quinta-feira, 12 de novembro de 2009

O Gênio August Rodin e Os Burgueses de Calais

Calais é uma cidade no litoral da França que fica no ponto mais estreito do Canal da Mancha, aquele que separa a Inglaterra do continente Europeu. Do outro lado, o britânico, fica Dover. Antes do Eurotúnel, se você quisesse ir da França até a Inglaterra, tinha que pegar o barco em Calais.

É claro que essa localização estratégica meteu a cidade em várias broncas através dos séculos. E uma delas foi na Guerra dos 100 anos, lá nos anos mil e trezentos. É de lá que vem a história dos Burgueses de Calais.

Eduardo III, rei da Inglaterra, cercou a cidade e o rei da França, Felipe VI, disse para o pessoal segurar o tranco a qualquer custo. Só que o Felipão não conseguiu liberar a cidade e a fome instalou-se entre os habitantes de Calais.

Foi então que o rei Eduardo propôs o seguinte: entreguem-me seis dos homens mais importantes da cidade que eu livro a cara do povo. Minhas condições: que eles venham até mim com o mínimo de roupas, que tenham cordas no pescoço e que carreguem as chaves da cidade e do castelo de Calais.

Um dos mais ricos habitantes da cidade, Eustache de Saint Pierre, foi o primeiro a ser voluntário e outros cinco burgueses prontamente o seguiram.

Resumo da ópera: a rainha da Inglaterra, que estava grávida, achou que seria de mau agouro executar os seis burgueses e pediu para o marido poupar os franceses em nome do filho que estava por nascer.

Em 1888, Auguste Rodin, o famoso escultor francês, foi convidado pelo prefeito de Calais a executar uma escultura em homenagem aos seis burgueses. A obra original está na cidade, mas há cópias em diversas praças e museus do mundo. As imagens que você vê são da instalação que existe no Victoria Tower Gardens, ao lado do Parlamento inglês em Londres.

O mais bacana desta escultura é a representação desprovida de heroísmo que Rodin fez de seis homens poderosos. A face de cada um reflete o desespero da situação, as roupas e as cordas deixam suas figuras frágeis e impotentes frente ao destino trágico que acaba não acontecendo.

Pois é. Toda a vez que eu leio alguma coisa sobre a crise mundial eu penso nos Burgueses de Calais. E vejo muitas lições a serem aprendidas. O rei que cerca é o mercado financeiro, que exige um sacrifício. O povo está lá, na berlinda e embarricado, esperando que alguém tome uma atitude e que, pelo amor de deus, o rei que manda segurar as pontas não exija mais nada dele. Se não vai aparecer ninguém para fazer o papel dos Burgueses, pelo menos que surja uma outra Philippa de Hainault, a rainha grávida, que ache de muito mau agouro jogar mais essa fatura na conta do povo de Calais.

Desde o dia 26/11/2009 até 2012, 62 peças originais de Auguste Rodin (1840-1917), o mais genial e importante escultor da idade contemporânea, estão à disposição do público no Palacete das Artes.

Palacete das Artes Rodin Bahia


Rua da Graça, 284,
Tel : 3117-6983

Salvador, BA

Nenhum comentário:

AS MAIS ACESSADAS

Da onde estão acessando a Maria Preta