domingo, 15 de novembro de 2009

O cidadão, o empresário e o brasileiro.

A 10 anos atrás, escrevi um artigo para um jornal baiano, com o título: " Um sócio indesejado". Referia-me às saudáveis relações dos cidadãos e
empresários brasileiros com seus governos. A constatação é obvia: o governo é sócio, as vezes majoritário de todos nós, dos empresários.
Ele recebe a parte dele, independente do cliente ter ou não lhe pago o serviço prestado, no dia certo, chova ou faça sol. Caso contrário, multa, juros, sanções e punições, como só pai fazia (hoje não mais), coisas que nenhum outro sócio faz.
Com o trabalhador é igual. Não importa se neste mês há aperto, se há IPTU, matrícula, IPVA, farda, fim de férias, presentes, filho
doente e remédios, despesas extras, tudo ao mesmo tempo, ele leva o dele, impiedosamente. Chova ou faça sol.
Assim são os sócios governos. Não os chamo de leão para não afrontar meu rubro negro Vitória, da Bahia ou o Sport de Recife. Trata-se de um abutre faminto, desorganizado e perdulário (não é dele !) na gestão e eficiente na arrecadação em cima dos mais fracos, um covarde. Nada haveríamos de reclamar se a saúde pública, a segurança pública, a educação pública, as condições de infra-estrutura, a urbanização das cidades, o meio ambiente e outros pontos
fundamentais para a qualidade de nossas vidas e empresas, contrapartidas obrigatórias deste sócio, fossem prestadas.
Mas, todo condomínio deve ter um síndico, eles são indispensáveis, fundamentais. Os síndicos são eleitos, é verdade, por nós, sócios minoritários, sem voz (por omissão) mas, com voto. Ai entra o cidadão, empresário e brasileiro.Ano que vem vamos escolher alguns dos novos síndicos e os membros do conselho fiscal e de administração deste grande condomínio chamado Brasil. Algumas cartas estão postas, mas para nós, cidadãos, empresários e brasileiros, o cenário é o mesmo, não há novidades, as opções são conhecidas e já testadas, estão aquém dos nossos anseios.
As mudanças estruturais, de modelo e forma, de sistema e gestão, não estão propostas, não estão pensadas, planejadas, nem os atores sobre o picadeiro do grande circo mostram o perfil ou desejo de realizar as transformações que ansiamos.Assistimos perplexo os "cidadãos de bem", os "intelectuais", os "informados e formadores de opinião", os verdadeiros trabalhadores, assalariados, as donas de casa, os verdadeiros agricultores, omitirem-se vergonhosamente das suas condições civis cidadãs e aos apelos para participarem do processo, militarem, atuarem, expor-se, lutarem pelas mudanças necessárias, clamadas. Não incluo neste grupo os "empresários sistêmicos dependentes e sócios do condomínio", os pelegos, os que se apropriam da coisa pública. Refiro-me à grande maioria dos grandes, médios e pequenos empresários que estão fora do "sistema", com sua competitividade e crescimento atrofiado pela troca da inteligência pela esperteza.
Não adianta dizer que "político é tudo igual", que "política da nojo", é preciso participar, estar nos partidos, nos grupos, não para contaminar-se, mas para depurar, para mudar a lógica, o foco, as razões. Se os sérios hoje são minoria, precisamos fazer crescer até virar maioria. Não há tempo a perder. Precisamos de gente, muita gente séria e competente, honesta e capacitada, nos conselhos, nas ordens, nos sindicatos, nas federações, nas confederações, nas câmaras, nas assembléias, nos executivos, nos legislativos. Isto é imperioso, urgente.
Liberdade já não é bandeira, é uma realidade. Democracia já não é um sonho, é uma realidade. As instituições precisam mais que serem fortalecidas, precisam ser aperfeiçoadas, depuradas, precisam ter suas direções alteradas rumo à modernidade, rumo a preservação, rumo a produção sustentável, na direção do equacionamento dos problemas reais e imediatos que se avolumam. As lutas já não são contra a ditadura ou pela anistia, agora é pela ética, pela dignidade, pele cidadania plena e por tudo que isto implica. Cabe perguntar: a quem interessa o atual modelo e sistema político brasileiro?
A queda dos muros significa também que o muro das lamentações caiu, ruiu, apodreceu. Já não há pé de caboclo para chorar. Tem que haver tempo (desculpa de muitos) para exercitar a defesa dos nossos melhores e verdadeiros interesses coletivos, da cidadania plena, na política, na mídia, nos bairros, nas ruas, nos prédios, nas empresas.
O conforto do "meu" resolvido, traduzido em egoísmo e omissão não vai acabar o caos da violência urbana. Ninguém está imune às conseqüências do flagelo das drogas, da fome, da ignorância e bestialidade, da banalização da vida, da truculência do fisco e das autoridades. Não dá para varrer para debaixo do tapete o morador de rua, o fora de escola, o viciado, a favela, as rodovias precárias, a corrupção endêmica e epidêmica.
Sem milagres, sem utopias: As mudanças virão por mãos dos que querem e podem mudar - O cidadão consciente, pró-ativo, capacitado, habilitado e preparado, atuante, generoso, politizado.
Só por exercício dos meus direitos inalienáveis, que tal renovarmos 100% do senado em 2010, zelando pelo novo voto como se fosse nosso primeiro filho ? Poderíamos estender isto à câmara e assembléias ? Todos novos membros do conselho fiscal e de administração do condomínio chamado Brasil, com chances de rever os caminhos percorridos pelos indignos substituídos, sabedores de que, com cidadania não se brinca. Mudança se faz mudando, dentro das regras. Assim farei !
O certo é que não sabemos nos aproximar de outros sem destruí-los. Nossa civilização ocidental, cristã e européia, tão destruidora e igualmente má para si própria, cria um tipo de sociedade que só tem podido viver e prosperar à custa de milhões de vidas escravizadas e anuladas. O preço de nosso adiantamento técnico e mercantil tem sido a dignidade do próprio homem; uma organização social que é uma máquina de criar párias. Isso é o que temos tido. Essa é a obra do homem branco". – Darcy Ribeiro – texto emoldurado numa das colunas do Museu do Homem Americano, São Raimundo. Nonato (PI).
Antonio Carlos Aquino de Oliveira
Diretor da Mural Mídia Exterior e da Imagem, empresas sediadas em Salvador.
Ex-presidente do sepex - ba, anepo e fenapex.

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