segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Último volume da trilogia Entre Amigos é lançado no MAM

No candomblé, é através da particularidade sonora de três atabaques (rum, rumpi e lê) que os orixás expressam-se, ritualmente, no plano material. No plano estético, as singularidades de Jorge Amado, Carybé e Pierre Verger, sem precisar mitificá-los, expressaram uma poética do candomblé. Não à toa, receberam de Mãe Senhora (1890-1967), lendária ialorixá do Ilê Axé Opô Afonjá, o título de Obás (Ministros) de Xangô.
O vínculo dos três artistas com a religião e sacerdotes baianos fica mais evidente no livro Carybé, Verger & Jorge — Obás da Bahia, que será lançado na próxima quarta-feira, às 19 horas, com uma festa que imita as festas de largo, no Museu de Arte Moderna da Bahia — onde também acontece a exposição Jorge, Amado e Universal.
O livro encerra a trilogia que deu origem ao selo Entre Amigos, desenvolvida pela Fundação Pierre Verger (FPV) e a Solisluna Editora, que já publicou os livros Carybé & Verger — Gente da Bahia e Carybé, Verger & Caymmi — Mar da Bahia, com patrocínio da Odebrecht, através da Lei Rouanet de Incentivo à Cultura.

Amizade

Para o presidente da Fundação Pierre Verger e conselheiro da Odebrecht, Gilberto Sá, a coleção tem muito a ver com o argentino Carybé. Após a morte do fotógrafo francês, em 1996, a equipe da FPV, que contava com Carybé como conselheiro, ficou fascinada com a quantidade de documentos do acervo. E com a morte de Carybé, um ano depois, outros documentos do seu acervo reforçaram o vínculo entre os dois, além de Jorge Amado, Caymmi e outros.

De acordo com Sá, o último livro, que se chamaria Povo do Santo, tomou outro sentido pelo fato de os quatro artistas serem obás do Opô Afonjá — o que ampliou a compreensão da relação entre eles. "No fundo, no fundo, eles vieram de regiões diferentes, mas teve uma coisa que os uniu e talvez tenha sido o causador da grande amizade, que foi o candomblé".

Inspiração

Com concepção, edição de arte e design de Enéas Guerra e Valéria Pergentino, da Solisluna Design Editora, a ideia do projeto começou nas comemorações dos 100 anos de Pierre Verger, em 2002, quando fizeram o design da exposição sobre a Bahia, fundindo as fotos de Verger com desenhos de Carybé. Mas o projeto só foi realizado em 2008.

Guerra, que trabalhou na edição de livros de Verger, como Orixás e Primeiro Retrato da Bahia, e de Verger e Carybé (Lendas Africanas dos Orixás), todos pela visionária Editora Corrupio, destaca a inspiração que a religião representou para os três: "É muito visível o que o candomblé fez com a arte deles".

Responsável pela edição dos textos e redação final dos livros, o jornalista José de Jesus Barreto considera que foi o "encantamento" que levou os três amigos, que não eram religiosos, ao universo do candomblé. "O candomblé foi um ponto de referência de todos eles, embora nenhum recebesse santo. Mas se encantam de tal forma que dão a vida em defesa do candomblé", diz Barreto.

Para ele, o lançamento do último volume da trilogia compõe o painel de um período que chama de "Renascença Baiana". Do pós-guerra até os anos 1960, com a instituição das escolas de artes da Ufba. "A Bahia era um polo cultural do Brasil e Carybé e Verger não só registram este momento, mas participaram como protagonistas".

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