O jeitinho brasileiro foi promovido de vergonha nacional a centro da cultura estratégica brasileira. E com ensinamentos a serem divulgados mundo afora.
Pelo menos ao levar em conta que o modo de agir peculiar foi tema de palestra a empresários ligados à Câmara de Comércio França Brasil (CCFB) na segunda-feira (17), em São Paulo.
O professor responsável pela análise foi o francês Pierre Fayard, do Instituto Franco-Brasileiro de Administração de Empresas (IFBAE), estudioso das culturas estratégicas (principalmente China) e professor da Universidade de Poitiers, na França.
"É um tema que parece pequeno, mas é grande. O jeitinho tem componentes que são vistos como negativos, mas também há alguns que são bem positivos. É uma coisa bem milagrosa para nós, franceses", disse ele à Folha.
Segundo Fayard, o jeitinho se caracteriza por uma mistura de capacidade de achar solução para qualquer problema sem desistir facilmente, cordialidade e uma certa amoralidade.
"Na cultura do jeitinho, a cabeça está aberta a qualquer possibilidade, regular ou não. Vai dar certo e, se não der, ainda não chegou ao fim", disse, ecoando o escritor Fernando Sabino (1923-2004).
Para ele, é espantoso como, durante o período hiperinflacionário dos anos 1980 e 1990, faziam-se negócios no Brasil, o que considera que seria impossível na Alemanha ou na França.
SIMPATIA
Adeptos do jeitinho fogem do conflito direto e, usando de simpatia, adaptam-se às ações do outro para atingir um objetivo específico, algo que lembra os ensinamentos do general chinês Sun Tzu (544 a.C. - 496 a.C.), que escreveu o clássico "A Arte da Guerra", diz.
Devido a sua insistência em andar fora da linha, o jeitinho, quando bem aplicado, tende a ficar invisível.
Enquanto EUA e países da Europa glorificam a figura do herói e há literatura explicando suas estratégias, o fenômeno do jeitinho brasileiro, até agora, foi estudado apenas do ponto de vista sociológico, por autores como Roberto DaMatta.
Mas, para evitar que o jeitinho ultrapasse o mundo corporativo e descambe para escândalos nos negócios, Fayard diz que a estratégia brasileira deve ser mais estudada.
Segundo o professor, existem virtudes e limitações. Entre seus defeitos estão seu egoísmo e sua visão de curto prazo. FILIPE OLIVEIRA DE SÃO PAULO - UOL
Nenhum comentário:
Postar um comentário