terça-feira, 14 de abril de 2015

Obama enfrenta Correa, critica prisão de dissidentes e defende liberdade de imprensa

Obama ao lado da diplomata Susan Rice, 

do Conselho de Segurança Nacional na 
primeira sessão plenária da Cúpula das 
Américas, no Panamá
Presidente americano fez duras críticas aos líderes de Equador e Venezuela na Cúpula das Américas

CIDADE DO PANAMÁ - De improviso, após um discurso agressivo contra o suposto imperialismo americano proferido pelo equatoriano Rafael Correa, o presidente dos EUA, Barack Obama, entrou no confronto e fez duras críticas ao líder do Equador e, antecipando-se, ao governo do venezuelano Nicolás Maduro. Ironicamente, em sua intervenção na sessão plenária da VII Cúpula das Américas, Obama disse que apreciava “as lições de História” que recebia durante as cúpulas, mas que elas não dissipavam violações de direitos humanos e ataques à liberdade de imprensa, valores que os EUA, afirmou, continuarão a defender em toda a região.


Antes de Obama, Correa havia dedicado seus 12 minutos de discurso aos chefes de Estado e governo para acusar os EUA de insistir na tática de ingerência e desestabilização da América Latina, especialmente de países como Venezuela e Equador, que, segundo ele, fizeram uma revolução que contraria interesses americanos. Ele repassou episódios de agressão dos EUA na região e no mundo, como a invasão ao Panamá em 1989, e destacou que os EUA derrubaram ditadores que um dia apoiaram.

Correa apontou ainda incoerências americanas, como o fato de Thomas Jefferson ter escrito uma declaração de independência que estabelecia o direito igual de todos os homens quando ele e outros pais fundadores dos EUA tinham escravos. O equatoriano disse ainda que a defesa da liberdade de imprensa feita pelos EUA atende a interesses próprios e ignora que na América Latina “há uma imprensa ruim”, que atrapalha o desenvolvimento dos povos.

— Os povos não aceitam mais a ingerência e a agressão norte-americanas — disse Correa, que pediu a revogação da ordem executiva da Casa Branca que sanciou sete autoridades venezuelanas e a classificação da Venezuela como ameaça à segurança nacional americana.

Obama reconheceu que os EUA nem sempre foram consistentes em sua luta pela democracia ao redor do mundo e não são perfeitos, mas, por experiência própria, valorizam uma sociedade livre, aberta, onde há pressões por constante mudança, como na luta pelos direitos civis.

Para ele, ataques aos EUA são foram de escamotear problemas políticos domésticos e não resolvem o problema da fome, da educação, do crescimento e da inclusão. Obama disse a Guerra Fria acabou há muitos anos e que ele não tem interesse em lutar batalhas que começaram antes de seu nascimento. E garantiu que os ataques não abalam o compromisso americano com valores universais.

— Quero deixar bem claro que quando nos pronunciamos sobre questões como direitos humanos, não é porque achamos que somos perfeitos, mas porque achamos que a ideia de não se prender pessoas que discordem de você é a ideia certa — afirmou Obama. — Nós vamos continuar a nos pronunciar nestes assuntos, não porque temos interesse em interferir, mas porque sabemos, pela nossa própria História. Quando o doutor (e reverendo Martin Luther) King estava na prisão, pessoas fora dos EUA se pronunciaram em seu favor. Eu estaria traindo nossa História se eu não fizesse o mesmo.

Ele afirmou ainda que, nos EUA, as críticas da imprensa não são caladas:

— Talvez o presidente Correa seja mais confiante do que eu em distinguir entre imprensa boa e imprensa má. Há um monte de imprensa que eu acho ruim, principalmente porque me critica. Mas eles continuam se pronunciando nos EUA. Porque eu não tenho confiança em um sistema em que uma única pessoa faz esta determinação.

por FLÁVIA BARBOSA CATARINA ALENCASTRO - O Globo

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