Bernardo Santos, o BNegão, tem história. Ele foi do underground com Juliete, Missed in Action e The Funk Fuckers ao mainstream com Planet Hemp. Hoje, à frente do projeto BNegão e os Seletores de Frequência, ele é inspiração para novos artistas como o grupo baiana BaianaSystem, que vem se consolidando como fenômeno de 2016, apesar de ter uma longa estrada.
O ícone da nova música brasileira volta a São Paulo para dois shows da turnê do seu terceiro álbum, a pedrada TransmutAção, lançado em 2015 e presente em várias listas de melhores do ano. Nós trocamos ideia com o MC de 43 anos sobre a cena da nova música brasileira, racismo, preconceito, entre outros assuntos. O MC lançou dicas quentíssimas: o já citado BaianaSystem, que vale mesmo a audição e o hype, e ainda Sacal & Pumpkilla, A.MA.SSA, o coletivo Moustrack, Ogi, ÀTTØØXXÁ.
Uma série de novos artistas negros tem surgido: Aláfia, Liniker, BaianaSystem, Negro Léo, Rico Dalasam, Tássia Reis, sente que abriu espaço para a galera que chegou depois e que a temática da negritude voltou a estar “na moda”?
BNegão – Na minha opinião, artistas negros estão nas cabeças desde que eu me entendo por gente; não me lembro de uma época na música moderna, desde que eu estou nesse mundo, que não tenha sido assim. Eu sou segmento dessa galera que veio antes de mim, e os novos são o nosso segmento… isso é um movimento natural.
Pra mim, o “xis” da questão, o que se busca, é que os destaques e caminhadas vencedoras em sua maioria não fiquem apenas restritos aos clássicos terrenos da música e do futebol, como é de praxe.
Que acha que esteja acontecendo de mais novo na música hoje?
BNegão – A cena musical da Bahia, com o próprio BaianaSystem, a Orquestra Rumpillez e a galera do Bahia Bass, entre outros. Criatividade absoluta e talento à serviço da música popular.
Fora desse circuito, mas completamente respeitado por ele, tem o Metá Metá, que parece coisa de outro mundo, mas é desse.
Que artistas novos mais gosta e indica?
BNegão – Os supracitados BaianaSystem, Sacal & Pumpkilla, A.MA.SSA, o coletivo Moustrack, Ogi, ÀTTØØXXÁ. Tem muita gente boa, mesmo. Na minha opinião, aliás, vivemos um dos melhores momentos das últimas décadas, musicalmente falando. Só não vê/ouve quem não quer e/ou aceita ser um zumbi das rádios FMS por aí…
Recentemente, Spike Lee e outras personalidades negras anunciaram boicote ao Oscar. Crê que se o cinema, a TV e a publicidade tivessem maior presença negra, o preconceito diminuiria?
BNegão – Não sei… o preconceito, pra mim, é uma questão bem mais profunda que isso. Acho que ele representa a total incapacidade de conviver com as diferenças. O sujeito é tão egocêntrico, tão apegado ao ego dele, que simplesmente não suporta a existência de algo diferente dele. Isso serve pra tudo, para todas as raças e em todas as áreas da vida. O preconceito é fruto do primitivismo, da não-evolução humana.
Qual considera sua missão musical?
BNegão – Minha missão é realizar alquimias sonoras que façam alguma diferença mínima no panorama geral, somado com a realização de encontros que fujam do comum e do óbvio. Junto à isso, a vontade eterna de provocar reflexão e mudança nos seres que tomam contato com as músicas que faço. Tenho muitas coisas à realizar e concretizar, nesses campos, mas também muita coisa à aprender. Aprendizado, sempre. A vida é uma troca.
SERVIÇO
BNegão & Seletores de Frequência: 12 e 13 de fevereiro – São Paulo
SESC Pompeia
Local: choperia
Endereço: Rua Clélia, 93 – Barra Funda
Horário: 21h30
Ingressos: Entre R$ 9 e R$ 30
Classificação: 18 anos.
Site: www.bnsf.com.br
Youtube: https://www.youtube.com/user/bnegaoeseletores
Facebook: https://www.facebook.com/bnegaoseletores
Twitter: https://twitter.com/BNegaoOficial
Instagram: @bnegaoeseletoresdefrequencia
Por Fabiano Alcântara do Vírgula
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