quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Spike Lee provoca e diverte com 'Chi-Raq' em Berlim

Cena do filme 'Chi-Raq', de Spike Lee(Divulgação/VEJA)

Em seu novo filme, Chi-Raq, apresentado fora de competição no Festival de Berlim, o cineasta Spike Lee elegeu, claro, um tema explosivo: a violência de negros contra negros numa área pobre de Chicago, onde houve 2.500 vítimas de armas de fogo nos dez primeiros meses de 2015. Contudo, o assunto sério foi tratado com fluidez e humor ao ser associado com a comédia Lisístrata, escrita pelo grego Aristófanes em 411 a.C., em que as mulheres de Atenas, cansadas das guerras contra Esparta, fazem greve de sexo.

É a mesma solução encontrada por Lysistrata (Teyonah Parris), namorada de Demtrius Dupree (Nick Cannon), também conhecido como o rapper Chi-Raq, junção de Chicago e Iraque, e líder da gangue Spartans. Do outro lado está Cíclope (Wesley Snipes), que comanda a gangue Trojans.

Quando a pequena Patti é morta no fogo cruzado, Lysistrata e as outras mulheres da comunidade, como a mãe da menina, Irene (Jennifer Hudson), e Miss Helen (Angela Bassett), decidem dar um basta.

O roteiro de Lee em parceria com Kevin Wilmott foi feito em formas de versos, como o original de Aristófanes, aproximando-se do rap. Samuel L. Jackson interpreta Dolmedes, que atua como o coro grego, contextualizando o que acontece. Chi-Raq é a primeira produção do Amazon Studios. Com sua mistura de tragédia, comédia, sátira e musical, alcança um resultado dinâmico e forte.

Competição - O recurso da metáfora para falar de uma séria realidade social também foi utilizada por alguns dos filmes que concorrem pelo Urso de Ouro, como o tunisiano Inhebbek Hedi, de Mohamed Ben Attia; o chinês Chang Jiang Tu, de Yang Chao; e o bósnio Smrt u Sarajevu (Morte em Sarajevo, na tradução livre), de Danis Tanovic.

Tanovic, cujo Um Episódio na Vida de um Catador de Ferro-Velho ganhou o Grande Prêmio do Júri em Berlim em 2013, inspira-se livremente na peça de Bernard-Henri Lévy Hotel Europa, com uma estrutura panorâmica e supostamente solta que lembra os filmes de Robert Altman.

Um hotel em Sarajevo torna-se um microcosmo do país, da região dos Bálcãs e da própria Europa durante a homenagem aos cem anos do assassinato, nas ruas da cidade, do herdeiro do Império Austro-Húngaro Francisco Fernando pelo estudante bósnio Gavrilo Princip, que foi o estopim da Primeira Guerra Mundial.

Como boa parte do continente, o Hotel Europa está à beira da falência. O gerente Omer (Izudin Bajrovic) tenta administrar os problemas durante a visita de diversos membros da União Europeia, enquanto os funcionários ensaiam uma greve. Uma jornalista faz entrevistas sobre a data comemorativa, discutindo os conflitos ainda existentes entre os povos balcânicos, em especial entre sérvios, croatas e bósnio-herzegovinos. Também indaga se Princip é um herói por ter se livrado de um invasor - Sarajevo fazia parte do Império Austro-Húngaro na época - ou um terrorista. Assim como Lee, Tanovic trata de assuntos muito preocupantes, mas com uma pitada cômica.


Fonte: Veja

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