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Milhares de pessoas foram às ruas de cidades do mundo todo, neste sábado (15), em um dia global de protestos. Os atos questionam a elite financeira, a desigualdade econômica e o socorro aos bancos em detrimento das populações dos países endividados, especialmente na Europa e nos Estados Unidos.
A onda de protestos global, sob o lema "United for globalchange" (Unidos por uma mudança global, na tradução livre), faz parte da iniciativa internacional convocada para 951 cidades de 82 países --incluído o Brasil-- e reforçam o movimento "Occupy Wall Street" (Ocupe Wall street, em tradução livre), que mobiliza Nova York há quase um mês.
Em SP, ato mundial contra a crise global ocupa o Viaduto do Chá
Cerca de 150 se reúnem no Rio em manifestação contra a crise
Em meio a pessimismo, EUA são palco de novos protestos
Rafael Andrade/Folhapress |
Jovens participam de manifestação na Candelária, no Rio, do movimento iniciado após a ocupação de Wall Street |
O contágio do sistema econômico mundial tem gerado impacto na precária recuperação das economias dos países ricos, que têm promovido cortes de gastos (especialmente sociais) e aumentado impostos para tentar reverter a situação e diminuir a dívida pública. No entanto, as atitudes governamentais, classificadas como austeras pelas populações, deprimem essas economias e geram insegurança no consumo, pilar importante de composição do PIB (Produto Interno Bruto, a soma das riquezas geradas por um Estado). Somado a esse cenário recessivo, a perda de postos de trabalho gera um onda de insatisfação.
Até agora, as mobilizações em Roma, na Itália, foram as mais violentas, devido aos confrontos entre a polícia e centenas de manifestantes, que transformaram as ruas da capital italiana em uma espécie de batalha campal durante mais de quatro horas. Dezenas de pessoas ficaram feridas, segundo a polícia.
Mario Laporta/France Presse | ||
Nuvens de fumaça cobrem cidade durante protestos em Roma; manifestações ocorrem em 82 países |
EUA
Cerca de 2.000 manifestantes ligados ao movimento Occupy Wall Street fizeram uma passeata pelo centro financeiro de Nova York antes de outra, em Times Square, em meio a protestos globais para denunciar a desigualdade econômica.
A polícia de Nova York registrou 20 detenções depois que alguns manifestantes tentaram entrar em uma filial do Citibank "para fechar suas contas". Desde que começaram os acampamentos na cidade, a Polícia de Nova York realizou quase mil detenções, algumas maciças, como a detenção de mais de 700 pessoas no início do mês, e outras de dezenas, como as 14 registradas na sexta-feira.
Os manifestantes entoavam frases como "Nós fomos vendidos, bancos foram resgatados", "Todo dia, a semana inteira, ocupar Wall Street" e "Ei, Ei, Ho, Ho, a ganância corporativa tem que acabar" enquanto marchavam pelas ruas da área chamada Lower Manhattan.
Centenas se reuniram em Washington, capital norte-americana, assim como na canadense Toronto, de maneira pacífica durante o sábado.
EUROPA
Cerca de 40 mil pessoas fizeram uma passeata em Portugal, e centenas conseguiram furar um bloqueio policial em volta do parlamento em Lisboa e ocupar suas escadarias de mármore.
Trata-se de um dos maiores protestos recentes no país, que se seguiu ao anúncio do governo, na quinta-feira, de que adotaria uma série de novas medidas de austeridade, como cortar férias de funcionários públicos e aumentar impostos.
Luis Mauel Neves/France Presse | ||
Cerca de 20 mil pessoas foram às ruas de Lisboa e ocuparam as escadarias do Parlamento português |
"Esta dívida não é nossa" e "FMI, saia daqui agora!" eram alguns dos gritos de guerra entoados pela multidão.
Um grupo de jovens invadiu o parlamento gritando "Invasão!", "Invasão!", mas a tropa de choque da polícia conseguiu manter a situação sob controle.
Outras 20 mil pessoas também fizeram uma passeata no Porto, a segunda maior do país.
As medidas de austeridade incluíram cortes de salário no setor público, o que enfureceu trabalhadores em todo o país.
Endividado, Portugal aumentou impostos e cortou o orçamento para cumprir com as metas fiscais impostas pelo plano de ajuda de 78 bilhões de euros concedido pela União Europeia e o FMI (Fundo Monetário Internacional).
