É claro que essa localização estratégica meteu a cidade em várias broncas através dos séculos. E uma delas foi na Guerra dos 100 anos, lá nos anos mil e trezentos. É de lá que vem a história dos Burgueses de Calais.
Eduardo III, rei da Inglaterra, cercou a cidade e o rei da França, Felipe VI, disse para o pessoal segurar o tranco a qualquer custo. Só que o Felipão não conseguiu liberar a cidade e a fome instalou-se entre os habitantes de Calais.
Foi então que o rei Eduardo propôs o seguinte: entreguem-me seis dos homens mais importantes da cidade que eu livro a cara do povo. Minhas condições: que eles venham até mim com o mínimo de roupas, que tenham cordas no pescoço e que carreguem as chaves da cidade e do castelo de Calais.
Um dos mais ricos habitantes da cidade, Eustache de Saint Pierre, foi o primeiro a ser voluntário e outros cinco burgueses prontamente o seguiram.
Resumo da ópera: a rainha da Inglaterra, que estava grávida, achou que seria de mau agouro executar os seis burgueses e pediu para o marido poupar os franceses em nome do filho que estava por nascer.
Em 1888, Auguste Rodin, o famoso escultor francês, foi convidado pelo prefeito de Calais a executar uma escultura em homenagem aos seis burgueses. A obra original está na cidade, mas há cópias em diversas praças e museus do mundo. As imagens que você vê são da instalação que existe no Victoria Tower Gardens, ao lado do Parlamento inglês em Londres.
O mais bacana desta escultura é a representação desprovida de heroísmo que Rodin fez de seis homens poderosos. A face de cada um reflete o desespero da situação, as roupas e as cordas deixam suas figuras frágeis e impotentes frente ao destino trágico que acaba não acontecendo.
Pois é. Toda a vez que eu leio alguma coisa sobre a crise mundial eu penso nos Burgueses de Calais. E vejo muitas lições a serem aprendidas. O rei que cerca é o mercado financeiro, que exige um sacrifício. O povo está lá, na berlinda e embarricado, esperando que alguém tome uma atitude e que, pelo amor de deus, o rei que manda segurar as pontas não exija mais nada dele. Se não vai aparecer ninguém para fazer o papel dos Burgueses, pelo menos que surja uma outra Philippa de Hainault, a rainha grávida, que ache de muito mau agouro jogar mais essa fatura na conta do povo de Calais.
Desde o dia 26/11/2009 até 2012, 62 peças originais de Auguste Rodin (1840-1917), o mais genial e importante escultor da idade contemporânea, estão à disposição do público no Palacete das Artes.
Palacete das Artes Rodin Bahia
Rua da Graça, 284,
Tel : 3117-6983
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