O povo do sertão nordestino nas pinturas de Descartes Gadelha, um povo de uma região por muito tempo castigada e abandonada, onde ele consegue captar a fé e a desesperança, como nas telas pintadas no lixão do Jangurussu na década de 80 e a tragédia na Guerra de Canudos
Descartes Marques Gadelha nasceu em 18 de junho de 1943 em Fortaleza. Desenha desde criança e dizem que na infância arrumava brigas constantes por causa da mania de desenhar caricaturas de seus amigos nas calçadas e paredes da vizinhança. Iniciou-se na pintura em 1962 , recebendo aulas de desenho livre sobre a orientação do pintor Zenon Barreto, e a primeira exposição na qual participou foi “A Paisagem Cearense” no MAUC Museu de Arte da Universidade do Ceará. Gadelha é também escultor, compositor e músico.
A invisibilidade de pessoas comuns do interior nordestino que não rendiam manchetes a não ser nas tragédias para mobilizar a ajuda da população. No mais eram esquecidas pelos governantes e lembradas novamente em épocas eleitorais para troca de votos por cestas básicas e promessas infindáveis que nunca se concretizavam. A educação no ensino fundamental e a saúde são ainda piores do que no restante do país, e não houve grandes mudanças neste cenário, as regiões norte e nordeste continuam com as piores avaliações. Parece que é isso mesmo que se pretende, deixar pessoas sem condições de analisar e discernir sobre o que acontece ao redor, enfraquecer sua vontade para manobrá-las e conduzi-las para onde se quer, de acordo com interesses políticos e ideológicos.
E assim vamos seguindo como a sexta maior economia do mundo em eterno desenvolvimento com ilhas de pobreza e com medidas paliativas de tempos em tempos. A miséria econômica é perversa, mas deixar um povo em condições intelectuais precárias não permite mudanças definitivas a médio e longo prazos e vai espalhando a pior miséria, a miséria moral que legitima e facilita a prevaricação.
Com pinceladas expressivas Descartes Gadelha vai resgatando as almas desses seres anônimos que caminham conformados como rebanhos, apenas respirando e se agarrando à fé como um último fio de esperança, e as colocando em seus quadros. Olhando, acabamos percebendo semelhanças com a miséria de outros cantos do planeta. É assim em todos os lugares, a miséria vai minando a dignidade, a individualidade, seja provocada por guerras, pela tirania de regimes fechados e totalitários ou por puro descaso e desvio de recursos.
Veja mais obras do artista em www.mauc.ufc.br/expo/2010/08/index1.htm
Fonte: Portal Obvious
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