Lorena tem 12 anos e agora vai à escola sorrindo com seu cabelo black power. Mas não era assim até o mês passado, quando foi vítima de racismo por colegas de turma no colégio estadual onde estuda, em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Segundo sua mãe, Camila dos Santos Reis, a menina sofreu agressões verbais por causa de sua cor e seu cabelo. A web designer conta que criaram grupos no WhatsApp para insultá-la por mensagens de voz. Lolô, como é conhecida carinhosamente, ouviu e chorou calada. Até que o preconceito chegou aos ouvidos da mãe, que fez barulho nas redes sociais.
O primeiro desabafo de Camila no Facebook foi curtido por mais de 107 mil pessoas e compartilhado por quase 75 mil. No post, ela conta que Lolô lhe enviou uma mensagem, dizendo: “Olha o que eu sofro”. Na sequência, cerca de 20 áudios ofensivos que recebeu de colegas da sua idade, como “Sua preta, testa de bate bife”, “Eu sou racista mesmo”, “Você vai ficar neste grupo até chorar”, “Cabelo de movediça, de macarrão” e outros impublicáveis. Na época, ela usava canecalon (tranças de cabelo artificial).
Duas semanas depois, Camila postou no Facebook nova denúncia, de que a direção da escola havia trocado Lolô de turma porque “ela não se adaptou às outras crianças”. A decisão, segundo a mãe, foi tomada depois de uma acareação entre sua filha e seus agressores verbais, em que a menina teria tido que pedir desculpas a eles. Dessa vez, a garota não apenas chorou, como teve febre alta, foi diagnosticada com estresse pós-traumático e não queria voltar mais à escola.
— Depois que a diretora teve a infeliz atitude se fazê-la pedir desculpas para os agressores, ela ficou uma semana em casa, não tinha condições de ir às aulas. Mas, mesmo assim, ela não queria trocar de escola, pois dizia que não fez nada de errado para sair da escola, que quem tinha que mudar eram os alunos e a postura da diretora.
Após a repercussão nas redes sociais, motivada pelas páginas do Facebook “Preta e Acadêmica” e “As vantagens de se enrolar” (uma referência aos cabelos), as coisas começaram a melhorar.
— A escola foi muito resistente, aconteceram coisas muito chatas, houve negligência, mas, depois da intervenção do Conselho Tutelar, do Departamento de Políticas Afirmativas de São Bernardo e da Secretaria de Educação, a escola entendeu a necessidade de tomar providências corretivas em relação aos agressores. Os pais dos alunos enfim foram chamados. Quanto às medidas socioeducativas ou corretivas que foram tomadas, prefiro não me pronunciar — disse Camila.
No DCM
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