quarta-feira, 21 de julho de 2010

Independência e Boa Morte

Cachoeira realiza em agosto festa que é uma das maiores manifestações do sincretismo religioso do país. A cidade participou ativamente do movimento de libertação do Brasil

Cidade com o segundo maior e mais importante conjunto colonial da Bahia, atrás de Salvador, Cachoeira, a 120km da capital, detém também o título de cidade heroica, em função de vários acontecimentos relacionados à independência do Brasil. Desde 1971, é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como Cidade Monumento Nacional. Com população de 33 mil, é separada de outro município, São Félix, pelas águas do Rio Paraguaçu (que nasce na Chapada Diamantina) e ligada ao vizinho por uma bela ponte rodoferroviária, obra feita por ingleses e inaugurada pelo imperador Pedro II em 1859.

Graças à fertilidade de seu solo, Cachoeira foi uma das vilas mais ricas e importantes no Brasil colonial, principalmente entre os séculos 17 e 18. A entrada definitiva na história do país veio em 22 de junho de 1822, mais de dois meses antes de o imperador Pedro I dar o grito da independência às margens do Ipiranga, fato que consolidou o Brasil como nação livre.

O livro Independência do Brasil na Bahia, do historiador Luís Henrique Dias Tavares, narra que, naquele 22 de junho, um navio militar português que protegia o Rio Paraguaçu abriu fogo de canhões contra um grupo de brasileiros que clamavam pela independência, com saldo de vários mortos. “Logo após os primeiros tiros da canhoneira, começou a luta para silenciar a embarcação de guerra, aprisionar o seu comandante e marujos, desarmar e prender os soldados e os portugueses que haviam feito disparos. Assim começou a guerra pela independência do Brasil na Bahia”, descreve.

É preciso registrar que disputas sérias entre quem queria a independência e as autoridades portuguesas já tinham eclodido em Salvador, em fevereiro do mesmo ano. Porém, sem mortes. E apesar de Dom Pedro I ter declarado o Brasil independente em 7 de setembro de 1822, foi somente em 2 de julho de 1823 que a Bahia se viu livre do domínio dos portugueses, fato que, aí sim, consolidou a independência.

E na luta de Cachoeira e outras cidades do Recôncavo Baiano contra os portugueses, um dos destaques foi a jovem Maria Quitéria, descrita com uma bela mulher que caçava, cavalgava muito bem e tinha domínio de armas de fogo. Por sua luta, da qual saiu vencedora, é considerada heroína do Brasil. Chegou a receber, tempos depois, homenagem do imperador Pedro I.

No casario colonial de Cachoeira, destacam-se várias construções onde se pode observar a riqueza de detalhes decorativos, fruto de tempos prósperos no passado. Chamam a atenção os prédios da Santa Casa (1734), a Capela de Santa Bárbara, o Chafariz Imperial (1827), a Igreja da Ordem Terceira do Carmo (1724), a Matriz Nossa Senhora do Rosário e o sobrado da Irmandade da Boa Morte. Na Rua 13 de Maio, no Centro Histórico, o prédio clássico da Fundação Hansen reúne cerca de 13 mil peças, entre xilogravuras e matrizes, de um dos artistas mais conhecidos que moraram na cidade. Trata-se do alemão Karl Heinz Hansen, o Hansen Bahia, que também foi marinheiro, escultor, poeta, escritor, cineasta e pintor.

Irmandade
Considerada uma das principais manifestações do sincretismo religioso do país, a Festa de Nossa Senhora da Boa Morte é realizada com missas, procissões e vigílias noturnas que representam o falecimento de Nossa Senhora. As celebrações ocorrem anualmente, entre 13 e 17 de agosto, sendo o dia 15 o ponto alto. Há também muito samba de roda(1), numa festa que mistura de música, dança e poesia e é ligada ao culto aos orixás. O ritmo é considerado Obra Prima do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade pela Unesco. É quase consenso que este ritmo afro-brasileiro nasceu na Bahia, no contorno da Baía de Todos os Santos (em Salvador) e no Recôncavo, por volta de 1860.

