sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Negra, sim! ( poesia)

Elisabeth Amorim


Já fui sua escrava, sim senhor.

Hoje quero ser mais livre

Ainda me prendem pela minha cor.

Infelizmente, meu irmão

Sempre há pedra no caminho

Onde está o cadeado dessa corrente?

Ultrapasso obstáculos com jeitinho

Para driblar a dor

Do preconceito e da discriminação.


Sou negra, sim!

Se quiser, pode sorrir,

E até zombar de mim…


Eu faço o meu caminhar

Com garra e carinho.

Se o meu cabelo me incomodar

Quando eu quiser

Posso muito bem o alisar

E andarei como você

Com ele bem lisinho

Correndo das tempestades

Para o penteado não desfazer…


Sou negra, sim!

Se quiser, pode sorrir,

E até zombar de mim…


Na hora que eu desejar

Deixo meus cabelos ao natural

Mesmo que aos seus olhos preconceituosos

Minha aparência está anormal

Faço o bonde andar.

Finjo que não vejo

O seu dedo a me apontar

Com olhos arregalados

Querendo-me como um produto importado

Para numa vitrine apresentar.


Sou negra, sim!

Se quiser, pode sorrir

E até zombar de mim…


Quando deixei a senzala

Sabia que não seria fácil

Embrenhei nas cozinhas alheias

Comi o pão que o diabo amassou.

Mas minha voz não se cala

E nem meu sorriso cessou

Negrinha para você eu fui

Negra,

Hoje sou.


Apresentava os meus dentes brancos

A cada amanhecer nublado…

Recolhendo o meu pranto.

Para mais tarde sorrir

E dos quartinhos do fundo

Canto,

Encanto.

E como uma colorida mandala

Minha vida se pintou.


Negra, sim!

Senhor?!

Que faz aqui?


De cota em cota

Aprendi também o bê a bá

Se é o diploma que vale

Posso também ser “doutô”.

E quem sabe um dia

Você poderá notar

A inteligente mulher que sou!


Negra, sim!

Negra sou.

Se quiser, pode zombar de mim…

Ou aceitar-me sem temor.


Já provei o meu valor

Não acredita que posso ir além?

Ainda vive preso a sua escravidão

Correntes que não são do bem.

Não me olhe como coitadinha

Nem “bonequinha” do vovô

Sou apenas uma mulher.


Negra, sim!

Negra, sim, senhor!

Que insiste em dizer não…

Para o machismo dissimulador

E algumas formas de dominação.

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Imagens pertencem a MUHA BAZILA, Projeto Odara. (ARTISTA DA BAHIA), o uso no texto é apenas divulgação da arte disponível na internet, aliás a arte baiana em dose dupla.

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