Antonio Carlos Aquino de Oliveira, Carlinhos Aquino ou simplesmente Aquino. É baiano de Ilhéus, descendente de Thomaz de Aquino, cruzamento de índio com português. Tenho pedigree rsrsr. Formado em administração de empresas pela Facs e com o curso de economia inconcluso pela Federal. Sou pós graduado em Marketing Estratégico e há 15 anos diretor da Mural, da qual fui fundador.
Fale um pouco da sua história.
Tive infância de menino de beira de praia e das fazendas de cacau. Menino de banho de rio, do baba todos os dias, do montar cavalo, pescar, fruta colhida no pé. Menino travesso, livre. Filho de mãe "do lar", cabocla de sangue quente, decisões rápidas e fortes lições de caráter e valores maiores. Sou do tempo da psicologia do tapa na orelha, de vestir camisa para sentar à mesa, do respeito aos mais velhos, do " manda quem pode, obedece quem tem juízo", autoridade e doutor tinha moral e respeitabilidade. As escolas públicas, entremeada de passagens por escolas privadas me mostraram diferenças na educação formal, nos conceitos. Por ser muito "comportado", fui estudar em internato, Colégio de Viçosa, em Minas Gerais, onde vivi as primeiras experiências de racismo, com 12 anos. Fui apelidado de Tiziu, um pássaro preto das bandas de lá. Havia um negro do Rio que recebeu o apelido de Petróleo. "Nego da alma branca", "é preto mas é gente boa". Por ter muitos valores familiares, auto - estima elevada e gastar mais tempo com travessuras e minhas próprias viagens, nunca fui de dar muito valor a opiniões e nunca cultivei recalques ou traumas que me impedisse o caminho ou me tornasse um revoltado. Sempre soube que não ganharia espaços, teria que conquista-lo. Achava justo isto, vencer pela luta. No Iceia, Ginásio e no Severino Viera - Colegial, tive meus primeiros contatos com a política estudantil dos grêmios. Passei em dois vestibulares de primeira (no tempo do funil e da peneira): Economia na Federal e Administração na Trabuco, hoje Unifacs. Entrei no movimento estudantil e fui vice - presidente e presidente de DA na época da ditadura. Até hoje, a única greve que a Facs teve foi na minha gestão. Fui professor de nível médio, professor universitário, agricultor, consultor, assessor de governo estadual, federal e municipal, gerente, diretor. Depois, partidos, governo Waldir, MDB, PMDB, PSB e agora, estou no PV. Ajudei a fundar e fui presidente de Sindicato, Associação Nacional e Federação do meu setor de trabalho, mídia exterior. Tenho duas filhas, estudantes de arquitetura e direito. Minha empresa faz este ano 15 anos de operação. 15 anos sem um cheque devolvido, sem um título protestado, sem golpes ou calotes. O que isto quer dizer ? Nada. Neste país nada, apenas gosto de estar em paz, com a consciência tranqüila e sabedor, de imperfeito que sou, que tenho valores que gosto de exercer-los. Sou revolucionário e conservador, por exemplo: Banco é do Brasil, gasolina é Petrobrás, barbeiro é Beto, praias são no nordeste, país (apesar das confusões) é Brasil, comida tem que ser boa e temperada.
O resumo disto tudo: Temos que fazer nossa parte, de verdade, sermos bons e competentes para o que nos dispomos, e depois, ir além na ação comunitária, política, associativa.
Você acha que existe Racismo na Bahia e no Brasil?
Sim, claro. De todos os lados e maneiras. Racismo e pre-conceito. De preto prá branco e de branco prá preto, de pobre prá rico e de rico prá pobre, de patrão para empregado e de empregado para patrão, de político para povo e de povo para político (pós eleições), de homo pra hetero e de hetero para homem, dos evangélicos para as outras religiões e vice versa. Humanos imperfeitos, mal formados, intolerantes. Adoro a miscigenação, a mistura, a soma, a multiplicação. Não vejo como lutar contra todo este caldeirão em fervura, se cada um de nós não fizer a sua parte profissionalmente, socialmente, familiarmente, politicamente. Dar e cobrar respeito.
O Brasil e a Bahia são mestiços, com fortes raízes imperialistas, coronelescas, feudais, ditatoriais, inquisitórias, antropofágicas. O cabra prá vencer aqui sem vender a alma, tem que ser bom ! A máquina é malvada, perversa, braba. O Deus do mundo é o dinheiro, o resto, são lutas de minorias, lutas de sobrevivência e afirmação.
Você já foi vitima de algum tipo de discriminação?O que mais te marcou?
Já sim. Fui e sou. Sou pequeno empresário e já fui boicotado como liderança nacional por isto. Tenho liberdade de expressão e a exerço, por isto sou persona não grata em muitos ambientes. Sempre usei a discriminação ao meu favor, todas elas. O mundo está dividido em tribo de credos, usuários, aculturados e culturados, favorecidos, coloridos, sexuados, armadores. Navego nos mares que meu barco permite e mergulho nos meus limites, onde quero e sou aceito, onde respeito e sou respeitado. Evito certos convívios por ter muitas dificuldades de lidar com cinismo, hipocrisia, golpes e traição. Minha posição política, social, pessoal limitada é fruto das marcas. Se hoje sou descriminado, também discrimino: evito ter qualquer tipo de relação com pessoas que não confio, não acredito, não respeito e não quero que pessoas com sentimentos idênticos com relação a mim, tenham o desprazer de minha companhia.
Sou a favor e militante das lutas arejadas, amplas, construtivas, agregadoras, generosas. Racismo aqui e em lugar nenhum, não ! Creio que o maior aparthaid nosso hoje é o econômico, o cultural no seu sentido mais amplo, educacional, cidadão. A falência do ensino público e a crise da instituição "família" tem sido catastróficas para este país, para nós todos, pretos, brancos, cafuzos, mamelucos, quilombolas, amarelos. As minorias fazem suas lutas - gays, mulheres, negros. Faço a luta das maiorias onde todos estes estão inseridos, mais o baianos, os brasileiros. Se não tenho vocação para herói, salvador da pátria, também não a tenho para massa de manobra, menino de recado, bobo da corte, boi de piranha.
Na sua opinião o que precisa ser feito para mudar esse quadro?
Educação, consciência crítica, ativismo, consolidação da democracia com o fortalecimento das instituições. Vivemos um momento dramático com a falência do modelo de representação popular, do conceito de "governabilidade e de espírito republicano", da crise moral e ética das igrejas, governos, justiça, parlamentos. A corrupção está tão generalizada que deixou de ser epidêmica para ser endêmica, normal, aceitável. É moralismo combate-la, mesmo sabendo que ela está destruindo a competitividade, a criatividade, a competência, as relações, as gerações. Temos que acabar com a cumplicidade, com a omissão, com a covardia.
É preciso que as pessoas sérias, competentes, comprometidas, honradas, éticas, trabalhadoras de fato e verdade, larguem a vergonha de ser assim e disputem o espaço com os pelegos, com os corruptos, com os bandidos, com os ladrões, com os preconceituosos, com os racistas. As pessoas estão envergonhadas de serem sérias e não sabem com exercer a cidadania: vão para os partidos, para as associações, para os condomínios, para os conselhos, para as ordens, para os clubes, para os grupos. A revolução está a caminho, pois após o dia vem a noite, depois da chuva o sol, depois da maré cheia a praia longa.
Liberdade é tudo e muito mais, acima de tudo respeito a si, aos outros, ao país, às regras do jogo, à natureza.
Obrigado Aquino
Um comentário:
Engraçado, negro que não gosta de negro, pois, casou com uma branca!!!!!
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