A Irmandade da Boa Morte, surgida nos tempos coloniais, é formada unicamente por mulheres negras com mais de 60 anos de idade e descendentes de escravos. Todas passam por um critério rigoroso de escolha. O quadro já contou com a participação de mais de 200 mulheres, mas reúne somente 22 atualmente. Uma delas é Dalva Damiana de Freitas, que completará 82 anos em 27 de setembro. No sobrado da Irmandade da Boa Morte, ela conta de sua luta de pessoa pobre e também de seu orgulho de fazer parte da elite da irmandade.

Enquanto serve com orgulho pratos de maniçoba(2) preparada por ela, conta que dezenas de outras pessoas também participam da irmandade, mas não como irmãs e sim como colaboradoras. “Antes, quando ingressei, as mulheres podiam entrar depois de completarem 40 anos. Hoje, só depois dos 60. Isso para que as mulheres que entram não tenham mais prazeres da carne.” Dalva também convida para o samba de roda que rola no sobrado, sempre às quartas-feiras, durante todo o ano. “Foi aqui que nasceu o samba”, diz. (AD)

1 - Origens
“O samba nasceu lá na Bahia, se hoje ele é branco na poesia, ele é negro demais no coração…”, sentenciou, em canção, o poeta Vinicius de Moraes.


2 - Maniçoba
Prato típico do Recôncavo Baiano, a maniçoba é de origem indígena. A iguaria é preparada com as folhas da mandioca. Elas devem ser trituradas e cozidas por longo tempo, para que saia da planta o venenoso ácido cianídrico. Às folhas cozidas são acrescidas carne suína e/ou bovina, temperadas com alho, sal, louro, pimenta e outros ingredientes defumados e salgados. Geralmente, é servida com arroz, farinha de mandioca e mais pimenta. Uma delícia!

Da África ao Brasil

Alguns exemplos do sincretismo religioso entre os orixás do candomblé e os santos da Igreja Católica.

Oxalá - Nosso Senhor do Bonfim Iemanjá Diversas Nossas Senhoras
Oxum - Diversas Nossas Senhoras
Omolu - São Lázaro/São Roque
Iansã - Santa Bárbara
Ogum - Santo Antônio
Oxóssi - São Jorge Nanã Buruku Senhora Sant’Anna
Xangô - São Jerônimo


Como ir

CVC
(61) 3044-4646
www.cvc.com.br
Duração de sete noites. Inclui passagens aéreas (saída de Brasília), hospedagem, passeio às principais praias de Salvador e traslados aeroporto / hotel / aeroporto. Valor: a partir de R$ 878* por pessoa em quarto duplo.

Designer Tours
(11) 2181-2900
www.designertours.com.br
Duração de quatro noites. Inclui hospedagem no Pestana Convento do Carmo, traslado aeroporto / hotel / aeroporto, early check-in e late check-out. Não inclui passagens aéreas. Valor: a partir de R$ 1.653* por pessoa em quarto duplo.

Interline Turismo
(61) 3962-4000
www.interlinecorporate.com.br
Duração de sete noites. Inclui hospedagem, traslados de chegada e saída e passeio às principais praias da cidade. Saídas de Brasília.
Valor: a partir de R$ 878* por pessoa em quarto duplo.

Submarino Viagens
(61) 4003-9888
www.submarinoviagens.com.br
Sete noites de duração. Inclui hotel e passagens aéreas (saída de Brasília). Valor: a partir de R$ 1.250,72* por pessoa em quarto duplo.

TAM Viagens
(61) 3701-3800
www.tamviagens.com.br
Duração de sete noites. Inclui passagens aéreas (saídas de Brasília) e hotel. Valor: a partir de R$ 1.458,76* por pessoa em quarto duplo.

Passagens aéreas
Valores do trecho Brasília — Salvador

Avianca
www.avianca.com.br
A partir de R$ 221,62*.

Gol
www.voegol.com.br
A partir de R$ 229*.

TAM
www.tam.com.br
A partir de R$ 209*.

Webjet
www.webjet.com.br
A partir de R$ 229*.

*Preços sujeitos a alterações.

Materia retirada do Correio Brasiliense 21 de julho de 2010

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