sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

“O CRESCIMENTO DO NORDESTE É EMBRIONÁRIO, NÃO PODEMOS VACILAR” - DIZ EDSON BARBOSA

 
 
José Lopes
 
Presidente da Link Comunicação e Propaganda, empresa que completa 20 anos este ano, Edson Barbosa pertence a uma geração de jornalistas baianos que, a exemplo do também discreto e competente João Santana, faz sucesso e dinheiro com marketing político e institucional. Edinho, como é carinhosamente conhecido, conversou com exclusividade com o site Gente & Mercado durante o seminário “O Nordeste do século XXI” organizado pela revista Carta Capital no início desta semana em Salvador. E falou sobre o crescimento da região Nordeste – que, pelos cálculos do Banco do Nordeste, receberá investimentos na ordem de R$ 140 bilhões até 2020 -, mercado publicitário, política e comunicou a ampliação das atividades da sua empresa para o Tocantins, onde ela acaba de ganhar a conta da propaganda institucional do governo do Estado.
Como você vê o mercado publicitário na região Nordeste?
Edson Barbosa - Antes ainda de fazer uma reflexão sobre o mercado publicitário, acho que por melhores que sejam os números do Nordeste do ponto de vista da inclusão social, o crescimento econômico ainda é muito pequeno em função da realidade que o nosso mercado configura. O que está acontecendo é um começo de conversa. Sou muito cuidadoso com certos deslumbramentos. É fato que muita coisa nova tem ocorrido, começa a haver mais indústria de transformação (que transformam matérias-primas em produtos finais ou intermediários), com muito esforço empreendedor da sociedade e apostas do poder público e da própria estrutura do comércio e da indústria. Mas ainda acho que estamos numa fase embrionária. Não podemos vacilar, porque esse surto de concentração econômica que começa a acontecer a partir de decisões políticas do governo Lula, se vacilarmos, o Sudeste reconcentra, porque o investimento costuma ocorrer onde existe maior capacidade de ampliação da produção. Cabe ao Nordeste se posicionar na política, na economia e na vida real para apontar um caminho para o futuro. Na medida em que isso se afirme nos próximos anos, vamos poder analisar melhor esse tão comemorado crescimento do mercado.
E quanto ao mercado publicitário?
E. B. - Você só tem mercado publicitário forte onde existe indústria de transformação, de produtos e serviços. No Nordeste, isso é muito imberbe e ainda é muito dependente, por um lado, da comunicação pública. Hoje, a comunicação pública ajuda a ver o mundo com qualidade, porque antes ela era auto-laudatória. Já há o entendimento, inclusive constitucional, de que comunicação pública é um direito do cidadão, que precisa estar informado, animado, inteirado. Isso estimula seu sentimento de pertencimento e ele passa a ser um agente na construção das políticas públicas. Então, a comunicação pública se tornou um mercado bastante significativo porque toda prefeitura, toda organização precisa pensar a comunicação. Ela deixou de ser vista como parte das coisas e passou a ser inerente às coisas. Não se pode pensar mais nada que se dedique ao público, seja na área pública ou privada, sem pensar a comunicação como coisa interna ao processo. E, no mundo, a acessibilidade midiática é cada vez maior por conta não só do sistema, mas do desenvolvimento de produtos que permitem as pessoas interferirem cada vez mais se incluir nos processos. Em síntese, é um momento bom, qualificado e uma prova disso foi a aquisição recente da Morya pelo Grupo ABC.
Você tem números de quanto tem crescido esse mercado?
