Ela foi estuprada em seu próprio colchão, dentro de seu dormitório na Universidade de Columbia, nos Estados Unidos. A queixa contra o estuprador não foi aceita pela instituição e para protestar, ela usou a arte. Emma Sulkowicz, estudante de 23 anos, vai carregar o colchão onde o crime aconteceu até que o rapaz seja expulso da universidade – demore isso uma semana ou até o fim da graduação.
O comovente protesto se tornou o projeto final para seu bacharelado em Artes Visuais. Intitulado “Carry That Weight” (“Carregue Este Peso”, em português), o ato tem um poderoso valor simbólico ao trazer para o espaço público um assunto pesado e angustiante, que costuma ser deixado no âmbito particular. A artista se propõe a escancarar sua intimidade com o objetivo de dar visibilidade à causa. Afinal, ela não foi a primeira estudante a ser estuprada no campus e, infelizmente, não será a última.
Emma e mais duas alunas prestaram queixa na instituição sobre o mesmo estuprador. A audiência interna sobre o caso, que aconteceu sete meses após o crime, considerou impossível afirmar que os estupros aconteceram, inocentando o estuprador. A estudante afirma ter medo de sair de seu quarto e evita estar perto de pessoas que, por algum traço físico, lembrem-na do rapaz. As consequências não se limitam ao trauma do ato e se ampliam ao julgamento recebido por pessoas que diziam ser suas amigas. “Eu perdi amigos porque algumas pessoas simplesmente não entendem o que significa ser estuprada”, afirmou.
Emma Sulkowicz poderia ficar quieta, guardar esta agressão horrível para si e continuar a vida. Contudo, ela decidiu abrir mão de sua intimidade e falar, expor a situação e lutar contra a cultura machista e a cultura do estupro. Como artista, ela usou a angústia, a raiva, a impotência e o medo como ferramentas de uma arte de protesto, uma arte que grita por mudanças, uma arte verdadeira, chocante e corajosa.
Em momentos assim, vale lembrar o excelente discurso que o escritor Neil Gaiman deu durante uma formatura de Artes Visuais, nos EUA, incentivando a arte como ferramenta de expressão e mudança. Segue trecho:
“E quando as coisas ficarem difíceis, isso é o que vocês têm de fazer: façam boa arte. Eu estou falando sério. O marido fugiu com um político? Faça boa arte. A perna foi esmagada e depois devorada por uma jiboia mutante? Faça boa arte. Imposto de renda na sua cola? Faça boa arte. O gato… o gato explodiu? Faça boa arte. Alguém na internet acha que o que você está fazendo é idiota ou ruim ou já foi tudo feito antes? Faça boa arte. Provavelmente as coisas vão se revolver de algum modo e eventualmente o tempo vai levar a dor embora e isso nem mesmo importa. Faça o que só você faz de melhor. Faça boa arte. Faça nos dias ruins, faça nos dias bons também (…) faça a sua arte. Faça a coisa que só você pode fazer.“
Fonte: Hypeness
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