terça-feira, 11 de novembro de 2014

Racismo aqui, não!

Grupo acusa bateria da medicina da USP Ribeirão Preto de racismo

Marca da Campanha Racismo, aqui não!
Criação do publicitário João Silva
ISABELA PALHARES

"a morena gostosa", a "loirinha bunduda" e a "preta imunda".

É assim que um hino da bateria da faculdade de medicina da USP Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo), chamada Batesão, se refere às mulheres.

O caso foi denunciado pelo Coletivo Negro do campus da universidade e será discutido na Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo) nesta terça-feira (11).

A música, com conotação sexual, é cantada em jogos universitários e durante festas da faculdade e foi divulgada neste ano em um manual para calouros do curso, junto com camisetas da atlética da medicina.

De acordo com o Coletivo, que surgiu há cerca de quatro meses após um aluno da faculdade de direito ser ameaçado de morte e sofrer injúrias raciais no estacionamento da USP, várias músicas do manual têm conteúdo machista.

"A Batesão assume seu lugar de senhor de escravos, pega o chicote e violenta mais uma vez as mulheres negras, se não pelo estupro, pela subjugação do nosso corpo negro", afirma o grupo em nota.

O Coletivo disse que estuda entrar com uma ação judicial contra a faculdade de medicina ou a atlética, da qual a bateria faz parte.

Em nota, o professor Hélio Cesar Salgado, vice-diretor da faculdade de medicina, disse que "se surpreendeu" com a letra da música e que repudia esse tipo de atitude.

Ele informou que o caso será examinado pela direção.

Ninguém da Atlética Acadêmica Rocha Lima, da medicina, ou da Batesão quis se pronunciar sobre o material e as acusações.

Em nota divulgada em uma rede social da Batesão, o grupo diz que as músicas são "históricas" e foram criadas há muito tempo, quando "racismo e preconceitos eram comportamentos corriqueiros".

As letras teriam sido mantidas por um "descuido".

A bateria ainda se desculpa e diz que a música não é mais cantada na faculdade.

PRECONCEITO

A socióloga Renata Gonçalves, professora da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), afirmou que há um preconceito institucional na universidade.

"A justificativa para que ninguém, a faculdade ou a USP tome uma atitude é que isso sempre aconteceu. Essas músicas sempre existiram", disse Renata.

De acordo com a socióloga, que montou um grupo de análise dos hinos dos centros acadêmicos da Unifesp, a USP, que deveria ter uma posição enérgica contra o preconceito, acaba por "encobertá-lo".

"É muito preocupante por se tratar de alunos da mais importante universidade do país. Eles sabem que estão sendo preconceituosos porque acobertam a atitude, mas ainda assim a fazem por entender que é só uma brincadeira", afirmou. 


Fonte: Folha de S. Paulo

Nenhum comentário:

AS MAIS ACESSADAS

Da onde estão acessando a Maria Preta