E. B. – Geralmente o crescimento da economia implica em um rebatimento quase linear no mercado publicitário, seja nas agências, nos veículos de comunicação, nas novas tecnologias, etc. E ocorre também a inclusão de mais gente no mercado da comunicação, principalmente das pequenas empresas, que passam a demandar mais e a ter a comunicação como um valor tangível, não é aquela coisa etérea. E estou falando de Nordeste. Com relação aos percentuais, acho importante ter muito cuidado com pesquisas econômicas porque quando você pega uma região tão atrasada, que ficou de fora durante muito tempo do processo macroeconômico, o rebatimento e a conseqüência é muito mais intensa do que nos lugares onde você já tem essa estrutura. O investimento do Nordeste em educação superior e educação técnica – Pernambuco tem mais de 200 escolas de referência e escolas técnicas por todo o estado e segue desconcentrando investimentos e atraindo empresas importantes como a Bahia. E ainda vai demorar para que os investimentos em infraestrutura se destaquem: Suape (principal complexo portuário de Pernambuco) está se consolidando agora, depois de quase 40 anos. A gente precisa entender também que esse é um processo gradativo, que só vai ser consolidado se a sociedade, principalmente os setores produtivos, estiverem dentro do jogo. Aí o mercado cresce. É preciso mudar uma mentalidade. O Nordeste precisa deixar de ser paroquial na dimensão do pensamento e se tornar universal. Para isso, precisa superar um complexo de inferioridade brutal que nos assola, a idéia de que você é pequeno, é nordestino e não pode competir, por exemplo, com os americanos, ingleses, espanhóis. Isso é balela, é um jogo dos conservadores que se locupletavam porque a maioria das pessoas não tinha informação.
Já que você entrou nessa seara, pode contar um pouco a história da expansão da Link, que é uma empresa baiana?
E. B. – Estamos fazendo 20 anos este ano. Estamos comemorando muito discretamente, produzimos apenas uma agenda, com folhas em branco, porque há toda uma história a se construir. Desse tempo, eu tenho 14 anos como sócio e, desde 2005, a empresa mantém a mesma configuração de sociedade e de foco na comunicação pública (institucional e corporativa) e privada (de produtos e serviços) quando realmente é um “job” de grande qualidade que nós temos condições de servir.
Quais são os grandes clientes da Link hoje?
E. B. – Hoje estamos no Brasil e fazemos alguns “jobs” no exterior. Atendemos o Ministério da Educação, o Ministério dos Transportes, os Correios, os Governo de Pernambuco e de Sergipe, o PSB Nacional. Nesse trabalho de qualidade da imagem do ministro Fernando Haddad, por exemplo, tem um grãozinho de areia nosso. E, recentemente, ganhamos duas concorrências importantes, a do Conselho Federal de Medicina e do Governo de Tocantins. No exterior, atualmente, temos um “job” no Equador, com o Instituto de Seguridade Social, ligado diretamente à Presidência da República daquele país. Já atuamos também em Angola e El Salvador.
Então, brevemente, haverá um escritório da Link no Tocantins?
E. B. – Sim, em Palmas. É uma pequena participação, mas é um começo de história. Queremos contribuir mais.
A comunicação do Inep, organizador do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), também são vocês que fazem?
E. B. – Cuidamos da comunicação institucional do MEC e considero o Enem uma mudança de paradigma. Por isso, contraria tanto vagabundo que mandava na educação superior do Brasil.
E aqui na Bahia?
E. B. – Atendemos à Federação das Indústrias (Fieb), o Tribunal de Justiça, o jornal A Tarde, instituições extremamente importantes. E temos também clientes nas áreas de serviços, clínicas de estética, construção civil. Mas temos procurado ser nesse segmento privado uma agência bastante “low profile”, porque não é um mercado que a gente disputa. Nosso mercado essencial é comunicação pública, política, institucional e corporativa. É nisso que estamos focados. Mas se você me trouxer uma conta de uma construtora, um varejo importante, uma montadora, estamos prontos e equipados para trabalhar, até porque os profissionais que estão na Link têm uma vasta experiência em contas do setor privado.
A matriz fica aqui em Salvador?
E. B. – Não existe essa coisa de matriz, estamos em rede. Brasília, Recife, Salvador, Aracaju, São Paulo.
E a Link de Belo Horizonte?
