Quinta Magnólia acolhe edição de 2017 do Festival Raízes do Atlântico a 15, 16 e 17 de Junho, num total de 9 concerto
Do Dnotícias
JOÃO FILIPE PESTANA /
FUNCHAL
São boas notícias para os aficionados da world music em particular e dos fãs de música em geral: os emblemáticos jardins da Quinta Magnólia preparam-se para voltar a acolher o Festival Raízes do Atlântico, cuja edição de 2017 decorre nos dias 15, 16 e 17 de Junho, este ano contando com três espectáculos por dia, num total de nove concertos.
Aquele que é considerado o mais antigo festival de world music de Portugal é organizado pela Secretaria Regional de Economia Turismo e Cultura, através da Direção Regional da Cultura, com direção artística de Nuno Barcelos, pretendendo dar continuidade à renovação implementada no ano passado.
Hoje é também finalmente desvendado um dos cabeças-de-cartaz da edição deste ano do ‘Raízes’. Trata-se, nada mais, nada menos, que Elza Soares, a chamada diva da bossa negra, a voz do milénio segundo a BBC e vencedora de vários Grammy, os maiores prémios da indústria da música.
Conforme diz a organização do ‘Raízes’, este será um “momento histórico” para o festival ou não estivéssemos a falar de um dos grandes símbolos da música brasileira que fará, no Funchal, possivelmente, um dos últimos concertos fora do Brasil.
Autora do recente muito celebrado e elogiado ‘A Mulher do Fim Mundo’, vencedor do Melhor Álbum do Ano pela ‘Rolling Stone’, além de vencedor do Grammy Latino eum ‘ilustre’ integrante da lista dos 10 melhores álbuns do ano pela New York Times, entre tantos outros prémios e distinções.
Diga-se que Elza Soares é uma mulher que sobreviveu a tudo e que é considerada “um dos maiores tesouros da cultura brasileira”, conhecida por afirmar publicamente que irá cantar até morrer, tal como diz um dos versos do álbum. Aliá, o prestigiado ‘Guardian’ escreveu que “para Elza o tempo parece não pesar”.
Viúva da lenda dos relvados Garrincha, mãe aos 13 anos que teve que suportar a indiscritível dor de perder vários filhos, nascida no meio do samba numa favela do Rio, Elza foi descoberta aos microfones da rádio pelo grande Ary Barroso e foi coroada rainha dos morros ainda os anos 50 não tinham acabado. “Ao longo das décadas, esta mulher de armas viu-se aplaudida e criticada em igual medida. A BBC descreveu-a mesmo como a voz brasileira do século, em 1999”, lembra a organização do ‘Raízes’.
Elza Soares salva por Caetano Veloso
Na década de 1980 – o ano é incerto -, Elza Soares bateu à porta de um amigo para lhe dizer que ia deixar de cantar. Tinha um filho doente em casa e decidira trocar a música e os concertos por um emprego “longe da noite” que ainda não arranjara para pagar as contas e “salvar o menino”. O amigo, porém, impediu-a de o fazer. O amigo chamava-se Caetano Veloso. “Era como se o lugar dela estivesse desaparecendo do cenário brasileiro. Mas o Brasil não podia fazer isso com ela. O Brasil não podia fazer isso consigo mesmo”, viria a dizer mais tarde o cantor brasileiro.
“A verdade é que ninguém estava preparado para um álbum de uma vida e que literalmente ganhou tudo o que podia ganhar. Um álbum apocalíptico de samba, sujo, experimental, e será apresentado com a banda completa no último dia do Raízes do Atlântico”, ou seja, a 17 de Junho.
Sobre o Festival Raízes do Atlântico
A edição de 2017 do festival Raízes do Atlântico volta a juntar o ‘mundo’ num festival de três dias onde a multiculturalidade, tradição, modernidade se unem num só. Eduardo Jesus, Secretário da Economia, Turismo e Cultura, diz que a edição deste ano do ‘Raízes’ é o cimentar de uma aposta feita pelo Governo Regional desde o ano passado e que se pautou por uma alteração de fundo no festival não só em termos de local e de data, mas também ao nível da produção, que passou a ser da inteira responsabilidade da Direção da Cultura, da direção artística e programação do evento. “Estas mudanças que já começaram a ser operadas em 2016 vieram trazer uma lufada de ar fresco e de modernidade aquele que é o mais antigo festival de world music do nosso país”, salienta.
Regressa a ‘Aldeia do Atlântico’
Para além dos nove concertos programados, a edição 2017 do Festival Raízes do Atlântico voltará a ter, à semelhança do ano passado, actividades promovidas no âmbito da ‘Aldeia do Atlântico’, iniciativa paralela ao festival que também decorre na Quinta Magnólia e que visa sobretudo mostrar a importância da música como Património Cultural Imaterial.
Orientada para a comunidade educativa, mas aberta ao público em geral, a ‘Aldeia do Atlântico’ contará com projetos diversificados que vão desde a valorização e divulgação de instrumentos tradicionais e de peças únicas do nosso patrimônio cultural material e imaterial à realização de ‘workshops’, palestras sobre o cancioneiro tradicional e outras atividades de carácter lúdico e pedagógico que irão pôr em evidência a importância da educação não formal no contexto cultural e artístico.
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