SILAS MARTÍ
A disparada do dólar em relação ao real ameaça o cenário cultural do país, aumentando a dificuldade para trazer montagens teatrais e até filmes estrangeiros para festivais realizados no país.
Nas artes visuais, a valorização do dólar –que chegou a R$ 3,31 na semana passada– ameaça pôr fim à era das megaexposições de estrelas internacionais, como as dedicadas a Ron Mueck e Salvador Dalí, que levaram multidões a museus do país.
Mostras que já vinham sendo preparadas para estrear no Brasil neste ano e no ano que vem, entre elas uma retrospectiva do norte-americano Edward Hopper, uma mostra com obras vindas do Louvre, em Paris, e outra com fósseis do Museu de História Natural de Nova York podem ser canceladas ou adiadas.
Um dos problemas apontados por produtores é que exposições com recursos captados via Lei Rouanet, a grande maioria delas, têm seus contratos fechados em reais com até um ano de antecedência e agora eles estão defasados.
Divulgação
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| 'Morning Sun', de Edward Hopper; mostra do artista no CCBB saiu da programação do instituto |
Patrocinadores, como o Banco do Brasil, vêm orientando produtores a estimar uma variação cambial ao submeter seus projetos à aprovação do governo, mas ninguém previa alta tão acentuada.
"Se recebi o dinheiro no câmbio do ano passado, já é um problema", diz Bruno Assami, produtor de mostras como a de Mueck e da libanesa Mona Hatoum, que passaram pela Pinacoteca, em SP. "Não há planejamento que aguente com essa alta do dólar."
É o caso da mostra de Edward Hopper, que chegou a ser anunciada pelo Centro Cultural Banco do Brasil, mas depois saiu da programação.
Segundo sua produção, a tentativa para viabilizar a mostra é aumentar o número de cidades que a recebem, já que o custo do seguro e empréstimo das obras é diluído entre os locais. Produtores vêm negociando com o museu Whitney, de Nova York, de onde vêm as peças, para chegar a um possível acordo.
O mesmo acontece com a mostra sobre dinossauros, com peças do Museu de História Natural de Nova York, prevista para o fim do ano no Catavento, em São Paulo. Segundo produtores, o museu nova-iorquino faz conferências por telefone a cada semana com a equipe local para avaliar a piora na economia.
ATRASO
Outra vítima da crise, o Instituto Inhotim, do magnata Bernardo Paz, atrasou a construção de dois pavilhões, galerias dedicadas à obra da fotógrafa Claudia Andujar e à do dinamarquês Olafur Eliasson que seriam inauguradas no ano passado e agora não têm uma data para ser abertas.
Um terço do orçamento anual de R$ 40 milhões do museu mineiro vem de recursos do empresário. Outra patrocinadora do Inhotim, a Vale, também vem sofrendo com o cenário econômico por causa da queda no preço do minério de ferro. "Essa situação afasta as empresas", diz Antônio Grassi, diretor-executivo do complexo de museus.
O setor automobilístico também revê planos de patrocínio. Segundo produtores, a Casa Fiat de Cultura, nos arredores de Belo Horizonte, tem dificuldades para trazer ao país uma mostra de Orazio e Artemisia Gentileschi, mestres do barroco italiano.
Fonte: Folha de S.Paulo
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