quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Canto do homem cotidiano - Homenagem ao Poeta Ildásio Tavares


O Poeta Ildásio Tavares está sendo homenageado hoje na Biblioteca Betty Coelho as 19:30
seus "70 anos de Poesia " , nasceu em 25 de janeiro de 1940, na região Grapiuna.
Sua biografia é extensa seu primeiro poema data dos 12 anos e Ildásio Tavares publica pela primeira vez no Jornal da Bahia, em 1962, estreando em livro com Somente um canto em 1968.
Participou ativamente do Movimento Poesia Som que promovia recitais e comícios de poesia e poemas seus saem em antologias de circuito nacional e internacional. Atuando também na área de ficção e de ensaio, o poeta, como letrista, tem músicas gravadas por Maria Bethânia, Alcione, Cláudia, Vinícius e Toquinho, Nelson Gonçalves e Maria Creuza.
Tradutor e professor de inglês e literatura americana por 19 anos, Ildásio Tavares vai publicar mais três livros de poesia na década de 70: Imago, 1972, Ditado, 1974 e O Canto do Homem Cotidiano, 1977. Em 1980 publica Tapete do Tempo, em 1996 Poemas Seletos, em 1977 Livro de Salmos, 9 Sonetos da Inconfidência, e os Sonetos Portugueses pelo Pen Club de Lisboa, além de dois romances, um livro de ensaios afro-brasileiros, e em 1995 o libreto da ópera Lídia de Oxum, encenada em Salvador, São Paulo e Brasília e que será remontada pelos 450 anos da cidade. A Arte de Traduzir é um livro que mostra as experiências do poeta em várias línguas. O poeta também já teve várias peças teatrais encenadas na Bahia e no Rio.
è Ogá de Oxum e Obá Aré da casa de Xangô, do Axé Opó Afonjá.Como Compositor teve 46 músicas gravadas por Vinicius de Moraes, Toquinho, Maria Betânia e Maria Creuza.Entre seus parceiros estão Vevé Calazans, Gerônimo e carlinho cor das Águas.
Os melhores nomes já se expressaram sobre sua poesia. Nelson Werneck Sodré diz: "É fácil compreender a alta qualidade do poeta. Em primeiro lugar pelo domínio da arte poética na linguagem de síntese que é sua essência. E ainda pela capacidade, nessa linguagem, praticar aquilo que Brecht ensinou, as diferentes maneiras de dizer a verdade".
Abaixo o Poema - Canto do homem cotidiano de 1977

Eu canto o homem vulgar, desconhecido
Da imprensa, do sucesso, da evidência
O herói da rotina,
O rei do pijama,
O magnata
Do décimo terceiro mês,
O play-boy das mariposas
O imperador da contabilidade.


Esse que passa por mim
Que nunca vi outro assim.


Esse que toma cerveja
E cheira mal quando beija.


Esse que nunca é elegante
E fede a desodorante.


Esse que compra fiado
E paga sempre atrasado.


Esse que joga no bicho
E atira a pule no lixo.


Esse que sai no jornal
Por atropelo fatal.


Esse que vai ao cinema
Para esquecer seu problema.


Esse que tem aventuras
Dentro do beco às escuras.


Esse que ensina na escola
E sempre sofre da bola.


Esse que joga pelada
E é craque da canelada.


Esse que luta e se humilha
Pra casar bem sua filha.


Esse que agüenta o rojão
Pro filho ter instrução.


Esse que só se aposenta
Quando tem mais de setenta.


Esse que vejo na rua
Falando da ida a lua.


Eu canto esse mesmo, exatamente
Esse que sonhou em, mas nunca vai
Ser:
Acrobata,
Magnata,
Psiquiatra,
Diplomata,
Astronauta,
Aristocrata.
(É simplesmente democrata)
Almirante,
Traficante,
Viajante,
Caçador de
Elefante
(Vive só como aspirante)
Pintor, compositor
Senador, sabotador
Escritor ou Diretor
(É apenas sonhador)
Pistoleiro,
Costureiro,
Terrorista,
Vigarista
Delegado,
Deputado,
Galã na tela
Ou mesmo em telenovela,
Marechal,
Industrial,
Presidente,
Onipotente,
(Ele é simplesmente gente)
E, inconsciente marcha pela vida
buscando no seu bairro
Na cidade lá do interior,
No escritório, consultório
No ginásio,
Na repartição,
Na rua, no mercado, em toda a parte
Somente uma razão
Para poder dormir com a esperança
E de manhã, na hora do encontro
Com o espelho, ao fazer a barba,
Ver o reflexo do campeão,


Mas que, na frustração cotidiana,
Vai encontrando aos poucos sua glória
Por isso eu canto a luta sem memória
Desse homem que perde, e não se ufana
De no rosário de derrotas várias
E de omissões, e condições precárias
Poder contar com uma só vitória
Que não se exprime nas mentiras tantas
Espirradas sem medo das gargantas
Mas sim no que ele vence sem saber
E não se orgulha, campeão na história
Da eterna luta de sobreviver.

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