“Que brilho é esse negro. Me diz se é o da paz .Me diz se é o do amor.Me diz que eu quero saber.” E Gelton disse: “É o brilho da educação”.
Caminhando pela sede do Bloco Afro Ilê Aiyê, as paredes do local mais parecem uma viagem no tempo. A tarde ensolarada desta sexta (20) só ascendeu as cores vivas presentes na arquitetura da Senzala do Barro Preto . O prédio de paredes grossas e tom rudimentar acolhem jovens e crianças durante todo o ano com a intenção de oferecer condições dignas de sobrevivência às famílias através da educação.
Sorriso tímido, passos curtos no caminhar e vestes branca na tradição da sexta – feira em Salvador, Gelton de Oliveira, coordenador da Escola Profissionalizante da Senzala do Barro Preto aceitou o meu convite como jornalista freelance para esta entrevista.
Em um bate papo descontraído, o homem com jeito de “menino” fala sobre sua infância, movimento negro, desafios na gestão no Curuzu, exemplos de sucesso, restrições pedagógicas e muito mais...
Qual o seu nome e profissão?
G.O: Meu nome é Gelton de Oliveira. Sou coordenador dos Cursos Profissionalizantes e também faço trabalhos pedagógicos aqui.
Aqui onde?
G.O: Aqui no Ilê Aiyê. Durante o ano nós realizamos vários projetos com relação à profissionalização de jovens. Esses projetos são financiados pelo Governo do Estado que é o que nós estamos trabalhando agora; Projeto Novos Baianos. Ou pela Petrobrás. A Petrobrás também nos ajuda a fazer este trabalho de cunho social.
O que está sendo disponibilizado para os jovens daqui da Comunidade?
G.O: Esse ano nós estamos disponibilizando três cursos. Curso de Profissional em Vendas, Eletricista Predial e o Curso de Corte e Costura. Então nós temos uma meta esse ano (2010) de atender em torno de 240 jovens nas duas edições. A primeira e segunda edição de forma igualitária com 120 jovens. Estes cursos eles tem uma duração de seis meses em média com carga horária de 200hs e funcionando em turnos(Matutino/Vespertino/Noturno).
Quais os pré - requisitos necessários para ser matriculado?
G.O: A faixa etária que nós selecionamos estes jovens está entre 16 e 24 anos. Os jovens para ser matriculado nestes cursos precisam estar matriculados e freqüentando a escola pública, que é o foco principal e ter disponibilidade para estar aqui estudando. Este é o ponto.
Quando começou os seus trabalhos aqui na Senzala do Barro Preto?
G.O: Eu comecei a dar aula aqui tem seis anos (2004). Agora na Coordenação do Curso eu estou completando quatro anos. Eu sou professor de matemática. Desde a época que eu estou aqui e pelo histórico da escola, a gente já colocou no mercado de trabalho em torno de 8.000 mil jovens. E deste número ¼ esteve ou está inserido no mercado de trabalho.
O que vocês oferecem além dos Cursos Profissionalizantes?
G.O: Além de dar a profissionalização propriamente dita, agente faz um trabalho de motivação em cidadania. Aqui nós temos as disciplinas de Relações Interpessoais, Gestão de Negócios, de Cidadania que ajuda a consolidar este aprendizado que o aluno vai ter mais tarde no Módulo principal de cada curso que ele vá tá inserido.
Como é feito este trabalho de conscientização?
G.O: Então... Agente sempre procura estar contextualizando a questão da Cidadania e das Relações Interpessoais com a formação específica de cada curso. Isso vai dar um embasamento melhor. Vai consolidar o aprendizado. Então o jovem sai com uma maturidade maior quando ele tem esse subsídio das relações interpessoais. Que sem isso você não dá encaminhamentos para o mercado de trabalho.
O que é necessário atualmente para um jovem entrar no mercado?
G.O: Pra você ser inserido hoje no mercado de trabalho , você não tem que ser só profissional em si;conhecer a ferramenta que você vai trabalhar.Você tem que ter uma educação cidadã. Você tem que ser “um agente cidadão” pra que o mercado “abra as portas” pra você. Então esse é o nosso foco principal da nossa formação.
