35 anos do Olodum e o símbolo da paz
No ano em que o
Grupo Cultural Olodum comemora seus 35 anos a população brasileira
assiste de forma impotente a uma escalada da violência. Em todo país há
um misto de resignação e incredulidade.
Há exatos 20 anos fui convidado para desenvolver uma nova marca para o Olodum que se preparava para uma turnê na Europa.
Imediatamente
após o briefing que me foi passado embarquei para São Paulo. Fui gravar
um comercial com Sílvia Pfeifer para a campanha de um lançamento
imobiliário. Após as gravações, que se estenderam noite adentro, exausto
e muito cansado, ao entrar no apartamento do hotel, liguei a TV. E, a
primeira imagem que vi, antes mesmo de tomar aquele banho regenerador,
foi uma cena chocante de violência em um país da Europa, envolvendo
estudantes e a polícia local. Fui dormir com um barulho deste.
No
dia seguinte, lá estava eu novamente, gravando na Barra da Tijuca cenas
para outro comercial, desta vez com Cláudia Raia. Após as gravações,
que transcorridas na maior tranquilidade, saí para jantar com a equipe e
novamente ao chegar ao hotel, minha primeira atitude foi ligar a TV. E,
mais uma vez a primeira imagem foram cenas de violência, envolvendo
estudantes, só que em outro país europeu.
No dia
seguinte, retornei a São Paulo para a finalização dos comerciais. De lá,
fiquei sabendo que um membro do Olodum havia levado um tiro de um
policial durante o
tradicional ensaio que semanalmente se faz nas terças, no Pelourinho, em Salvador.
Não
deu outra: me veio à cabeça um dos símbolos do movimento hippie,
fortemente assumido no Festival de Woodstock como mensagem de paz e
amor. Vi no Olodum grande potencial como mensageiro da paz. Naquela
altura, o Olodum já era uma referência por sua inconfundível batida de
samba-reggae. Pensei: ele bem que poderia tornar-se, tanto na Europa
quanto em seu território, na Bahia, um ícone da paz.
Não
pensei duas vezes. Desenhei rapidamente em um guardanapo a proposta da
marca, utilizando uma caneta hidrográfica, apenas acrescentando certa
estilização e a indicação das cores do movimento pan-africano: o
amarelo, vermelho, verde e preto.
Quando retornei a
Salvador e peguei o jornal A Tarde, me deparei com uma foto, estampada
na primeira página, de autoria do meu amigo Xando Pereira, que fazia
lembrar um mar de tambores na Praça da Piedade. Todos os membros do
bloco apareciam com suas cabeças abaixadas em frente aos seus tambores,
tendo ao fundo o imponente prédio da Secretaria de Segurança Pública do
Estado da Bahia. Faziam eles e sua diretoria um protesto silencioso.
Imagem de muita força, emocionante demais, e de um significado ímpar. A
partir dali não tive mais qualquer dúvida. A marca da paz precisava ser
assumida pelo Olodum como a sua marca mais definitiva.
Lembro
que recomendei de forma simples e clara a João Jorge: “coloque a marca
no meio de um enorme pano branco no fundo do palco”.
A
maneira como a marca foi destacada pelos principais jornais da Europa, a
boa impressão e visibilidade que provocou sobre o grupo o obrigou a
transformá-la em seu símbolo definitivo, como pano de fundo de seu
recado para a humanidade.
Fato é que hoje esta marca
além de ser considerada por muitos especialistas como a marca brasileira
mais conhecida no mundo, e de acumular muitos prêmios nacionais e
internacionais, ela continua de uma atualidade sem par.
Diante
do atual descrédito das instituições brasileiras, que em muito vem
contribuindo para a escalada de violência no país, relatei - ao tomar
posse como conselheiro do Olodum, em 25 de abril deste ano, no auditório
Nelson Mandela, no Pelourinho - como foi criada esta marca, e
aproveitei para sugerir que a diretoria do Olodum assumisse o
compromisso público de liderar uma campanha pela paz e contra a
violência na Bahia e no Brasil.
Vida longa ao Olodum, com paz e amor, bicho!
João Silva – Diretor da Maria Comunicação. joaosilva@uol.com.br
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