domingo, 29 de março de 2015

CONTRA A CRACOLÂNDIA MENTAL

Entra em cena, hoje, a GAZETA DOS BÚZIOS, criação coletiva de escritores, artistas, jornalistas, cientistas e intelectuais baianos, na tentativa de agitar o horizonte e ir além do maniqueísmo e da mesmice reinantes, para reacender entre nós a paixão do pensar e do fazer.
Sabemos que não vai ser fácil. A Bahia atravessa hoje dias de mormaço mental. De uma parte, aparece como vasto reino da redundância. De outra, converteu-se num deserto de ideias e discussões. Em todos os campos do pensar e do fazer. Como se não bastasse, caímos num supérfluo preservacionismo de bijuteria, enquanto a nossa memória mais profunda se dissolve e se desintegra a olhos vistos.
Enfim, a dimensão simbólica da vida social baiana passa por um dos períodos menos criativos e mais medíocres de nossa história. Com os poderes públicos pouco se importando com tal degradação cultural – na política, na arte, nas análises e reflexões teóricas, etc. Pelo contrário. Parece que a máxima hoje dominante é uma só: quanto menos posturas crítico-criativas, melhor. Do outro lado da cerca, estabeleceu-se uma complacência, ao mesmo tempo pastosa e festiva, de todos para com todos. Nenhuma inquietude é bem-vinda.
E isso logo na terra de Gregório de Mattos, do Cinema Novo e da Tropicália. É estranho. Algo que contraria toda a nossa tradição de crítica, invenção e intervenção renovadora na vida brasileira. Porque a Bahia, em seus momentos mais vivos, sempre se definiu no avesso da mesmice. Interna e externamente (de Vieira a Glauber Rocha, passando por Guerreiro Ramos, Nestor Duarte, etc., etc.), agitando aqui dentro e realizando intervenções significativas no horizonte nacional.
Por uma convergência de fatores nefastos – que, com o tempo, iremos examinar um a um –, isso murchou. Vivemos dias de declínio, de manipulações falsificadoras de nosso passado e do nosso presente, de aplausos vazios (ou mesmo comprados), de omissão e submissão, de “chapabranquismo” deslavado e corrupto, enquanto toda discussão mais séria (e, também, a mais irreverente) é simplesmente silenciada.
Hoje, nossa “mídia” impressa é sinônimo de falência mental. As eletrônicas (televisão e rádio) não destoam. Não temos políticas públicas para a cultura. Não temos leituras econômicas, políticas, sociológicas ou antropológicas de nossa realidade. O campo estético é repepetitivo. Em suma: a Bahia vai virando uma cracolândia mental.
As consequências políticas e culturais desse processo de deterioração – e das ações culturalmente predatórias a que assistimos – já são visíveis. E serão terríveis se não reagirmos desde agora ao rolo compressor, abrindo focos e clareiras de criatividade, inteligência crítica, pensamento livre.

É esta a conversa que precisamos e vamos ter – publicamente, gerando meios e modos que apontem para a construção de uma alter/nativa. A GAZETA DOS BÚZIOS vem justamente para se empenhar nessa direção, configurando-se como uma plataforma de lançamento de signos novos e ideias limpas. Um dos espaços possíveis de uma Bahia independente. E para isso pedimos a sua atenção ativa, participante e colaboradora. 

Fonte: gazetadosbuzios

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