O antropólogo Jósimo da Costa Constant, 27 anos, percebeu logo cedo a importância da educação para a manutenção da cultura do seu povo. Indígena da etnia poianaua, nasceu em uma aldeia do município Mâncio Lima (AC), na fronteira com o Peru. Criado com os costumes indígenas, precisou se mudar com a família para a cidade – o pai, que era professor na escola local, teve a oportunidade de cursar o ensino superior na Universidade Federal do Acre (Ufac).
Como a aldeia só oferecia educação até o quinto ano do ensino fundamental, para Jósimo foi a chance de seguir com os estudos. “Senti muita dificuldade em sair de lá para estudar na cidade, me adaptar a um modo de vida diferente, passar por cima do preconceito”, lembra. Depois de concluir o ensino médio, retornou à aldeia com a família.
Jósimo passou o ano seguinte lecionando na escola onde havia estudado: dava aulas de inglês e de educação física. “Foi o momento em que minha vida começou a mudar muito. As nossas práticas tradicionais nunca foram esquecidas; mantivemos a prática do idioma, da cultura. Mas começamos a reivindicar direitos para a nossa comunidade”, afirma o indígena. Por ser uma das poucas pessoas da região que falavam inglês, logo foi chamado para dar aulas do idioma estrangeiro em Mâncio Lima. “Gostava de ir para a escola pintado, dava bom dia para os alunos no meu idioma. Tinha professor que não gostava, mas eu fazia isso mesmo assim”, acrescenta.
Jósimo soube da reserva de vagas para estudantes indígenas na Universidade de Brasília (UnB) em 2012. Prestou o vestibular e passou para o curso de antropologia. “Tudo foi difícil, a adaptação financeira, psicológica, lidar com a entrada em uma instituição de excelência no país”, comenta. Mesmo diante das dificuldades, Jósimo agarrava-se à sua motivação: era o primeiro poianaua a ir tão longe para estudar, queria dar esse orgulho ao seu povo. “Queria mostrar isso para quem dizia que indígenas não conseguiriam fazer ensino superior. Minha força de vontade era muito grande”, ressalta.
Durante o período do curso, Jósimo participou do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) e, em seguida, entrou no Programa de Educação Tutorial (PET) da UnB. “Por meio da luta dos estudantes indígenas, conseguimos auxílio-moradia, isenção no restaurante universitário. E consegui uma bolsa do MEC, que era melhor do que a que eu recebia. Aos poucos, as coisas foram melhorando”, comemora.
No dia 29 de junho deste ano, Jósimo apresentou seu trabalho de conclusão de curso no Centro de Convivência Multicultural dos Povos Indígenas da UnB – espaço chamado de maloca por estudantes e professores da universidade. A cerimônia de colação de grau será em 14 de setembro.
Com orgulho de ser o primeiro indígena a se formar em antropologia pela UnB, Jósimo afirma que vai seguir nos estudos. Antes mesmo de terminar a graduação, passou na seleção de mestrado em direitos humanos da universidade. “Quero fazer um doutorado e, quem sabe, me tornar professor universitário. Meu objetivo é fazer projetos voltados para o meu povo, divulgar nossa cultura, trabalhar pelos povos indígenas e pelas minorias”, enfatiza.
Por mais que as aspirações de Jósimo se voltem para a academia, ele não abre mão de ensinar a cultura do povo poianaua a quem queira ouvir. Toda semana, narra histórias para alunos da Escola Municipal Aleixo Pereira Braga, na Cidade Ocidental (GO). Além disso, dá aulas de inglês como voluntário para os indígenas que estudam na UnB.
Celebração – Neste 11 de agosto, comemora-se o Dia do Estudante. A data ficou marcada no Brasil desde que Dom Pedro I, então imperador, autorizou a criação das primeiras faculdades do país, em 11 de agosto de 1827.
Do Planeta Universitário
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