Que outras disciplinas são ministradas aqui?
G.O: Além das disciplinas de Matemática, Língua Portuguesa, Gestão de Negócios, agente não forma o jovem para ser um funcionário no mercado formal de trabalho. Agente forma o jovem para que ele possa atuar como um empreendedor. O empreendedorismo também é um dos focos da nossa formação. Entendeu?
Como a Comunidade responde aos Cursos oferecidos aqui?
G.O: Quando fala em abertura de curso profissionalizante, agente tem cuidado em tá divulgando isso por que o telefone não para, a frente da sede fica cheio de gente. As pessoas têm vontade de estarem inseridas aqui dentro, as pessoas procuram. E nossos cursos já têm uma visão dentro da comunidade muito positiva.
Como tem sido a vida destes jovens pós curso?
G.O: A maioria destes jovens, ao terminares estes cursos, quase que automaticamente eles estão si inserindo no mercado de trabalho. Se ele ( o jovem) veio pra cá e fez “ o dever de casa” certo, fez “ a lição certa”,certamente ele vai estar empregado. Principalmente se eles estiverem nos cursos de Eletricista, Instalador Predial. Cursos como de Estética Afro que é muito procurado. Lida com visual, com estética, com cabelo. Nós fizemos um curso de dança e percussão que também foi muito bom. Então os cursos daqui têm uma resposta muito positiva para os jovens da comunidade. Sem sobra de dúvida...
Pra você, qual o prêmio maior recebido neste curso?
G.O: Quando um jovem aparece aqui e diz: “ – Pô , tô empregado.Consegui emprego.Tô com minha Carteira Profissional assinada.” Eu tenho uma história de um jovem que eu sempre gosto de relatar, daqui da Comunidade.Ele é muito estudioso. Ele veio aqui, se inscreveu no Curso de Eletricista , freqüentou as aulas. Ao término deste curso, ouve um processo seletivo na Codeba. Ele foi pra lá, se inscreveu, ele ainda não tinha o certificado mais entrou como ajudante. E com três meses ele já estava com a carteira de trabalho assinada e atualmente ele é encarregado da área de manutenção da empresa. Então isso é muito gratificante pra nós, pra Instituição e para a comunidade.
E a questão das drogas? Como é discutida aqui?
G.O: O que está ceifando muitas vidas, principalmente de jovens negros da periferia são as drogas. A falta de ter o que fazer a ociosidade. Então esse trabalho que a gente faz aqui , ele tem uma resposta positiva por que ele dá o que fazer aos jovens. Dá uma profissionalização pra ele ( o jovem). Então ele não vai ter tempo depensar em coisas ruins. Em roubar em cometer pequenos delitos, de se envolver com drogas, com o tráfico. Ele vai tá com o tempo dele todo ocupado. Em um turno ele está na escola e no outro turno ele está aqui estudando. Ao final do dia ele vai estar cansado. E quando a gente está cansado o corpo pede agente “cama”. A pessoa não vai ter pensamento a não ser no outro dia voltar a sua rotina de crescimento pessoal e profissional.
É gratificante? Vale a pena?
G.O: Trabalhar com profissionalização, trabalhar com jovem é gratificante por isso. Você salva cada um destes. Nós sabemos que no Estado que agente mora, na cidade de Salvador, na periferia ,em cada esquina pode ter um traficante .Pode ter um ponto de drogas e dinheiro fácil está aí pra isso. Esse dinheiro fácil ceifa muitas vidas em um curto espaço de tempo. E isso é a nossa grande preocupação.
Entrevista com Gelton de Oliveira / Coordenador de Cursos Profissionalizantes na Senzala do Barro Preto (Curuzu). (Bloco Afro Ilê Aiyê 2010)
Enviada por Patrícia Bernardes
(Jornalista e Gestora Social)
Um comentário:
Obrigadoooooooo Concita!
Axé de Paz
Patrícia Bernardes
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