terça-feira, 17 de novembro de 2015

Das 12 cidades-sede da Copa entregou principal obra até agora


11 das 12 obras consideradas prioritárias dentro do planejamento brasileiro em mobilidade urbana para a Copa do Mundo de 2014 ainda não estão prontas ou já foram abandonadas pelo poder público. Dessas, nove só ficarão prontas depois dos Jogos Olímpicos de 2016, com mais de dois anos de atraso.

Em janeiro de 2010, o Governo Federal e os governos estaduais, do Distrito Federal e das 12 cidades-sede assinaram a chamada Matriz de Responsabilidades da Copa, que continha, entre outras metas, a principal obra de mobilidade urbana a ser erguida em cada cidade, sempre um sistema de corredor de ônibus ou de transporte urbano sobre trilhos.

O planejamento trazia previsões de início e término das obras, custos para cada ente administrativo (União, governos estaduais e municipais) e divisão das responsabilidades na execução dos projetos.

Uma apresentação do Ministério do Esporte de janeiro de 2011 apontou a principal obra em cada um dos municípios que recebeu jogos durante o Mundial de futebol, bem como a previsão de custo e divisão dos pagamentos em cada projeto.


Conforme anunciava o Ministério do Esporte à época, todos os projetos estariam finalizados e em funcionamento até dezembro de 2013. Este plano - o de desenvolvimento da mobilidade urbana nas 12 capitais brasileiras que receberiam os jogos da Copa - era considerado o grande legado do evento internacional.

Veja, abaixo, como está atualmente cada uma das 12 principais obras viárias planejadas para a Copa de 2014.
Como estão as principais obras da Copa?Mariana Melo/NITRO/UOL


1
Belo Horizonte: duas mortes e três anos de atraso em corredor
O projeto previa um corredor exclusivo de ônibus do tipo BRT (Bus Rapid Transit, na sigla em inglês), com 25 estações e 16 quilômetros de extensão, ligando o aeroporto de Confins ao centro da capital mineira, passando próximo ao complexo esportivo onde está situado o estádio do Mineirão. 

Em janeiro de 2010, o governo previu que estivesse pronto em setembro de 2012. Durante a Copa das Confederações, em junho de 2013, entulho, vigas de madeira e de metal e outros objetos serviram de armas nas mãos dos manifestantes que enfrentaram a polícia ao fim de uma marcha que teve início no centro da cidade e pretendia terminar em frente ao Mineirão, mas que foi bloqueada pela PM ainda na avenida Antônio Carlos, com livre acesso ao quilométrico canteiro da obra.

No dia 3 de julho de 2014, durante a realização da Copa no Brasil, um viaduto ainda em obras do sistema viário na avenida Pedro I desabou, matando duas pessoas. Já em abril deste ano, um relatório encomendado por uma equipe pericial da Polícia Civil de Minas Gerais concluiu que a construção de três viadutos erguidos na avenida Pedro I continham erros em série de projeto, execução e fiscalização.

A obra foi entregue à população no fim do primeiro semestre deste ano, mas até hoje seguem feitos reparos e ajustes pontuais ao longo do trajeto. Lula Marques/Folhapress


2
Brasília: trem vai ficar pronto para a Copa da Rússia-2018
Uma linha de VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) era a principal obra de mobilidade urbana de Brasília para o Mundial de 2014. O sistema de trens urbanos deveria ligar o aeroporto ao terminal de ônibus da Asa Sul.

O processo licitatório realizado pelo Governo do Distrito Federal foi concluído em 2010. No início do ano seguinte, já havia liminar na Justiça paralisando os trabalhos. Em abril de 2011, a Justiça determina a anulação do contrato da obra e a realização de uma nova licitação. É que houve fraude no processo, que teria sido feito, de acordo com a Justiça, para beneficiar empresas ligadas a José Gaspar de Souza, então presidente do Metrô do DF.

