Elisabeth Amorim
Já fui sua escrava, sim senhor.
Hoje quero ser mais livre
Ainda me prendem pela minha cor.
Infelizmente, meu irmão
Sempre há pedra no caminho
Onde está o cadeado dessa corrente?
Para driblar a dor
Do preconceito e da discriminação.
—
Sou negra, sim!
Se quiser, pode sorrir,
E até zombar de mim…
—
Eu faço o meu caminhar
Com garra e carinho.
Se o meu cabelo me incomodar
Quando eu quiser
Posso muito bem o alisar
E andarei como você
Com ele bem lisinho
Correndo das tempestades
Para o penteado não desfazer…
—
Sou negra, sim!
Se quiser, pode sorrir,
E até zombar de mim…
—
Na hora que eu desejar
Deixo meus cabelos ao natural
Mesmo que aos seus olhos preconceituosos
Minha aparência está anormal
Faço o bonde andar.
Finjo que não vejo
O seu dedo a me apontar
Com olhos arregalados
Querendo-me como um produto importado
Para numa vitrine apresentar.
—
Sou negra, sim!
Se quiser, pode sorrir
E até zombar de mim…
—
Quando deixei a senzala
Sabia que não seria fácil
Embrenhei nas cozinhas alheias
Comi o pão que o diabo amassou.
Mas minha voz não se cala
E nem meu sorriso cessou
Negrinha para você eu fui
Negra,
Hoje sou.
—
Apresentava os meus dentes brancos
A cada amanhecer nublado…
Recolhendo o meu pranto.
Para mais tarde sorrir
E dos quartinhos do fundo
Canto,
Encanto.
E como uma colorida mandala
Minha vida se pintou.
—
Negra, sim!
Senhor?!
Que faz aqui?
—
De cota em cota
Aprendi também o bê a bá
Se é o diploma que vale
Posso também ser “doutô”.
E quem sabe um dia
Você poderá notar
A inteligente mulher que sou!
—
Negra, sim!
Negra sou.
Se quiser, pode zombar de mim…
Ou aceitar-me sem temor.
—
Já provei o meu valor
Não acredita que posso ir além?
Ainda vive preso a sua escravidão
Correntes que não são do bem.
Não me olhe como coitadinha
Nem “bonequinha” do vovô
Sou apenas uma mulher.
—
Negra, sim!
Negra, sim, senhor!
Que insiste em dizer não…
Para o machismo dissimulador
E algumas formas de dominação.
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Imagens pertencem a MUHA BAZILA, Projeto Odara. (ARTISTA DA BAHIA), o uso no texto é apenas divulgação da arte disponível na internet, aliás a arte baiana em dose dupla.
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