quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Poetas africanos: Joaquim Dias Cordeiro da Matta


Investigador, jornalista e poeta angolano, Joaquim Dias Cordeiro da Matta nasceu a 25 de dezembro de 1857 em Icilo e Bengo (Angola).


Uma das figuras angolanas mais multifacetadas do século XIX, Cordeiro da Matta foi poeta, cronista, romancista, jornalista, pedagogo, historiador, filólogo, folclorista e a sua investigação e zelo levaram a estabelecer em Angola um grande respeito pela cultura e tradição quimbunda.

Como jornalista sobressaiu em O Arauto Africano e O Farol do Povo e colaborou em várias publicações como Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiras (1879-1892) e Jornal de Luanda (1870). Publicou vários livros, que na sua maioria desapareceram, como Delírios 1875-1887 (1889), O Loandense da Alta e Baixa Esfera, Filosofia Popular em Provérbios Angolenses (1891), Dicionário Quimbundo-Português, Cartilha para se Aprender Quimbundo, Contos Angolanos e Cronologia de Angola, entre outros.

Cordeiro da Matta, um dos exemplos de autodidatismo na história do jornalismo e da investigação angolana, morreu a 2 de março de 1894, em Barra do Cuanza, em Angola.

NEGRA!

Negra! negra! como a noite

d'uma horrível tempestade,

mas, linda, mimosa e bella,

como a mais gentil beldade!

Negra! negra! como a asa

do corvo mais negro e escuro,

mas, tendo nos claros olhos,

o olhar mais límpido e puro!

Negra! negra! como o ébano,

seductora como Phedra,

possuindo as celsas formas,

em que a boa graça medra!

Negra! negra!... mas tão linda

co'os seus dentes de marfim;

que quando os lábios entreabre,

não sei o que sinto em mim!...

II

Só, negra, como te vejo,

eu sinto nos seios d'alma

arder-me forte desejo,

desejo que nada acalma.

se te roubou este clima

do homem a cor primeva;

branca que ao mundo viesses,

serias das filhas d'Eva

em belleza, ó negra, a prima!...

gerou-te em agro torrão;

S'elevar-te ao sexo frágil

temeu o rei da criação;

é qu'és, ó negra creatura,

a deusa da formosura!...


Via Geledés

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