Foto e Texto: Carlos Baumgarten
"Trajetória de empreendedora genuinamente baiana é relatada em filme dirigido pelo publicitário João Silva". |
| O documentário apresenta a história de Alaíde, como forma de fomentar o debate do empreendedorismo aliado à criatividade |
Aos 62 anos, Alaíde Conceição, mais conhecida como Alaíde do Feijão, esbanja energia e alegria. A herança negra deu ao famoso prato de feijoada dessa cozinheira de mão cheia um valor que vai além do sabor: é reconhecido enquanto cultura de resistência de um povo. Um documentário que retrata a trajetória desta empreendedora genuinamente baiana foi apresentado na noite desta segunda-feira, 14, na sede do Sebrae Bahia, em Salvador, para uma plateia repleta de artistas, autoridades, representantes de movimentos negros e admiradores de Alaíde do Feijão.
“Sinto-me desafiada todos os dias, desde a época em que dividia um tabuleiro com a minha mãe até hoje, com o meu espaço no Pelourinho e minha clientela fiel”, destacou Alaíde. Ela lembrou os tempos difíceis, em que “se trabalhava no verão para comer no inverno”, mas sempre demonstrando que a sua dignidade estava acima de tudo, segura por sua fé nos Orixás.
A ideia de apresentar a trajetória de Alaíde no espaço do Sebrae foi justamente fomentar o debate do empreendedorismo aliado à criatividade. O superintendente do Sebrae Bahia, Edival Passos, que esteve presente à exibição do filme, afirmou que é necessário, cada vez mais, o povo baiano afirmar e valorizar a sua identidade. “Alaíde é um exemplo para todos os empreendedores baianos, que diante do desafio de sobreviver, utilizou a criatividade para empreender e crescer”, disse.
Nesse sentido, o Sebrae Bahia avança na discussão para o desenvolvimento da chamada economia criativa. “Nossa missão é mostrar que o bem imaterial, que é a cultura, pode gerar ganhos materiais, mas sem perder a essência, sem perder a identidade”, apontou o superintendente.
Dirigido pelo publicitário baiano João Silva, Alaíde do Feijão é um documentário de, aproximadamente, 30 minutos, boa parte gravado em preto e branco. Com a simplicidade que lhe é peculiar, Alaíde conta a sua trajetória, desde os tempos em que vivia no bairro da Preguiça, até se envolver com o movimento dos blocos afro na Liberdade, chegando hoje onde está, no Pelourinho. O filme foi realizado pelo Instituto Maria Preta, com a produção da Fundo de Quintal e da agência Maria Comunicação.
No bate-papo realizado após a exibição do filme, nomes como Pola Ribeiro, diretor do Irdeb (Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia), Márcio Meirelles, ex-secretário de cultura do Estado, e o próprio Edival Passos, falaram sobre a possibilidade de retratar a trajetória de empreendedores baianos afrodescendentes, como forma de apresentá-los como exemplos a serem seguidos. “A ideia é que este documentário seja um piloto para uma série de outras 52 histórias de sucesso que queremos apresentar”, explicou Pola Ribeiro.
“O Sebrae é um grande parceiro, no sentido de trazer o debate da cultura para o âmbito comercial, mas sem perder o seu valor e a sua essência”, complementou o diretor do Irdeb.
O diretor de operações do Sebrae Bahia, Lauro Alberto Chaves Ramos, também prestigiou a exibição do documentário. Ele falou da importância de se aliar a cultura ao empreendedorismo e elogiou a trajetória de Alaíde. “São as pessoas que fazem a diferença em suas próprias trajetórias. Alaíde é um exemplo de vida e, sem dúvida, é uma inspiração para o nosso trabalho desenvolvido no Sebrae”, afirmou.
Após o debate, os convidados puderam desfrutar do saboroso caldo de feijão, acompanhado por quitutes típicos da Bahia, com acarajé e abará. E, antes de finalizar, Alaíde não poderia deixar de confirmar a sua convicção: “Sou uma grande empreendedora mesmo”.
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