Em Frankfurt, na Alemanha --capital financeira da Europa-- cerca de 5.000 pessoas protestaram em frente ao Banco Central Europeu.
São cerca de 6.000 pessoas, segundo a organização antiglobalização Attac, e 5.000, de acordo com a polícia, na praça em frente ao instituto monetário europeu, na qual se vê um grande símbolo do euro azul e amarelo.
John MacDougall/France Presse | ||
Manifestantes vão às ruas em Frankfurt, na Alemanha; protestos contra crise se espalham pelo mundo |
Na Grécia --país que agoniza em busca de apoio da União Europeia para a concretização de um segundo pacote de ajuda para pagamento de vencimentos e salários do funcionalismo, entre outros problemas--, centenas de manifestante se reuniram na praça Sintagma, em Atenas, cercados de grandes medidas de segurança, para participar do movimento mundial.
A praça onde aconteceu a concentração se transformou em símbolo dos protestos contra a política de cortes aplicada pelo governo. Entretanto, no início da tarde a concentração de pessoas estava abaixo das expectativas, em um país que teve várias greves setoriais contra políticas de austeridade nas últimas semanas.
A polícia cercou a praça, onde se situa o parlamento, para evitar qualquer distúrbio. A manifestação conta com apresentações de vários grupos musicais, e o protesto se desenvolve em ambiente festivo e pacífico.
Hoje, em reunião dos ministros das finanças do G20, as principais economias do mundo instigaram a Europa a atuar com firmeza nos próximos oito dias para resolver a crise de dívida soberana na zona do euro, especialmente a grega, italiana e espanhola, que ameaça a economia global.
Em Londres, cerca de 500 pessoas marcharam da catedral de St. Paul até a Bolsa de Valores, onde também estava o fundador do WikiLeaks, Julian Assange.
Os manifestantes, cercados por três cordões policiais e por uma polícia montada atrás, carregavam bandeiras que proclamavam "Não mais cortes", em referência à política drástica de austeridade do governo britânico, ou inclusive "Goldman Sachs é obra do diabo".
Em Madri, manifestantes se aglomeraram na praça Porto do Sol. Manifestações devem ocorrer em ao menos outras 60 cidades da Espanha, segundo o jornal "El Pais".
Luke MacGrego/Reuters | ||
Fundador do WikiLeaks, Julian Assange, une-se a "indignados" em frente à Catedral St. Paul |
Os manifestantes levavam cartazes contrários à resposta europeia à crise financeira, ao sistema capitalista e em favor da mobilização dos cidadãos. "Parem a ditadura financeira", "Por uma Europa solidária" e "O dinheiro mata" eram algumas das mensagens mais repetidas no protesto.
PROTESTOS NA ÁSIA E OCEANIA
O protesto mundial teve repercussão significativa em países da Ásia e Oceania, tanto nas ruas como nas redes sociais, com contestações ao sistema financeiro capitalista.
As manifestações ocorreram em países como Austrália, Nova Zelândia e Japão, mas foram marcadas pelo clima pacífico e festivo. Em Cingapura, onde raramente o governo autoriza protestos, as manifestações foram vetadas. Não houve nem tentativa na China continental, país não incluído pelos organizadores do movimento.
A variedade de lemas e a diversidade de organizações que expressaram apoio à convocação de passeatas não mobilizaram massas de cidadãos em regiões asiáticas, mas conseguiram emplacar o protesto entre os trending topics (assuntos mais comentados) no microblog Twitter.
Em Tóquio, cerca de cem manifestantes percorreram debaixo de chuva o centro da cidade sob o lema "Ocuppy Tokyo" ("Ocupe Tóquio) até chegar ao parque de Hibiya, informa a agência de notícias Kyodo.
Itsuo Inouye/Associated Press | ||
Manifestantes marcham durante protesto em Tóquio; atos contra crise global chegaram à Ásia |
Além da Nova Zelândia, as capitais das Filipinas e Indonésia também se somaram ao movimento. Apesar da falta de protestos na China continental, centenas de pessoas se manifestaram nos distritos financeiros de Taipé, capital da ilha de Taiwan, e da ex-colônia britânica de Hong Kong.
Fonte : Folha de São Paulo
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