Diante do tempo exíguo e da complexidade da obra, o governo distrital anunciou - já em 2012 - a retirada da obra da Matriz de Responsabilidades da Copa. O projeto, então, foi redesenhado e, atualmente, a expectativa é que a construção tenha início no ano que vem. Se isso ocorrer, pode-se esperar a conclusão para 2018. Aiuri Rebello/UOL


3
Cuiabá: trem bilionário segue com obras paradas
Em junho de 2011, a Assembleia Legislativa de Mato Grosso aprovou a construção de uma linha de VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), de custo então previsto de mais de R$ 1 bilhão, na cidade de Cuiabá. A obra foi incluída no plano de mobilidade urbana da cidade para a Copa do Mundo de 2014, contrariando a opinião unânime de técnicos em engenharia, que eram favoráveis à construção de um sistema de corredores de ônibus na cidade (por metade do preço da linha do VLT), que era o que estava incluído na Matriz de Responsabilidades original.

O sistema de transporte não ficou pronto a tempo para a Copa. Até hoje, a capital de Mato Grosso é cortada por linhas inacabadas do VLT, cuja construção chegou só até a metade, está parada desde o ano passado e já consumiu cerca de R$ 1 bilhão dos cofres estaduais. Se for concluída, deverá custar pelo menos mais R$ 1 bilhão.

Para explicar o motivo de ter alterado radicalmente o planejamento de mobilidade urbana montado para a Copa, o deputado Romualdo Júnior (PMDB), que era presidente da Assembleia quando a substituição de modal foi aprovada na Casa, afirmou: foi "euforia do momento". Folhapress


4
Corredores em Curitiba: conclusão prevista para 2016
Os principais projetos da Matriz de Responsabilidades previstos para a capital paranaense eram dois corredores viários que integrariam os municípios da região metropolitana de Curitiba e suas vias radiais e também fariam a ligação do aeroporto Afonso Pena à zona hoteleira da cidade e ao estádio Arena da Baixada.

A obra totalizaria 92 quilômetros de pistas de rodagem e dez obras de arte especiais (pontes, viadutos e trincheiras), a um custo previsto de R$ 250 milhões. A previsão era entregar tudo até maio de 2013.

Até hoje, pouco mais da metade dos projetos foi entregue. A parte do corredor da avenida Cândido de Abreu, por exemplo, foi retirada da Matriz e não será executada. Já a requalificação das vias já existentes e que passariam a integrar o Corredor Metropolitano só será concluída no ano que vem. Gabriel Fialho/Portal da Copa


5
VLT de Fortaleza: ficou para 2017
Na capital cearense, o principal projeto era de uma linha de VLT ligando o terminal Intermodal do Bairro de Parangaba à região portuária e hoteleira do Mucuripe, passando pela rodoviária e pelo aeroporto. Seriam 13 quilômetros e dez estações. A entrega era prevista para junho de 2013.

Nada saiu como o esperado. O governador do Estado rompeu em junho de 2014 o contrato com o Consórcio CPE-VLT Fortaleza, responsável pela execução da obra. A decisão foi anunciada após sucessivas notificações de atraso feitas pela Secretaria de Infraestrutura às empresas. Em maio do mesmo ano, a pasta estadual admitiu que a obra não ficaria pronta até a Copa do Mundo. Já o prazo então estipulado era junho de 2014.

Após essa paralisação, duas outras licitações foram abertas e fracassaram, uma por questões técnicas e a outras porque não apareceram empresas interessadas. Atualmente, após a realização de três novas licitações e divisão do projeto em trechos, a obra está cerca de 50% executada e tem prazo de conclusão para o início de 2017. Divulgação


6
Manaus: projetos engavetados
O planejamento oficial de governo federal, Estado do Amazonas e Prefeitura de Manaus, estabelecido em janeiro de 2010, previa que a sede amazônica da Copa receberia investimentos da ordem de R$ 1,7 bilhão. O governo estadual comprometeu-se a construir uma linha de monotrilho e o município de Manaus assumiu a obrigação de fazer um sistema de corredores de ônibus integrado. Prazo de conclusão dos trabalhos: dezembro de 2013.

