana Belley, de O Estado de S. Paulo


Quebra de paradigmas. Assim vem sendo vista pelo mundo da moda e pela ministra da Cultura Marta Suplicy a aprovação do projeto de três estilistas brasileiros para captar, por meio da Lei Rouanet, cerca de R$ 7, 6 milhões para a realização de desfiles. Pedro Lourenço irá receber R$ 2, 8 milhões para desfilar na Semana de Moda de Paris; Ronaldo Fraga será contemplado com R$ 2 milhões para realizar suas duas próximas coleções e desfiles na São Paulo Fashion Week e, a partir daí, realizar mostras relacionadas aos temas abordados, tais como Mário de Andrade, João Cabral de Melo Neto e o artesão Espedito Seleiro. Alexandre Herchcovitch vai poder captar R$ 2, 6milhões, para criar sua próxima coleção, que irá desfilar em Nova York e na SPFW.

A medida que leva em conta que a moda, mais que indústria têxtil, não é só indústria criativa como também bem cultural tem gerado debates dentro e fora do mundo fashion. Bastou a aprovação do projeto de Lourenço, após intervenção da ministra Marta junto à Cnic (Comissão Nacional de Incentivo à Cultura) - que havia primeiramente aprovado os projetos de Fraga e Herchcovitch, mas negado o de Lourenço - para que se levantasse uma polêmica em torno da questão: 'Moda é cultura?"

"Há quem não entenda moda como cultura. A própria Cnic acredita que a relação custo-benefício não se justifica", declarou Marta ao Estado. "Pensar assim é negar o que uma semana de Paris significa para a moda brasileira.

O que traz de mídia e negócios. É absolutamente justificável para o Brasil conseguir com que um estilista nacional entre no calendário. O retorno a médio e longo prazo é imenso. E contribui para mudar muita coisa", continuou Marta. "Minha intervenção se deu no sentido de quebrar este padrão e gerar um novo paradigma. Isso não é um incentivo ao Pedro, pessoalmente, mas para a criação de uma imagem positiva do País e para o desenvolvimento da moda nacional."

Além da visão da moda como setor cultural, o valor proposto pelos projetos foi questionado pelos contrários à aprovação. "Houve uma polêmica porque esse foi o primeiro projeto no setor de moda no Cnic. O valor é relativamente grande, foge à nossa normalidade. Houve divisão de opiniões. Mas a moda já é considerada cultura. Isso não depende da Lei Rouanet", declarou Luís Torelli, membro do Cnic. "O relatório se baseou na questão da acessibilidade, que sempre foi uma prerrogativa muito importante para nós, mas a ministra, por lei, não tem obrigação de concordar com o parecer dos conselheiros e não precisa necessariamente aprovar as recomendações do Conselho."

Sobre a decisão, Lourenço declarou: "Não pedi a ajuda da ministra. A decisão da Cnic foi muito frágil e preconceituosa e decidimos recorrer". E acrescentou: "Meu investimento de tempo, energia e dinheiro não é somente um projeto pessoal, mas também pode abrir portas no futuro para jovens talentosos e potenciais grandes estilistas, e incentivá-los a expressar suas vozes no mundo globalizado".

Lourenço, de 23 anos, comenta também que ele e Herchcovitch enfrentam diversas dificuldades para estabelecer suas marcas no mercado internacional. "Espero que a próxima geração possa concretizar isto com maior incentivo do governo, assim como outros países fizeram pelos seus estilistas. Torço para que o Brasil tenha uma voz na moda global e influencie o mundo como os belgas e os japoneses fizeram na moda entre os anos 1980 e 1990."

Fraga afirmou que seu projeto não contempla só o desfile. "O dinheiro é para o custo da coleção, portanto, envolve costureira, modelista, os artesãos, a remuneração. Meu desfile não vai poder acontecer na Bienal", acrescentou ele, calculando que, para criar um desfile para a SPFW, gasta em torno de R$ 500mil. "Dizem que o valor é caro, mas se considerarmos, por exemplo, que o Pedro vai gastar também em euros, o valor é razoável", completou.


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