O título é relevante menos pela pompa do que por significar uma mudança na forma como Marighella é compreendido pela cidade naqual foi morto, em 1969, numa ação policial - a responsabilidade do Estadopor sua morte foi reconhecidaem 1996 pela Comissão de Anistia do governo federal. Inimigo nº 1 do regime militarhá 40 anos, o baianoMarighella recebeu tratamento de herói na sessão solene, depois que o decreto legislativo que lhe concedeu o título de cidadão paulistano foi aprovado sem resistência, por unanimidade, nas comissões e no plenárioda casa.Pego de surpresa - o combinado era que não falasse , o crítico literário Antonio Candido, 91, subiu àtribuna e discursou: "Marighella entrou para a história." Sua figura, avalia, desprendeu-se das posiçõesque tomou durante sua militância. Para Candido, dessa forma,deixou de representar a liderança deste ou daquele grupo, para se tornar a imagem de "um brasileiro que transcendeu as contingênciase é herói da nossa história".Marighella era o líder da Ação Libertadora Nacional quando ,numa emboscada armada pelo delegado SérgioParanhos Fleury, foi assassinado pelas forças policiais, em 4 de novembro de 1969. Aloysio Nunes Ferreira, que foi integrante do grupo, não falou durante a cerimônia, mas citou Antonio Candido, ao final do evento, para afirmar que Marighella simboliza a"rebelião contra a tirania".
Inimigo nº 1 há 40 anos, o baiano Marighella é homenageado como Carlos Marighella nasceu em Salvador (BA). Sua primeira prisão ocorreu em 1932,quando, militante do Partido Comunista, escreveu um poema com críticas ao interventorno Estado, Juracy Magalhães. Ao sair da prisão, mudou-se para o Rio. Em1936, voltou a ser preso, numa manifestaçãode 1º de maio. Voltaria a ser preso durante oEstado Novo, em 1939. Com o fim da Segunda Guerra e a redemocratização do país, foi eleito deputado federal - os comunistas liderados porLuís Carlos Prestes tiveram uma atuação destacada na Constituinte de 1946. O PCB seria recolocado na ilegalidade em1948, durante o governo Dutra (1946-1950), eseu mandato foi cassado. Marighella seguiu millitando no PCB e, nos primeiros meses daditadura militar, chegou a ser baleado, ao resistir à prisão.Em 1967, após uma viagem clandestina aCuba, rompe com o PCB. Viaja pelo país paraorganizar a ALN, que organiza ações deguerrilha urbana. É a ALN que executa, junto com o MR-8 (Movimento Revolucionário 8 deOutubro), sob o comando de Joaquim CâmaraFerreira, o sequestro do embaixador norte americano Charles Elbrick, a ação de maior repercussão internacional da resistência armada à ditadura militar brasileira.Marighella também é autor de alguns livros, entre eles o "Mini manual do guerrilheiro urbano". Clara Charf, companheira de Marighella, afirmou que Marighella, filho de mãe negra e pai imigrante, foi extremamente "anti-racista e feminista", "quando ainda não se usava essa palavra"."Quando mataram Marighella", disse o presidente da Comissãode Anistia do Ministério daJustiça, Paulo Abrão, "queriam matar o socialismo, a crença na justiça social e na igualdade"."Quiseram também que o esquecêssemos, o estigmatizaram como inimigo do povo."
O filho de Carlos Marighella,Carlos Augusto Marighella, lembrou o dia em que recebeu,via telefoto, um sistema de transmissão analógica, a imagem do pai morto, que foi reconhecendo aos poucos.O pai foi enterrado, contrariando pedido da família, antes que ele chegasse, partindo de São Paulo, a Salvador. Só dez anos mais tarde, com a anistia, em 1979, o corpo foi transladado e ganhou um túmulo em Salvador.
Fonte Haroldo Ceravolo Sereza
Do UOL Notícias
Em São Paulo
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