Na hora de construir, porém, constatou-se que Estado e prefeitura não haviam se dado conta de que os projetos de monotrilho e BRT deveriam ter sido pensados juntos e, em muitos pontos, passariam pelas mesmas localidades, chegando até a ter pontos de parada previstos exatamente no mesmo local, o que seria impossível de operacionalizar.

Na metade de 2012, o governo amazonense reduziu seu plano inicial do monotrilho a ser entregue até a Copa dos originais 39 quilômetros para menos da metade, ou 15,5 quilômetros. Já em novembro do mesmo ano, quando as obras ainda não tinham saído do papel, governo e prefeitura informaram oficialmente à população que já não pensavam mais em construir os sistemas de transporte a tempo para a Copa, e que por isso estavam retirando as obras da Matriz e passariam, a partir dali, a projetar um novo plano de mobilidade urbana para a cidade, que ainda não foi executado. Governo do Rio Grande do Norte


7
Natal: ligação com o aeroporto ficou para 2016
Na capital potiguar, investimentos de R$ 430 milhões eram previstos para contruir, asfaltar, requalificar vias e erguer pontes e viadutos na rodovia que deveria ligar o novo aeroporto de São Gonçalo do Amarante (Grande Natal) ao setor hoteleiro da cidade, passando pela Arena das Dunas. A previsão de entrega era julho de 2013. A obra dos acessos do aeroporto foi licitada em 2009, mas só teve início em agosto de 2013. 

A obra não está concluída até hoje. Foi só no dia 26 de outubro deste ano que o Governo do Rio Grande do Norte anunciou a liberação do trânsito no viaduto de um dos dois acessos ao terminal aeroportuário.

A conclusão do chamado Acesso Norte agora depende do término da duplicação da BR-406. A previsão atual - a quinta desde o início dos trabalhos, é para dezembro deste ano. Já o acesso sul tem previsão de ser concluído em 2016, segundo informa o Departamento de Estradas e Rodagens do Estado.

Divulgação Inter


8
Porto Alegre: obras ainda sem previsão de início
O plano de mobilidade urbana montado por Porto Alegre não trazia nenhuma obra prepoderante. Era composto por dez projetos viários, todos eles de responsabilidade municipal. Estavam previstas a construção de três corredores de ônibus, obras de arte relacionadas e monitoramento destes três corredores. Além disto, previa-se também a construção de três BRTs, uma obra viária e melhorias no Complexo Viário da Rodoviária.

De um total de dez obras, apenas cinco foram concluídas até hoje: três viadutos e a ampliação de duas vias, estas no entorno do estádio Beira-Rio. As restantes ou estão inacabadas ou ainda não saíram do papel.

Um dos casos é emblemático. O prolongamento de dois quilômetros da avenida Severo Dullius, na zona norte, era uma obra planejada para compor o anel viário que daria acesso ao aeroporto internacional da cidade e tida como essencial dentro do plano de mobilidade urbana do município para receber a Copa.

Apesar disso, a obra ainda não saiu do papel. A última previsão do governo municipal para início dos trabalhos seria 15 de setembro deste ano, o que não ocorreu. Atualmente, a prefeitura de Porto Alegre informa que não há previsão. Carlos Madeiro/ UOL


9
Recife: mais de dois anos de atraso na Via Mangue
A Prefeitura Municipal do Recife pretendia concluir até setembro de 2013 as obras do Corredor Via Mangue, que ligaria a região central da capital pernambucana aos aos bairros de Boa Viagem e Pina. Não ocorreu desta maneira.

O corredor, que deveria ter pista dupla, opera até hoje em pista simples. Os trabalhos começaram em junho de 2011. Até dezembro de 2013, ou três meses após a previsão inicial de entrega da obra, apenas 63% dos trabalhos estava concluído, segundo estimativa do Tribunal de Contas do Estado. Dois meses antes, o órgão havia apresentado uma série de estudos apontando que a Via Mangue não seria entregue antes de 2016.