Essa não é nossa. Temos uma disputa de domínio tanto de internet, quanto de registro mesmo e temos uma ação para quebrar isso. Mas temos “Jobs” específicos em Minas Gerais, no Pará e também em outros países. Tivemos uma experiência maravilhosa em Angola durante sete anos.
Vocês ainda têm parceria com a M’Link do publicitário Sérgio Guerra?
E. B. – A Marketing Link era da Link, nós que criamos. Sérgio era um dos sócios e quando separamos a sociedade o projeto M’Link ficou com ele e o projeto Link Brasil ficou comigo, mas temos uma relação extremamente cordial, amiga, parceira, contribuímos mutuamente um com a empresa do outro. Uma relação bem legal.
Com relação ao evento da Carta Capital, qual a importância que você vê nele?
E. B. – Foram reunidos os governadores das três maiores economias do Nordeste – Wagner da Bahia,Eduardo Campos de Pernambuco e Cid Gomes do Ceará -, o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra e a professora Tânia Bacelar que, na minha opinião, é a mais importante cabeça do planejamento do Nordeste, que sempre coloca pontinhos vermelhos onde a gente precisa ter cuidado e aponta os caminhos mais sensatos, além da presença de instituições e secretários de Estado. Para mim, isso é uma alegria muito grande porque mostra não um discurso, mas uma atitude de integração que precisa ser radicalizada e a imprensa precisa cobrar isso. Era uma irresponsabilidade quando os governadores do Nordeste ficavam naquela coisa “farinha pouca, meu pirão primeiro”, isso é uma coisa estúpida. O Nordeste é complementar da Bahia ao Maranhão, passando por Sergipe, Pernambuco, Alagoas, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, todos têm que se juntar. Somos uma nação cultural, temos sinergia, pensamentos, jeitos, culinária, som, alegria e um estilo de ser que é uma marca nossa. É muito bom ver, hoje, um ministro pernambucano na sua origem, que foi prefeito de Petrolina e secretário de desenvolvimento econômico e social, com um sentimento e uma atitude de respeito pela Bahia. Diferente de outros ministros que pegavam o dinheiro do ministério, focavam numa cidade onde queriam ganhar uma eleição e esqueciam do conjunto.
PT e PSB não disputam a hegemonia política na região?
E. B. – Você tocou em um ponto que acho muito importante, porque não vejo disputa. Acho que pensar em PT, PSB e PCdoB – partidos mais à esquerda – em termos de disputa é um desgaste de energia. Mesmo com as figuras boas que têm o PSDB, o Democratas e o PMDB. As lideranças políticas do Nordeste precisam entender que a nossa oportunidade está acima de questões pequenas, de disputas estéreis. Não que a disputa deixe de existir, é importante até que ela exista, mas o momento é da gente entender as estruturas partidárias não como corporações sectárias, mas estruturas de qualificação. Os partidos podem disputar a hegemonia do poder, no entanto, o conceito de partido precisa se modernizar para uma forma de organização onde você junta cabeças mais iguais e nos outros partidos podem existir cabeças que sejam mais afins com o projeto vitorioso do que os que estão dentro do principal partido. Eu acredito na vida partidária e acho que a sociedade deve se organizar em partidos, agora precisa repensar a luta político-partidária. O que não podemos é conviver com corruptos, criminosos, pessoas que não têm espírito público e que não têm princípios. E gente que não tem princípios tem em todo canto. Não se pode conspurcar um partido, uma empresa, uma família por causa de uma pessoa ou de algumas pessoas.
Eduardo Campos e Wagner despontam como lideranças nordestinas e não disputam investimentos para seus respectivos estados?
E. B. – Despontam, mas não disputam. Porque tem que ter muito mais investimentos para o Piauí e para Alagoas do que para a Bahia ou para Pernambuco. Qualquer disputa que leve à fragmentação é estúpida, atrasada, reacionária, não tem cabimento. O que tem é que ter gestão, monitoramento, fiscalização, projeto que esteja sendo bem executado na frente, com contrapartida do Estado bem definida para atrais ainda mais investimentos. Aí as coisas acontecem.

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