A recém-criada Djass-Associação de Afrodescendentes organiza debate onde serão destacados dois estudos e uma experiência piloto para falar de educação e racismo, de problemas e alternativas.
Em Abril, foi divulgado um estudo que mostrava que as taxas de reprovação de alunos de origem dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) em Portugal são três vezes superiores às dos alunos portugueses no 1.º ciclo. O estudo revelava ainda que 80% dos alunos afrodescendentes são encaminhados para as vias profissionais, o que dificilmente os leva depois à universidade.
Desenvolvido pelos sociólogos Cristina Roldão e Pedro Abrantes, investigadores do CIES-IUL (Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do Instituto Universitário de Lisboa), é dos poucos que desagrega dados sobre afrodescendentes. Desde aí tem sido analisado e citado em vários debates. Este sábado, estará de novo no centro de uma sessão sobre educação e racismo, aberta ao público, organizada pela Djass – Associação de Afrodescendentes (é às 15h, no auditório Fernando Pessa, Casa dos Direitos Sociais – Espaço Municipal da Flamenga, em Lisboa).
Em cima da mesa vai estar “a utilidade de conceitos como racismo institucional e segregação étnico-racial para o debate sobre a democratização escolar”, diz ao PÚBLICO a presidente da Djass, Beatriz Dias, 45 anos. Para a Djass, a educação em Portugal “não ultrapassou as desigualdades criadas pelo racismo estrutural”, sendo que por vezes até o reforça. Os estudos e experiência que trazem à sessão debatem isso mesmo. “O racismo institucional condena muitos afrodescendentes a um percurso escolar marcado por taxas de retenção mais elevadas e encaminhamento quase generalizado para cursos vocacionais e profissionais”, diz. “Se olharmos para os currículos existe uma ausência quase total dos contributos de outras civilizações para o desenvolvimento social e tecnológico, uma leitura menos crítica parece apontar para uma supremacia quase total das civilizações europeias”, aponta.
Como é que a educação produz ideias discriminatórias?
A Djass (que quer dizer negro em crioulo guineense) é um grupo criado no início deste ano para combater e denunciar “todas as formas de racismo, invisibilização e discriminação contra negros e afrodescendentes em Portugal”. Com uma dezena de fundadores, e em processo de alargamento de sócios (não exclusivamente a afrodescendentes, mas a quem esteja interessado em participar no combate ao racismo), tem como um dos objectivos incentivar e promover a participação de negros e afrodescendentes nos processos de tomada de decisão política.
Como é que a educação em Portugal produz e reproduz ideias discriminatórias? Como pode ser uma ferramenta de combate ao racismo? A discussão este sábado tem como eixo central ainda outra investigação, Raça e África em Portugal: um estudo sobre manuais escolares de história, de Marta Araújo, investigadora no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Será ainda discutido o projecto de educação bilingue em Crioulo e Português por Ana Josefa Cardoso, que participou numa iniciativa pioneira ao introduzir o ensino bilingue cabo-verdiano – português numa turma do 1.º ciclo do ensino básico no agrupamento de escolas do Vale da Amoreira, entre 2008 e 2012.
Na conferência também serão discutidas alternativas à actual situação e os responsaveis da Djass esperam com a sessão contribuir para aprofundar o debate sobre o racismo. É importante estudar e replicar projectos educativos que promovam a valorização de outras culturas, como o desenvolvido por Ana Josefa Cardoso, defendem. E “implementar uma reforma curricular que proceda a uma revisão dos manuais escolares seria outro importante contributo”.
Por JOANA GORJÃO HENRIQUES, do Publico
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