A obra ficaria, então, para abril de 2014. O tráfego, no entanto, só foi liberado em junho daquele ano, em pista simples, e só no sentido Pina-Boa Viagem. O restante seria entregue até dezembro do ano passado.

Depois disso, porém, uma série de irregularidades foram encontradas no contrato e na execução da obra. Os trabalhos foram paralisados por quase 12 meses, e retomados em maio deste ano, após a assinatura de um novo convênio entre a prefeitura do Recife e a Caixa Econômica Federal. O prazo de conclusão atual é dezembro de 2015. Armênio da Costa Dias


10
Transcarioca, no Rio de Janeiro: a única obra entregue
A Transcarioca é a obra mais cara entre todas as realizadas para a Copa do Mundo de 2014. O sistema de BRT ligando a Barra da Tijuca ao Aeroporto do Galeão tinha prazo de conclusão para maio de 2013 e custo previsto de R$ 1,6 bilhão. Estourou o prazo e o preço, mas está em pleno funcionamento.

Ainda inacabado, foi oficialmente inaugurado em abril do ano passado após consumir R$ 2,2 bilhões. Sua construção trouxe benefícios a quem usa o transporte público, mas ainda apresenta problemas que estão sendo resolvidos pouco a pouco.

A verdade, porém, é que a obra funciona e agrada à população. Pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha em maio deste ano aponta que 74% dos passageiros aprovam o sistema de transporte. Xando Pereira/A Tarde/Agência O Globo


11
Salvador: projetos abandonados
Em janeiro de 2010, foi inserido na Matriz de Responsabilidades da Copa um projeto para construir dois corredores de BRT em Salvador. A empreitada custaria pouco mais que R$ 570 milhões.

Em agosto do mesmo ano, foi assinado um contrato entre os governos federal e estadual da Bahia, que se comprometeram a entregar a obra até maio de 2013. No fim de 2011, porém, o governo estadual entendeu que seria necessário mudar radicalmente o plano de mobilidade urbana de Salvador para a Copa. A ideia de fazer o sistema de BRT foi abandonada. Deciudiu-se que o ideal era investir na conclusão e expansão do Metrô de Salvador.

A obras do metrô soteropolitano começaram, no ano 2000. Deveriam ter durado 40 meses, mas já duraram 180. Ficou pronto, em fase de testes, no mês da Copa, junho de 2014. A expectativa é de que o projeto integral desenhado em 2014 seja concluído em 2017. Renato S. Cerqueira/Futura Press/Folhapress


12
São Paulo: quatro anos de atraso, e monotrilho fica para fim de 2017
A única obra que o Governo do Estado de São Paulo inseriu na Matriz de Responsabilidades da Copa em 2010 foi a Linha 17-Ouro do Metrô. A linha terá 17,7 quilômetros de extensão e 18 estações. Quando assinou a Matriz, a promessa do governo estadual era entregar a obra toda até março de 2013.

Já quando assinou o contrato com o consórcio vencedor para construir o monotrilho, em julho de 2011, os prazos eram outros. A previsão passou a ser entregar somente dois terços da obra até meados de 2014. O terceiro trecho passou a ter previsão de entrega para meados de 2015. Em novembro do mesmo ano, o Estado passou a dizer que, a tempo para a Copa do Mundo, apenas pouco mais de um terço da linha, ou 7,7 quilômetros, estariam prontos.

Já em novembro de 2012, após atrasos nas desapropriações necessárias para a obra, que enfrentaram contestações judiciais em virtude dos baixos valores indenizatórios ou problemas nas políticas de habitação relacionadas, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) admitiu que o primeiro trecho da obra só deveria ficar pronto, se ficasse, no final de 2014.

Não ficou. Atualmente, o Estado do São Paulo promete que irá entregar toda a obra - prometida para março de 2013 - até o final de 2017.


Vinícius Segalla - do UOL, em São 

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