segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Lavando roupa na escola


Melody Gunn, diretora da Escola Elementar Gibson, em St. Louis (EUA), queria aumentar os índices de frequência dos alunos. Os estudantes tinham acesso a transporte e almoço gratuito ou a preços subsidiados e mesmo assim faltavam às aulas.

Ela decidiu ir até a casa das famílias com mais de uma criança matriculada na instituição para identificar o motivo que as fazia ficar em casa. Descobriu que era algo tão simples quanto inesperado: roupa suja.

Muitos pais não tinham dinheiro para comprar uma máquina de lavar roupa. E aqueles que tinham a lavadora não podiam pagar pelo sabão e pela energia elétrica.


"O dinheiro deles era contado para necessidades como comida e aluguel", diz Gunn, em entrevista à Folha.

A consequência é que os alunos não tinham peças limpas para ir à escola e desistiam de frequentar as aulas por vergonha. "Muitos alunos têm apenas um conjunto de uniforme. Se eles o sujavam no começo da semana, simplesmente ficavam em casa até que a roupa pudesse ser limpa", explica a diretora.

Gunn comentou sobre o problema de sua escola com uma amiga que trabalha na Whirlpool, multinacional fabricante de eletrodomésticos. A empresa se interessou pela história e decidiu doar uma lavadora e uma secadora para a escola, além de providenciar todo o sabão necessário.

A diretora reuniu então os alunos com mais de dez faltas no ano e pediu que trouxessem suas roupas para serem lavadas na escola.

A recepção foi positiva. "As crianças amaram as máquinas, diziam que pareciam naves espaciais. Logo, pediram para expandirmos o programa para itens como lençóis e toalhas", afirma Gunn.

As máquinas são operadas por funcionários da Gibson.

PROGRAMA NACIONAL

Após a doação, a Whirlpool decidiu investigar se aquele era apenas um caso isolado. Uma pesquisa com 600 professores ao redor dos EUA apontou que um em cada cinco alunos era afetado pela falta de roupas limpas em casa.

"Nós ficamos surpresos com o alto índice, e também pelo fato de ninguém estar discutindo o efeito disso na frequência escolar", diz Chelsey Lindstrom, gerente de marca da Whirlpool. A empresa criou um programa nacional e doou máquinas a outras 16 escolas em distritos de St. Louis, no Missouri, e Fairfield, na Califórnia.

O balanço do primeiro ano do programa feito pela companhia mostrou que 93% dos estudantes melhoraram sua frequência escolar. Entre os casos mais críticos, o aumento chegou a duas semanas, em média. Ao todo, 95% tiveram maior participação dentro da sala de aula e demonstraram maior interesse em atividades extracurriculares.

O plano é expandir o programa para 40 escolas nos EUA até o fim deste ano. Não há projeto de levar a ação para outros países onde a Whirlpool atua, como o Brasil.

"Os números mostram como algo tão simples pode ter um grande impacto não apenas nos estudantes, mas também nos pais e na comunidade", diz Lindstrom.


Via Folha de S. Paulo

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