sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Por que não exterminamos os mosquitos da face da Terra?


Uma criatura que chupa sangue, espalha doenças e é barulhenta é difícil de convencer mesmo os amantes da natureza. O temido mosquito é agora o principal suspeito da repentina chegada e propagação do zika vírus na América Central e do Sul. O vetor da zika é o mosquito Aedes aegypti, uma espécie tropical e global já bem conhecida por espalhar doenças como febre amarela e dengue.

Existem apenas 3.500 espécies de mosquitos, o que é bem modesto para a família dos insetos—mas seu impacto na saúde e no bem-estar da humanidade é catastrófico. As fêmeas do mosquito Anopheles carregam parasitas que causam até 500 milhões de casos de malária todo ano, enquanto o mosquito asiático Tigre, o Ades albopictus, espalha os vírus da dengue e da chikugunya. Mosquitos têm sido vetores de doenças como o vírus do Nilo Ocidental e agora zika.

Mosquitos são mais creditados por miséria e perdas para a humanidade do que qualquer outro organismo (com a óbvia exceção de nós mesmos). Eles são criaturas desagradáveis, com suas pernas inquietas e murmúrios de lamentação, suas larvas infestam lagos e pântanos sombrios. E, sob as condições certas, eles têm mobilidade e senso expansionista, se sentem casa em habitats que nós criamos.

O que traz as questões: que bem eles fazem—e se pudéssemos exterminá-los da face da Terra, deveríamos fazer isso?

Como observado pela ecologista Sarah Fang, o consenso é que os mosquitos não fazem nenhum bem particular que fosse fazer falta. Se você os julgar de acordo com a ideia gentil, mas evocativa do ecologista Charles Elton, de que cada criatura tem um nicho—assim como uma vila tem seus personagens em funções como açougueiro, padeiro e policial—então os mosquitos parecem não ter nenhum propósito especial. Então ninguém sentiria falta deles, certo?
Amantes de mosquito argumentam

Os argumentos a favor dos mosquitos caem em duas grandes categorias. A primeira diz que graças à grande quantidade, eles são essenciais em cadeias alimentares, principalmente nas tundras do Ártico. Lá, por algumas breves semanas, eles nascem em números extraordinários, criando nuvens visíveis de mosquitos adultos e um suprimento de comida para pássaros migratórios que vão para o norte aproveitar essa recompensa.

Fang sugere que os ataques de mosquitos podem ser ferozes o suficiente para desviar as linhas de migração de renas, o que traria consequências a paisagens como pastos de rebanhos e pisoteio de terrenos. Em uma relação não usual entre mosquitos e seus predadores, um estudo sobre a alimentação de pequenos morcegos de florestas, Vespadelus vultuernus, no leste da Austrália, revelou uma relação forte com mosquitos adultos Aedes vigilax. Portanto, a necessidade alimentar desses morcegos pode ser o melhor caso a favor dos mosquitos.

Mosquitos jovens também são importantes em algumas cadeiras alimentares de água doce, como presas, como o mosquito peixe, Gambusia affinis, ou em pequenas poças de água nas bases de folhas de plantas carnívoras e bromélias altas em copas de florestas. Por entre as árvores do dossel, uma fauna em miniatura de rãs venosas de cores vivas e caranguejos prospera nas piscinas de bromélias, chamadas phytotelmata, alimentando-se dos corpos de mosquitos jovens afogados. Mas, apesar de rãs e morcegos terem seus clubes de fãs entre os ecologistas e entusiastas da natureza, não são capazes de influenciar a maioria das pessoas a favor de mosquitos.

O segundo argumento é que mosquitos têm um papel mais geral em prover serviços à natureza, como polinização ou liberação de nutrientes com mosquitos jovens se alimentando de detritos orgânicos. Apesar de mosquitos atuarem como polinizadores de orquídeas e solidagos, entre outras plantas, eles não têm um monopólio – eles não se encaixam especialmente neste papel e existem muitos outros polinizadores capazes de ocupar esse papel.

Enquanto o declínio de abelhas é um exemplo proeminente de um serviço de ecossistema em perigo, o mosquito é somente um entre muitos polinizadores, um infeliz que pode ser cortado do cenário. Sua importância tem sido a ameaça.
Mas apesar disso

Como o explorador português João de Barras disse sobre trópicos: "Deus colocou um anjo impressionante com uma espada flamejante de febres mortais que nos impede de penetrar no interior deste jardim".

Assim, não parece haver nenhuma boa razão para defender os mosquitos. A sua destruição iria libertar a humanidade de uma terrível maldição. Exceto por uma dúvida...

Todo o sangue nutritivo e quente estaria disponível de repente. E há muitos outros bichos por aí, como moscas e pulgas, esperando uma oportunidade para entrar em cena. Cuidado com o que você deseja.

Este texto foi publicado originalmente no site The Conversation. Ele foi escrito por Mike Jeffries, da Northumbria University, Newcastle.

Mike Jeffries, deThe Conversation

Via Exame.com

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